No limite entre a loucura e a genialidade, um artista se fez. Sua arte é um grito de protesto ao modelo como os ditos "loucos" eram tratados no início do século 20. Arthur Bispo do Rosário viveu mais de 50 anos na Colônia Juliano Moreira, instituição psiquiátrica no Rio de Janeiro que era destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcoólatras e desviantes das mais diversas espécies). Foi lá que criou suas peças, e 160 delas estão reunidas na exposição Arthur Bispo do Rosário: o artista do fio, em cartaz na Caixa Cultural do Rio de Janeiro.
Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba (SE) em 1909. Descendente de escravos africanos, foi marinheiro na juventude e empregado de uma tradicional família carioca. Sua internação aconteceu em 1939, quando, após uma alucinação, foi diagnosticado como "esquizofrênico-paranoico". Bispo usava sua arte para fugir dos tratamentos usados na época, à base de drogas e eletrochoques. As peças criadas por ele remetiam a objetos musicais, de arquitetura e do cotidiano, como pandeiro, facas, batedor de ovos e até um patinete.
As obras selecionadas pelo curador Wilson Lazaro são denominadas ORFA (Objeto Recoberto por Fio Azul) e fazem parte do acervo do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. Tal denominação veio do fato que o artista usava a linha azul de seu uniforme e de outros internos da Colônia Juliano Moreira para revestir suas peças. Esta é a primeira vez que esse conjunto de obras é apresentado ao público carioca.
A obra de Bispo do Rosário é um grande resposta a essa sociedade que o excluiu de sua convivência. É também uma grande lição às instituições de arte, já que aquele que era considerado louco é hoje referência para a arte contemporânea brasileira. Mas Bispo do Rosário não era "anormal" no sentido que a sociedade da época o taxava. Ele era um grande artista que usou a situação que foi imposta a ele para criar suas obras. Ele é, assim, um subversivo dos paradigmas nos quais vivemos imersos.
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Atualizado em 6 Set 2011.