O olhar sonhador dos irmãos gêmeos ganhou vida no ano de 1974, quando se encontraram, no mundo real, pela primeira vez. Porém, eles parecem já ter vivido juntos em algum outro lugar, pois, quando Otávio (o segundo a nascer) tinha apenas três anos, surpreendera sua mãe, Margarida, com uma história, no mínimo, interessante: “mãe, posso contar uma história? Eu e o Gustavo vivíamos em um lugar muito longe daqui, um lugar muito bonito. Um dia ele quis sair de lá. Eu não queria, não. Mas, tive medo de ficar sozinho e agarrei na mão dele para sair”.
“Acreditamos em Tritrez”, diz Otávio; “É o nosso universo paralelo”, completa Gustavo. Neste mundo vivido apenas pelos irmãos, personagens amarelos habitam seus sonhos e servem de inspiração para suas criações. Colorindo suas ideias na cidade, a arte foi um meio que encontratam de materializar este universo, onde cada parte e cada detalhe está mergulhado na fantasia e realidade que envolvem suas imaginações.
Quando crianças, eram fascinados por desenhos animados, o que também serviu de muita influência para os primeiros traços. Montavam seus próprios brinquedos, “muito do gosto pela arte vem daí. Se quiséssemos jogar botão, fazíamos o campo, por exemplo. A gente já produzia escultura e não sabia”, revela Gustavo. Ainda na infância, os lápis coloridos já faziam parte de suas rotinas, espalhados pela casa. Ambos desenhavam na mesma folha de papel e quando não, escolhiam o mesmo tema para desenhar, “isso de trabalhar junto sempre foi natural. É como se um complementasse a ideia do outro”, fala Gustavo.
No ano de 1986, aos 12 anos, os irmãos conheceram o grafite, com a influência da cultura hip hop, “a pluralidade e complexidade das manifestações artísticas despertaram nosso interesse. Tem a dança, a pintura que é o grafite, os DJs e a música que é o rap”, afirma Gustavo. Com tintas de carro, látex, spray, bicos de desodorante e perfume para moldar seus traços, improvisavam e inventavam sua própria linguagem.
Na estação de metrô São Bento, aos sábados, os irmãos costumavam se encontrar com os amigos para dançar e conversar, trocar informações sobre o hip hop. Lugar onde também ganharam o apelido de “OsGêmeos”. “A primeira pessoa a nos chamar assim foi o DJ Hum, parceiro do Thaíde, um dos primeiros cantores de rap de São Paulo”, diz Otávio.
Mas a vida como artistas plásticos com o estilo já completamente maduro aconteceu por volta de 1995, quando decidiram deixar de lado as raízes americanas inspiradas no hip hop para desenvolver uma linguagem própria, “foi algo no sentido de achar as respostas para o porquê de a gente desenhar”, diz Otávio. E este também foi o momento em que imergiram completamente em Tritrez, “é um universo que encontramos e onde nos sentimos muito confortáveis. A gente vê esse mundo e transforma em desenho, se conecta a ele para criar. É como se fosse um lugar paralelo ao mundo caótico real”, afirma Otávio.
Pouco tempo depois, em Munique (Alemanha), à convite de Loomit - grande nome do mundo da arte de rua- que descobriu a dupla brasileira em uma revista internacional sobre o tema, a dupla embarcou em uma viagem pelo mundo realizando projetos em parceria com outros artistas e, finalmente, em 2003, realizaram a primeira exposição solo na galeria Luggage Store, em São Francisco.
Em países como Estados Unidos, Espanha, Portugal, Grécia, Brasil e Chile, é comum deparar-se com suas obras - de até 6 metros de altura - ao sair do metrô, caminhar pela calçada ou olhar pela janela do carro.
Oito anos se passaram desde a primeira exposição própria, e se hoje os irmãos Gustavo e Otávio são referência no mundo da arte, não é por acaso. Suas criações são trabalhadas de uma forma tão delicada que um universo de detalhes se abre perante os olhos: a face, a posição dos braços e até mesmo as estampas das roupas dos personagens estão cravados de expressões que dão uma riqueza inestimável às obras, que são como janelas da alma, única entre os dois irmãos. Uma mistura de harmonia, realismo, racionalidade e ficção; parte do universo lírico e criações que por si só parecem criticar com os olhos toda a discrepância de nossa sociedade, “não dá para ficar quieto, fechar o vidro do carro, ligar o som e esquecer o que está em volta. O papel do artista é de fazer as pessoas fugirem das chateações do dia a dia, mas ao mesmo tempo é também de alertá-las”, explicam.
Confira na galeria abaixo as principais obras d'OsGêmeos no Brasil e no mundo:
Instituto de Arte Contemporânea - Gigante de Boston e Greenway
Os grafiteiros foram convidados pelo Instituto de Arte Contemporânea em Boston para pintar um mural e participar de sua primeira exposição solo no ICABostom.
Vancouver Biennale
OSGEMEOS participam da Vancouver Biennale, que acontece entre 2014 e 2016, com um mural de 360º, 20m de altura e mais de 2.000 m². A proposta da Bienal tem uma forte conexão com esculturas e, por isso, os artistas optaram por um espaço no qual a pintura pudesse se transformar, criando um diálogo entre os mundos bidimensional e tridimensional, levando os personagens para dividir culturas e estabelecer conexão com as pessoas que frequentam a região.
A Ópera da Lua
A mostra Ópera da Lua aconteceu em São Paulo e teve 30 óbras inéditas, apresentadas em um ambiente imersivo, onde o universo narrativo de OSGEMEOS ganhou uma nova dimensão.
Colaboração OSGEMEOS e Gol Linhas Aéreas Inteligentes
Em colaboração com a agência 9ine e a GOL, surgiu a ideia de poder levar a arte para as pessoas em um suporte completamente diferente do convencional e num formato peculiar. OSGEMEOS decoraram um avião que transportou a seleção na Copa do Mundo de 2014.
Mural Av. 23 de Maio junto com grafiteiros Nunca, Nina Pandolfo, Finok e Zefix
Em 2002, em parceria com Nina Pandolfo, Herbert Baglione e Vitché, OSGEMEOS haviam grafitado este mesmo muro. No entanto, em 2008 a Prefeitura de São Paulo apagou o mural pela lei Cidade Limpa.
OSGEMEOS, mais uma vez sem o apoio da Prefeitura, pintaram a alça de acesso de 680 metros, dessa vez com Nina, Nunca, Finok e Zefix. Cada artista se responsabilizou por uma parte da obra que, juntas, fazem parte de um mesmo contexto.
The Graffiti Project - Colaboração OSGEMEOS, Nina Pandolfo e Nunca
À pedido dos filhos David e Alice, Lord Glasgow Patric Boyle convidou três artistas brasileiros para pintar a fachada e o teto de seu castelo Kelburn, de 800 anos, localizado na Escócia.
O projeto deveria ser temporário, mas o Lord conseguiu sua permanência com a Historic Scotland, tendo em vista que se tornou um ponto turístico, assim como referência na carreira dos grafiteiros.
O peixe que comia estrelas cadentes
A Galeria Fortes Vilaça apresentou a primeira mostra individual de OSGEMEOS no Brasil, cuja fachada se transformou numa enorme cabeça convidando o público a entrar no mundo imaginário dos irmãos.
Pra quem mora lá o céu é lá
Essa exposição aconteceu em Portugal, onde os artistas transformaram o ambiente do museu em um espaço paralelo, mudando completamente a visão do público. O novo ponto de vista era repleto de portas, janelas e casas que remontavam a realidade de forma onírica.
Don't believe the hype
O mural foi parte de um projeto para o qual OSGEMEOS foram convidados a realizar no Museu de Arte Contemporânea em San Diego.
Vertigem
"Vertigem" foi a primeira mostra de museu intinerante de OSGEMEOS, que esteve em quatro cidades do Brasil - Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 3 Mar 2015.