Por Guilherme Udo
De volta aos palcos com a peça Viver Sem Tempos Mortos, Fernanda Montenegro fala sobre carreira, vida e amadurecimento. A atriz retorna com a produção no Teatro Raul Cortez, após algumas apresentações no Rio de Janeiro - para a reinauguração do Teatro Dulcina - e em Juiz de Fora. É a primeira grande temporada após uma pausa para as gravações da novela Passione.
Sozinha em cena, sentada em um banco e com um foco de luz, Fernanda dá vida à Simone de Beauvoir - filósofa francesa que escreveu grandes obras, além de uma autobiografia. O texto foi elaborado pela própria atriz em cima de todo o material escrito que Simone deixou e tem um alto teor literário, que, com ajuda de Felipe Hirsch - fundador da Sutil Companhia, junto com Guilherme Webber, que atualmente dirige Os Altruístas -, ganhou toques de dramaturgia contemporânea.
"Estamos vivendo a época do monólogo... é uma realidade que o teatro está enfrentando", conta a atriz ao explicar a escolha do formato, que também é justificado pelas escassas verbas das leis de incentivo à cultura. Mas não é em tom de reclamação que Fernanda fala sobre o assunto, "para o ator é um grande desafio estar sozinho em cena, todos deveriam tentar protagonizar e também monologar", completa.
O tema da montagem é denso e não foi suavizado na elaboração do roteiro, que segue fielmente as palavras da filósofa. "Esse espetáculo, mais do que qualquer outro, me confirma que se o trabalho teatral tem clareza em sua proposta, ele é para todo público", diz Fernanda, que também acredita que o teatro não tem que trazer uma mensagem, mas sim sensibilizar a plateia, como o monólogo que faz cada espectador pensar sobre a sua vida e existência.
Ainda sobre a temática, a atriz leva sua vida para o palco. "Quando você pega um personagem com temperamento rico como o de Simone e fala de sua biografia, você relaciona com a sua trajetória. A peça é uma revisão da minha vida porque já estou com a idade que estou, são 65 anos de vida pública", conta a atriz, que em cena, procura mostrar feminino e valorizar aquela que todo dia levanta e vai a luta. A encenação também volta mais madura, segundo a própria. "O ator trabalha sempre, é uma matéria que sofre ação do tempo... sinto que melhorei", finaliza.
Atualizado em 10 Abr 2012.