Por Guilherme Udo
O diretor de teatro Felipe Hirsch crê que os únicos que têm interesse em ler as críticas são os próprios artistas, criando um círculo vicioso no qual o jornalista escreve para o ator ler. O pensamento sintetiza a relação entre críticos, artistas e leitores e foi proferida durante o no 3º Congresso de Jornalismo Cultural, em debate com o colega de profissão Marco Antonio Rodrigues e o crítico teatral Jefferson Del Rios, com mediação do jornalista e ator Oswaldo Mendes. O evento ocorreu no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, e a afirmação leva a uma análise da produção textual atual sobre teatro no país.
A era dos grandes escribas conhecidos pelo público e que analisavam a arte da interpretação já está distante. Hoje, poucos críticos são conhecidos, como é o caso de Barbara Heliodora, que escreve para O Globo. Com a proliferação de blogs na internet, todos podem dar sua opinião sobre montagens em cartaz no país. Assim, os textos publicados nas editorias de cultura dos jornais parecem ser somente para que o próprio artista leia, como coloca Hirsch.
Poucos realmente se interessam por ler aqueles textos longos apresentados por nomes, muitas vezes desconhecidos, sobre uma peça em cartaz. Cada vez mais, para o público - e não só para a parcela jovem dele -, o interessante é procurar alguém que tenha um perfil parecido com o seu na rede mundial de computadores e ler opiniões desta pessoa sobre produções teatrais.
Em textos escritos em um tom mais informal, a pessoa pode descobrir detalhes da montagem, a qualidade do texto e da interpretação e até se vale realmente a pena sair de casa para conferir aquele espetáculo. E nem por isso o leitor leva em conta em sua decisão um texto sem argumentos. O que mudou foi a linguagem e a forma como ele se relaciona com os produtos culturais.
É claro que ainda há espaço para textos mais complexos - e a internet também está repleta deles. O interessante é pensar em como reinventá-los para que fiquem atraentes para um número maior de pessoas. Falar sobre o trabalho corporal de um determinado ator para atingir um nível de excelência em uma interpretação é interessante, mas pode ser mais saboroso se tratado como curiosidades a respeito da montagem.
Por Guilherme Udo
Atualizado em 10 Abr 2012.