Quem olha Andrey Rossi, um jovem de apenas 28 anos, de fala tranquila e com um leve sotaque interiorano, nem imagina todas ideias que inspiram suas obras de arte. Ele tem obras em grandes acervos institucionais, como o do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e em importantes coleções particulares, como na "Gilberto Chateaubriand", e "Coleccion Gomez Porsche", em Buenos Aires, na Argentina. Sempre em processo e se alterando conforme as necessidades, ele diz que "todo ser humano tem capacidade de sonhar e criar. Porém, para o artista não basta sonhar, é preciso materializar, colocar para fora... É uma questão de necessidade".
Seu primeiro contato com a arte foi ainda na infância, na escola onde estudava. E através de uma professora, seus pais passaram a observar com mais atenção o quanto gostava de desenhar e, assim, começaram a incentivá-lo e motivá-lo. "A primeira grande exposição que eu vi foi "Renoir", no MASP e fiquei completamente encantado com aquele universo pictórico", lembra.
O tempo passou, Andrey estudou Artes Plásticas e logo após a graduação, além de dedicar-se a produção, focou em editais, salões e, assim, teve a oportunidade de conhecer pessoas, expor seu trabalho e ganhar alguns prêmios aquisitivos. Porém, a sede pela arte não parou por aí e o jovem continuou a estudar; cursou pós-graduação em Discurso e Leitura de Imagem, tem mestrado em Artes Visuais e faz parte dos artistas representados pela OMA | Galeria.
Assim, para que você conheça mais a história dele, que é uma das promessas de novos talentos da atualidade, o Guia da Semana divulga a entrevista realizada sobre seu trabalho, cheia de curiosidades. Confira:
Você tem alguma influência? Algum artista contribuiu para seu crescimento profissional?
Essa pergunta é sempre complexa para se responder. Na verdade, as referências vêm de inúmeros lugares, por exemplo, literatura, cinema, história da arte, imagens do cotidiano, de uma boa conversa de boteco, é que eu já tenho objetos de reflexão que chamam a minha atenção e tais objetos dentro dos universos de conhecimento citados sempre estão relacionados com aquilo que me atrai.
O que quer passar com o seu trabalho? Qual a intenção por trás de cada criação?
Meu trabalho, acredito que reflete um pouco do pessimismo sobre a existência do homem, pois todo ser vivo é refém do seu corpo. O homem é prisioneiro dentro de um saco de carne, ossos, vísceras e sangue, sendo ela bela ou feia, segundo o ideal estético da cultura em que vive. Portanto somos prisioneiros dentro desta carcaça, que, com o tempo, vai se definhando e, durante este percurso, pode sofrer agressões bruscas, como amputações e deformidades. Enfim, a questão é uma reflexão da dialética do conceito de monstro, que caminha em uma linha tênue entre a vida e a morte. A ideia de poder manipular homem e animal me encanta.
Eu busco causar alguma sensação no espectador, pode até ser uma sensação mínima. O interpretante pode gostar ou odiar, o importante é que não seja indiferente.
É possível viver de arte? Qual o maior desafio?
Sim, é possível, mas é extremamente difícil. O desafio é você conseguir conquistar espaço, existem poucas galerias para muitos artistas. Não é como um trabalho comum, em que o artista faz uma entrevista de emprego para ingressar no quadro de uma galeria. As oportunidades são mínimas e a opção mais interessante são os editais, onde o artista pode mostrar seu trabalho e ter ajuda financeira.
Fale sobre alguns dos projetos que já realizou
Eu sempre planejo o que pretendo conseguir realizar ano a ano. Felizmente eu tive oportunidades de participar de exposições em importantes espaços, como MAM – RJ, em salões de arte em diversas cidades, fazer exposições individuais em instituições e galerias, participar de mostras no exterior em países como França, EUA, Finlândia, e dar continuidade com minha carreira acadêmica.
Tem algum tipo de ritual para começar a criar?
Eu não tenho ritual, e também não espero a inspiração, simplesmente começo a fazer e a coisa toda vai fluindo.
Como você consome arte?
Bom, eu consumo arte, em exposições, cinema, na internet, conversas com amigos, em leituras.
Na sua opinião, o Brasil valoriza os artistas como deveria?
Alguns sim, outros mais do que deveria, e alguns que deveria não são valorizados. O problema é que o Brasil é um país instável com grandes artistas consagrados e com artistas com grande potencial, mas sem mídia. Com a nossa realidade econômica, não existe espaço para todos os artistas, e em momentos de crise, a cultura é a primeira a sofrer cortes.
Tem alguma dica para quem sonha em viver de arte e ainda não sabe por onde começar?
Bom, eu diria para não desanimar o "não". Insista bastante e estude. Os editais e salões são um bom começo. Viver de arte não é apenas querer e gostar, é uma necessidade de espírito.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 24 Fev 2016.