Prestes a completar 22 anos, o CCBB-Rio entrou para o G-20 do mundo dos museus
Rijksmuseum e Reina Sofia comeram poeira no último ranking da Art Newspaper, publicação que traz as instituições e exposições mais visitadas no mundo no ano passado. Europeus, seculares e detentores de grandes coleções (Rembrandt, no caso do museu holandês, e o barroco flamengo e romantismo espanhol, no caso da instituição da Coroa Espanhola), eles foram passados para trás por um pequeno gigante de cor verde e amarela. Totalizando mais de 2,317 milhões de visitantes, o Centro Cultural do Banco Brasil, no Rio de Janeiro, alcançou a 14ª posição na listagem. Nem o Guggenheim, grife internacional com cinco unidades espalhadas pelo mundo, fez igual. Emplacou apenas a sede, em Bilbao, enquanto as unidades de Brasília e São Paulo, também entraram na listagem das cem maiores instituições, com o 32º e 65º lugares, respectivamente. O resultado coloca o país na crista da onda quando o assunto também cultura e formação de público.
Pela primeira vez a pesquisa, realizada com mais de 300 instituições de todo o mundo e divulgada em abril, incluiu o Brasil. Para isso, a publicação procurou o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) para centralizar os dados, tanto de exposições permanentes como das temporárias. O órgão federal traduziu o questionário e encaminhou para as instituições, que possuem diferentes métodos de aferição de público, do tradicional livro de visitas a sensores eletrônicos na entrada. O trato da informação foi feito diretamente pela Art Newspaper.
"Foi uma boa surpresa. Os editores da Art Newspaper ficaram impressionados com os dados, nos avisaram das posições alcançadas pelas instituições brasileiras e pediram reconfirmação das melhores ranqueadas", diz Mayra Resende, responsável pela Coordenação de Produção e Análise das informações do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Foto: Divulgação
A unidade de São Paulo: colaboração para a revitalização do centro da capital paulistana
Ainda que as instituições japonesas ganhem no quesito frequência, com mais de 12 mil visitantes diários no Museu Nacional de Tóquio para ver a exposição do septuagenário artista Hesegawa Tohaku, e o Top Ten (veja a lista aqui) ainda seja predominantemente europeu, (três instituições de Londres e Paris, cada), seguido de perto pelos Estados Unidos (com dois museus ranqueados em Nova Iorque e um em Washington), dois países emergentes passam a disputar esse bolo. O nono lugar coube a Coreia e seu Museu Nacional, com sede em Seul. Cerca de 3,067 milhões de pessoas visitaram a instituição no ano passado, ultrapassando a marca do belíssimo e famoso Musée D'Orsay (2, 985 milhões), instalado em Paris.
E não foi só o CCBB que fez bonito entre as instituições brasileiras. Dos vários rankings temáticos da publicação, 57 exposições nacionais marcaram presença. Dentro das cem maiores instituições, constam ainda o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A Bienal paulistana arrastou cerca de 6,859 visitantes por dia, bem mais do que a congênere veneziana, e pegou o 12º lugar entre as mais temporárias mais visitadas do mundo. Já Islã, exposição que contou com mais de 300 peças históricas e artísticas vindas dos países-berço da religião mulçumana, percorreu as três unidades do Centro Cultural e cravou o primeiro do ranking de exposições temáticas e 13º entre as temporárias mundiais. Foram 6,825 pessoas, em média, por dia nas salas da unidade carioca enquanto a mostra esteve aberta.
Tantos louros alcançados pela museologia nacional fazem o governo investir cada vez mais no segmento. "Lançaremos uma publicação com base no cadastro nacional dos museus, que trará dados do crescimento dessas instituições da década de 80 para cá", comenta Mayara.
Gratuito, interativo e formador
Inaugurada em 12 de outubro de 1989 no número 66 da Rua Primeiro de Março, no centro do Rio de Janeiro, a instituição foi uma das primeiras iniciativas de uma empresa pública (indiretamente ligada à União) a investir em cultura de forma massiva e voltada à população. Seu lançamento inaugurou no Brasil o modelo de polo irradiador, reunindo num único lugar museu da moeda, salas para exposições temporárias e cinema, dois auditórios para teatro e show, biblioteca e café, algo totalmente inusitado para os padrões nacionais da época, mas já celebrado na Europa.
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As linhas modernistas de Niemeyer da unidade de Brasília
Na sequência, vieram as unidades de Brasília (2000) e São Paulo (2001), que mantiveram o alto padrão das instalações e a diversidade da programação. Além das três unidades, a instituição mantém uma parceria com o governo de Pernambuco no Centro Cultural Capiba, em Recife, e promete até o final do ano a inauguração da unidade mineira, a ser instalada na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte.
A gratuidade das exposições e o baixo preço dos eventos musicais e teatrais, comumente até R$ 20, é um dos motivos do seu sucesso. O grande investimento financeiro e em marketing também. Só em 2009, foram empenhados R$ 32 milhões para o setor de programação, possibilitando a execução de 196 projetos culturais desdobrados em 963 eventos nas três unidades. Nesse mesmo ano, o público nacional totalizou 3.973.229 visitantes, com destaque para as exposições, com cerca de 3,5 milhões de visitantes em suas salas.
Outro fator que explica o sucesso é o forte setor educativo da instituição, que recebe crianças de todas as séries escolares em atividades que juntam o lúdico com a formação. Os professores que quiserem podem participar de encontros com pedagógos e artistas para entender como melhor aproveitar as exposições em sala de aula. Acessibilidade, com vans que buscam o público idoso, e grandes investimentos em marketing, completam as estratégias que geram filas quilométricas para ver a exposição O Mundo Mágico de Escher, encerrada recentemente em São Paulo.
Atualizado em 1 Dez 2011.