Em cartaz no Teatro Tuca, a Peça Vermelho faz um recorte da vida e obra do consagrado gênio das artes plásticas Mark Rothko. Ele ganha vida pela interpretação do mestre da atuação Antônio Fagundes, que divide o palco com seu filho, Bruno Fagundes.
O espetáculo se passa no final dos anos 50, quando o icônico pintor (líder do Expressionismo Abstrato) recebeu um convite para pintar grandes painéis de um luxuoso restaurante em Nova York e recebeu uma quantia quase inestimável para a época (o equivalente hoje a 10 milhões de dólares). Um encontro cheio de nuances entre mestre e aprendiz, com arte, reflexão e questionamento, é o plano de fundo em meio ao cenário repleto de detalhes, com preparo de tintas e quadros pintados durante a sessão.
Na peça, em seu ateliê em Nova Iorque, Rothko recebe, pela primeira vez, seu novo assistente, e pergunta “O que você vê?“ (apontando para uma das pinturas em que trabalhava). A partir disso, inicia-se um eletrizante embate entre os dois. Conceitos artísticos entre as gerações, diferentes bagagens culturais e o mesmo amor pela arte são alguns dos objetos em cena.
Pensando em sua vida e obras extremamente interessantes, o Guia da Semana lista 9 curiosidades que você precisa saber sobre Rothko. Confira:
ORIGEM
Mark Rothko foi um pintor norte-americano que mudou-se da Rússia para os Estados Unidos com sua família quando tinha dez anos. Nascido na Letônia, como Marcus Yakovlevich Rothkowitz, com medo de que a influência nazista crescente na Europa provocasse a deportação de judeus americanos, Rothko conseguiu a nacionalidade americana e adotou o nome Mark Rothko.
ESTUDOS E INICIAÇÃO NAS ARTES
Morando em Portland com a família, estudou no Lincoln High School de Portland e depois na Universidade Yale. Após os estudos, tornou-se professor de desenho para crianças e, alguns anos depois, fundou a Artist Union de Nova York.
PERSONALIDADE
Segundo amigos e familiares, Rothko tinha uma natureza difícil. Profundamente ansioso, podia ser também extremamente afetuoso. Intelectual e extremamente culto, amava música e literatura. Tinha grande interesse por filosofia e, em especial, pelos escritor de Nietzche e pela mitologia grega.
CARREIRA
Foi nos anos 1950 que sua carreira deslanchou, com o empurrão do colecionador Duncan Philips, que comprou vários quadros e, após uma longa viagem do pintor à Europa, consagrou uma sala inteira a sua coleção (um sonho de Rothko, que desejava que os visitantes não fossem perturbados por outras obras).
ESTILO
Rothko passou pelo expressionismo abstrato e pelo surrealismo, mas desenvolveu uma forma única de pintar. Definida pelo crítico Clement Greenberg como Colorfield Painting, é compreendida como uma forma mediativa de pintar, uma pintura do campo de cor.
Em suas telas, ele se exprime exclusivamente por meio da cor em tons indecisos, em superfícies moventes, às vezes monocromáticas e às vezes compostas por partes diversamente coloridas. Ele atinge assim uma dimensão espiritual particularmente sensível.
Para não especialistas, suas telas parecem profetizar o surgimento das páginas Web, só que em dimensões maiores que a parede de nossas residências.
CASAMENTO
Rothko casou-se Edith Sachar em 1932 e separou-se em 1937, logo após o sucesso da esposa no ramo de joias deslanchar. Segundo pessoas próximas do artista, ele se sentia ameaçado por seu desempenho financeiro.
INFLUÊNCIA DE NIETSZCHE
O envolvimento de Rothko com a filosofia era claro e intenso. Entretanto, um livro, em especial, foi extremamente importante para o desenvolvimento de seus próprios pensamentos e, consequentemente, a influência em suas obras: "O nascimento da tragédia", de Nietzsche.
Influenciado, tentava dirigir-se às exigências da espiritualidade do homem moderno e às exigências criativas mitológicas, clamando que a tragédia é uma tentativa humana de compensar os terrores de uma vida mortal e, por isso, era a única fonte da arte.
Assim, os objetivos artísticos modernos deixaram de ser importantes e relevantes para Rothko, que passou a colocar como finalidade em suas telas o ato de aliviar o vazio espiritual, reconhecendo o estético necessário para a liberação das energias inconscientes, precedentemente liberadas pelas imagens, símbolos e rituais mitológicos.
RELAÇÃO COM SUAS OBRAS
Durante uma carreira que durou cinco décadas, ele criou uma nova e apaixonada forma de pintura abstrata. No entanto, ele se recusou a considerar suas pinturas apenas nestes termos, e explicou: "é uma noção amplamente aceita entre os pintores que não importa o que se pinta enquanto ele está bem pintado. Esta é a essência do academicismo. Não existe tal coisa como boa pintura sobre nada".
Radiante e escura, a arte de Rothko é distinguida por um raro grau de concentração sustentada na cor, superfície, proporção e escala, acompanhados pela convicção de que esses elementos podem revelar a presença de uma verdade filosófica alta. Com elementos visuais, como luminosidade, escuridão, espaço amplo, e o contraste de cores, é associado, pelo próprio artista e também pelos críticos, a temas profundos como a tragédia e o sublime.
O pintor era conhecido por ser um homem "chato" com suas obras. Diferente de muitos artistas, Rothko dizia que fazia telas enormes porque o espectador deveria se sentir dentro das obras e dar-se um tempo para que pudesse interpretá-las, inconscientemente, e deixar que isso tomasse conta de seus sentimentos.
Entretanto, engana-se quem pensa que ele simplesmente as pintava. Para ele, a luz e a distância da tela era crucial para a compreensão de suas criações. Assim, exigia que os lugares que abrigavam suas telas cumprissem um padrão de exigências, fazendo com que a negociaçao de vendas e encomendas de suas obras durassem anos.
DOENÇA E SUICÍDIO
Meio ao desenvolvimento de suas idéias sobre a pintura, Rothko, já reconhecido por suas obras, teve sua produção interrompida por um aneurisma, doença que impedu que continuasse a pintar grandes telas, como gostava. Em 1970, em meio a uma depressão, Rothko cometeu suicídio.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 16 Ago 2016.