Guia da Semana

O Prêmio Shell ainda é uma das mais tradicionais premiações do teatro brasileiro. Para a classe teatral uma indicação ao prêmio é uma grande honra, agora imagina ser indicado quatro vezes.

A atriz Ester Laccava, que recebeu a 4ª indicação ao prêmio de melhor atriz pelo espetáculo Árvore Seca, concedeu ao Guia da Semana uma entrevista falando sobre as indicações, o espetáculo e a carreira de atriz. Confira:

Guia da Semana – Como você se sentiu ao saber que foi indicada pela 4ª vez ao Prêmio Shell?
Ester Laccava – Fiquei muito feliz por saber que a crítica especializada tem notado meu trabalhos. Desta vez quero capitalizar essa indicação chamando o público para vir pra peça. O glamour para quem faz teatro é muito pouco.

A pressão aumenta ao saber que o público está indo ver a indicada ao prêmio de melhor atriz?
Não, até melhora! Porque eu vou com a certeza de que está tudo bem e fui reconhecida por isso. A pressão até diminui.

A última peça que você fez, Festa de Abigaiu, tinha texto de Mike Leigh, grande cineasta inglês. Como foi montar Árvore Seca que tem o texto de um autor jovem como o Alexandre Sansão?
O meu entusiasmo foi o mesmo! O que me faz montar um texto não é quem escreveu, mas sim o meu tesão por ele! Eu leio e vejo se faz sentido para mim. Hoje em dia me sinto livre porque não sou uma atriz e produtora de um gênero especifico. “Ah a Ester só faz drama... Ah a Ester só faz comédia...”. Eu cheguei num lugar onde estou livre e faço aquilo que eu gosto baseado nas minhas escolhas. Por isso não sei se meu próximo texto vai ser de autoria de um sorveteiro ou caiçara da praia. Eu não tenho muita regra quanto a isso.

Ester Laccava em cena do espetáculo Festa de Abigaiu

O texto de Arvore Seca tem uma base em literatura de cordel. Como foi seu trabalho ao redor deste tema?
Tudo começou quando eu vi um texto baseado na literatura de cordel do Alexandre Sansão que me deixou maravilhada. O cordel tem uma coisa que mexe muito com a compaixão. Meu trabalho na Arvore Seca foi desconstruir o ritmo do cordel, que é feito todo em rimas. Quem assiste nem percebe a rima. Meu maior desafio foi tirar esse canto
do cordel.

Como foi ser dirigida por dois diretores Leandro Goddinho e Antônio Vanfill?
Os dois são meus amigos. Leandro é roteirista e cineasta, já o Antônio é figurinista e diretor de teatro. Eu os conheci quando fui fazer um curta com o Leandro. Vendo ele me dirigir e percebi que ele era um cara que sabia do que eu estava falando.

Eu não queria fazer um sertão clichê e caricato. Os dois são muito inteligentes e sensíveis e me ajudaram a chegar em um lugar onde pensei que não fosse chegar. Eu tenho o dobro da idade deles e me coloco como se tivesse a idade deles.

Você tem uma produtora por onde produz suas peça. Algum plano de produzir espetáculos em que você não esteja diretamente envolvida?
Eu gostaria de estar sempre envolvida. A produção de espetáculos só veio por conta da minha necessidade. Ninguém vai me convidar para fazer um texto. Então eu acabei tendo que por a mão na massa. Como produzir exige bastante, tem que valer a pena pra eu estar envolvida, mas acho que no futuro eu vou estar capacitada para produzir um colega ou um projeto pelo qual eu me apaixone.

Como você vê o cenário atual do teatro no Brasil?
Hoje a gente tem dois gêneros que estão fortes no teatro: o Musical e o Stand Up. Logo a concorrência do teatro tradicional aumentou muito. Eu vejo meus colegas, independentes de serem atores globais ou não, batalhando para ter público.

Mesmo que você tenha um patrocínio e seja um ator global, você não corre o risco de não ter divida, mas corre o risco de não tem público. Tá difícil. A gente tá passando um momento bem complicado. Apesar das leis de incentivo, está difícil de fazer teatro. O mercado está complicado. As vezes a gente nem saber dizer o por quê.

Atriz indicada ao prêmio de melhor atriz diz: "Está difícil fazer teatro"

Como a maquiagem e cabelo desgrenhado te ajudam a entrar em uma personagem?
Todos os recursos complementam. Um cabelo bacana que te faça entrar mais nesse universo ajuda muito. Na Festa de Abigaiu eu falava que a peruca era melhor que a atriz. Já em Arvore Seca, a hora em que eu produzo em cena, penteio o cabelo e passo o pó branco é quase como um camaleão. Um truque que você desvenda pra platéia e acaba ajudando bastante na caracterização.

Qual a diferença de estar em cena em um monólogo?
No monologo eu corro o risco sozinha. O teatro só existe se o ator conseguir fazer a conexão com o público. Fazer com que o público te acompanhe do começo ao fim e quando você tem mais atores é um jogo onde o público se divide nas situações e entre atores.

Você tem uma responsabilidade sozinha, quase como pegar 10 horas de estrada e não ter ninguém do seu lado. Se você tiver com uma pessoa do seu lado, você cansou você passa o volante. Você divide a responsabilidade. Num solo não.

Quanto você dedica para a criação de uma personagem?
Eu considero uma parte muito importante do processo. Quando eu fiz Garotas da Quadra, que era sobre duas garotas dentro de uma penitenciaria, eu fui pra Franco da Rocha e fiquei quatro dias com as detentas. Uma loucura inesquecível. Isso te traz um estofo fundamental em cena.

Eu não sei se é do meu temperamento, mas eu não estou preocupada em ficar bonita em cena, gorda, feia. Não é essa a preocupação. Da minha parte existe uma disponibilidade. Você se entrega e compõe a personagem. As vezes observando algo, vendo um filme, lendo um livro, enriquecendo este universo que você quer criar.

Para Arvore Seca eu vi bastante filmes e documentários sobre o Brasil. Eu fui para a feira de Santana e conheci pessoas lá. Tive uma pesquisa aliada com ajuda dos diretores, principalmente nos depoimentos autobiográficos que faço em cena

SERVIÇO

Arvore Seca
Quanto: R$ 40.
Quando: Quinta, 21h. De 6 de outubro até 17 de novembro de 2011.
Onde: Teatro Eva Herz

Por Edson Castro

Atualizado em 10 Abr 2012.