Traumas contemporâneos
Com direção de Ernesto Piccolo, as obras de seis dramaturgos costuram o enredo dos males modernos: obsessão é o tema de Adriana Falcão; paranoia e vício são trabalhados por Lícia Manzo; hipocondria recebe as assinaturas de Theréze Bellido e Fernando Duarte; TPM e TOC são retratados por Regiana Antonini, e pânico e ninfomania ficam nas mãos de Cristina Fagundes.
O elenco coloca em cena os traumas e cada esquete aborda uma determinada síndrome, que, de acordo com o trio de atores, não seguem uma ordem cronológica e ao fim não exibem uma solução para aquele problema, apenas um retrato da situação.
Foto: Guga Melgar
Com direção de Ernesto Piccolo, o trio se divide em cinco esquetes, que formam o espetáculo
No caso de Camila Morgado, que no espetáculo dá vida a uma senhora hipocondríaca e a uma jovem ninfomaníaca, uma de suas manias é trancar a porta do quarto sempre antes de dormir. "Quando se mexe com esse universo, descobre-se coisas que você nem percebia. Todo mundo passa por determinados transtornos e para a gente foi uma surpresa ver que as pessoas se identificaram. Por ser uma comédia, quebrou-se um pouco da parede do drama. O público vê que isso acontece com eles mesmos", comenta a atriz.
Neuras no palco
Para o diretor do espetáculo, Ernesto Piccolo, os textos "brincam" ao colocar uma lente de aumento sobre problemas do cotidiano, de forma inteligente e muito instigante. E na vida real, segundo o ator Anderson Muller, a plateia se vê no palco. "Tem gente que ri de tão nervoso que fica, por perceber que passa por aquela situação que estamos fazendo no palco. Lavo a mão entre 40 e 50 vezes por dia. Tenho pavor de qualquer coisa ou lugar fechado. E vivendo isso na pele é mais fácil dar vida ao personagem", ressalta.
Os temas foram pesquisados para dar um alto grau de veracidade à produção e, durante o processo de pesquisa, algumas pessoas foram entrevistadas nas ruas. Isso serviu de base para a peça, segundo o elenco. De acordo com Muller, cada um levou um pouco de si no palco. "Vivemos em um mundo muito conturbado e paranoico, as pessoas vivem essas síndromes. Os personagens são humanizados. Todos temos um toczinho (sic). Eu fiz dez anos de análise e não é possível não tirar algo disso tudo", afirma.
Foto: Guga Melgar
Camila Morgado está atualmente sem contrato com a TV e espera propostas de trabalho
Sem casa fica
Conhecida por papeis de alto nível de dramaticidade, Camila Morgado tem se enveredado por outras vertentes. Em total harmonia com a comédia - desde a peça Doce Deleite com direção de Marília Pêra e a jornalista Malu na novela Viver a Vida - a atriz se preocupava em ficar estereotipada e buscou novos rumos para a carreira. "Tive a sorte de pegar papéis com uma carga muito grande. Meu desafio é mudar isso. Estava me incomodando. A comédia ensina a ser atlético, se uma piada não da certo, você precisa ir para outra, rápido. Hoje, sinto que as pessoas veem que eu posso fazer mais. Estou fazendo essa transição ainda", confessa.
Mesmo vivendo personagens de destaques na telinha e no cinema, Camila Morgado sempre teve suas raízes fixadas no tablado. Recentemente, teve seu contrato com a TV Globo encerrado e, de agora em diante, receberá apenas por trabalhos. Mas a atriz afirma que não há ressentimentos e só teve retornos positivos da emissora. "Gosto de me apaixonar pelos personagens e de trabalhar. O teatro é o lugar do abismo, no terceiro sinal você se joga. Acredito que eles estejam passando por algumas reformulações e eu sou atriz, não posso depender apenas da TV. Tenho projetos de teatro, dois filmes em captação e estou muito aberta para propostas. Quero trabalhar", conclui Camila.
Atualizado em 6 Set 2011.