Guia da Semana

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A professora Elena Serrador, 76 anos, comanda uma turma feminina de dança

A última pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que o Brasil tinha, em 2010, cerca de 14 milhões de pessoas com mais de 65 anos, que representam em média 8% da população total do país. Isso significa que o brasileiro tem vivido mais. E a máxima de que 'quem canta seus males espanta' pode até ser verdade, mas para eles a dança é a verdadeira terapia e uma ótima oportunidade de mandar para longe o marasmo e o tédio.

A turma da terceira idade passou a ter conhecimentos sobre várias áreas e muito mais contato com tecnologia. Isso oferece vantagens que contribuem para que a vida pós 60 seja muito mais ativa. Composta em grande parte composta por aposentados, com filhos já encaminhados e uma situação financeira regular, a também chamada 'melhor idade' não enfrenta os compromissos e as neuras que os mais jovens têm em suas rotinas. Portanto, hoje viajam, praticam esportes, cuidam muito mais da saúde e fazem atividades que contribuem com a autoestima e a qualidade de vida, como, por exemplo, a dança.

Mexa o esqueleto

Por meio de expressões corporais, os idosos têm se exercitado e, de quebra, ocupado o tempo livre com encontros entre amigos da mesma idade e atividades que estimulam a mente e o corpo. A professora de dança Elena Serrado, 67, dá aulas há 30 anos e atualmente comanda turmas apenas com mulheres. Ela afirma que o momento em que está com as alunas é uma hora só delas, tanto que pede que desliguem celulares, deixem os problemas de lado e se concentrem apenas nos movimentos. "Não existe idade certa para fazer. A aula começa com um aquecimento, em seguida alongamento e depois a dança. Faço com que elas usem bastante o quadril, ombros. Monto uma coreografia que é ensaiada por semanas e isso ajuda a trabalhar a memória", comenta.

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Além de ajudar a cuidar da saúde, a dança contribui para o bem-estar dos idosos

As aulas acontecem em média três vezes por semana e duram em torno de uma hora e meia. A idade das participantes vai de 45 aos 75 anos, como é o caso de Maria Alice Cárdia, 71, que começou a dar suas primeiras requebradas aos 15 e deixou a dança para se dedicar ao trabalho e a família. Depois de quarenta anos afastada, há dois meses voltou à escola de Elena Serrado e pretende melhorar os passos a cada aula. "Não consigo fazer os mesmos movimentos de antes. A cabeça até sabe, mas o corpo não acompanha mais. Hoje a dança é um hobby. Faz bem para a cabeça e corpo. É uma hora só minha. Espero dançar até quando eu puder e aperfeiçoar os passos e as coreografias", ela diz.

Passo maduro

O som que embala as aulas varia: desde rock, hip hop, samba, discoteca, sertanejo e por aí vai. A professora comenta que não costuma repetir as atividades e principalmente as músicas. "A sonoridade envolve todos os alunos. Vai fluindo. Não existe essa de pirueta, movimentos clássicos, pulos, saltos. É mais livre. Cada uma tem o seu tempo e sempre digo para não passarem dos seus próprios limites. Quem tem alguma restrição dá uma parada, respira fundo e depois continua. Não pode ter vergonha e o principal é se deixar levar", aconselha Elena.

A aposentada Judith Caggiano, 80 anos, que o diga. Além dos três filhos, cinco netos e seis bisnetos, carrega outras marcas em sua vida: as 52 tatuagens e os 23 piercings. Ela não abre mão da dança e é um exemplo de que a vida é pra ser vivida, literalmente. Considerada a vovó mais moderna do Brasil em um programa de TV, foi casada por 51 anos e teve uma relação muito reservada com o marido. Depois que ele faleceu, Judith decidiu ser dona de si e com 71 anos fez sua primeira tatuagem, um tribal, que significa libertação.

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Judith Caggiano, 80 anos, tem 52 tatuagens, 23 piercings e não abre mão da dança

Baladeira assumida, não abre mão de uma boa música e frequenta as pistas de dança das casas noturnas próximas a sua casa, de onde sai e volta a pé, depois de se jogar na noitada. "Minha neta ia muito para barzinhos, baladas, e ela me chamava. Um dia, minha nora, mãe dela, me pediu para que eu falasse com ela, para que parasse de sair tanto. E até hoje ela não sabe que quem saia com ela era eu", confessa, aos risos.

Recentemente Judith passou a frequentar um grupo da terceira idade, onde teve contato com outro tipo de dança, mais calma que o "puts-puts" (palavras dela) o pagode e o reggae, seus ritmos favoritos para se jogar na balada. "É difícil lá. Na balada cada um bate os pés e segue um ritmo. Com o grupo não é assim. Tem marcação e tudo mais. Fiquei olhando tanto para o pé do professor e quando eu estava no um ele já estava no três. No primeiro dia fiquei morrendo de dor, nunca havia feito tanta ginástica. Fiquei o dia seguinte inteiro jogada no sofá. Agora já estou acostumada", comenta.

E para quem pensa que terceira idade é sinônimo de velhice ou 'que já passou do tempo', Judith dá uma dica. "A primeira coisa é gostar de si mesmo. Assumindo você, mostrando paz e alegria, uma base de personalidade e caráter, logo sentem de longe o que você é e isso é o que importa nessa idade".

Colaborou:
Diego Moraes
(11) 6674-8257

Atualizado em 6 Set 2011.