A peça Buda foi extraída da narrativa do livro homônimo do escritor indiano Deepak Chopra e também de Sidarta, escrita por Hermann Hesse. Idealizada pelo Grupo Ethos Teatral, que reúne 14 atores e explora uma linguagem simbólica e impressionista, o espetáculo ficará em cartaz até 29 de maio, aos domingos, na Praça Roosevelt.
Com direção de Lúcia de Léllis, a peça mostra a trajetória de Buda, desde quando era um jovem príncipe buscando seu verdadeiro destino até alcançar a iluminação, mudando o mundo para sempre com seus ensinamentos. Quando Sidarta (Pablo Calazans) nasce, os astrólogos preveem que ele dominará os quatro cantos do mundo. Mas, na verdade, ele pode cumprir a profecia de duas maneiras: tornando-se um grande rei ou aprendendo a governar sua própria alma.
Mesmo depois de casado, o príncipe descobre que vive numa prisão, um reino de fantasia criado por seu pai Suddodhanna (Rogério Santos), para que ele nunca tivesse contato com a dor e a miséria e, assim, não desejasse acabar com o sofrimento humano, mas é Channa (Betto Pitta), seu melhor amigo, quem mostra o verdadeiro mundo. O príncipe decide então abandonar o luxo do palácio, enfrentando provações de Mara, o oposto de Buda, representado por um coro, formado por quatro atrizes, entre elas, Camila Aires.
O Grupo Ethos tem como foco trabalhar com teatro experimental. Suas montagens têm forte influência na linha de pesquisa mítica, explorando os aspectos de autotransformação do ser humano e a busca da individuação. Buda segue essa linha, trazendo uma visão bastante peculiar do Grupo, que leva o espectador a refletir sobre a importância do olhar interior.
A adaptação de Buda tem elementos simbólicos e as vivências do grupo levam os estudos da diretora e a linguagem mítica como instrumentos para a construção do personagem, o que cria uma atmosfera para explorar o que há de melhor nos atores. De acordo com Lúcia de Léllis, cada um tem a reflexão sobre o espetáculo com seus olhos. "É preciso conduzir o ator para enxergar elementos da imaginação do diretor, mostrar caminhos por meio de experimentações, sem impor", disse a diretora, enfatizando a livre adaptação da peça por todos do grupo.
Dessa forma, o processo de criação e adaptação foi feito por relatos da vivência dos integrantes do grupo até chegar à conclusão do roteiro da peça, método usado por Constantin Stanislavski, que deixou seus relatos e experiências como ator e diretor para podermos aprender a fazer uma análise ativa das ações físicas propostas pelos atores. Por experiência própria, pela leitura dos relatos depois do processo é possível avaliar o crescimento como artista e pessoa.
A caracterização dos personagens é baseada na cultura indiana e traz uma carga de sentimentos complexos, conflituosos, principalmente entre Buda e seu pai, que não admite derrotas. Os deuses Shiva (Vanessa Correa) e Krishna (Cris Bortoletto) mostram toda a simbologia da cultura oriental, por meio das expressões corporais.
Um dos recursos cênicos foi aproveitar as possibilidades do palco: os atores surgem e somem de todas as entradas e saídas. Isso dá um ritmo ao espetáculo e permite aguçar a imaginação da plateia com a pergunta que todos fazemos: "como é feito isso?", principalmente quando entra o Balseiro (Dawton Abranches) para aconselhar Sidarta. Uma das cenas mais comoventes da peça é quando Dedadatta (Sandro Santos), primo invejoso de Sidarta, estupra e mata Sujata (Olivia Niculitcheff), por pura maldade. Nesta cena, a atriz usa toda sua expressividade corporal, enquanto o ator come uma maçã de forma voraz, simbolizando a morte de Sujata. Aproveito para registrar nesse espaço a necessidade de uma reforma na sala "Sátyros II", na Praça Roosevelt. Não sei quem, nem como poderia acontecer, mas não precisa ser especialista pra ver o que vi.
Leia as colunas anteriores de Mônica Quiquinato:
A Bomba e o Beijo
A ética no teatro
A emoção em atuar
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O que faz: Mãe, jornalista e especialista em Comunicação Jornalística. Atualmente estuda teatro no Macunaíma.
Pecado gastronômico: Churrasco.
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Atualizado em 10 Abr 2012.