O graffiti está de volta ao MuBE na exposição Graffiti Fine Art - Murais Coletivos. São 20 artistas reunidos em criações conjuntas, feitas em grandes painéis que ocupam as paredes inteiras da Sala Pinacoteca do museu.
O tema é livre e os artistas estão distribuídos em duplas e quartetos. São eles: Tinho, Sinhá, Gafi e Magrela; Binho, Snek, Derf e Evol; Mauro, Akenni, Sliks e Enivo (foto); Dninja e Feik; Pifo e Dedo; Vespa e Phero; Ícone e Chambs.
Uma exposição em um espaço museológico dedicada ao graffiti sempre traz à tona a reflexão sobre a valorização desses artistas (grafiteiros) no mercado vigente das artes plásticas e a reação da sociedade ao lidar com uma obra cuja característica vem da arte nascida nas ruas como um movimento de transgressão que, aos poucos, foi ganhando os prestigiados espaços das galerias e museus com o aval dos apreciadores tradicionais e intelectuais.
Outra questão: qual é o lugar da arte? O graffiti deve estar nos museus? Sua representação deve ser em espaços públicos, muros, viadutos, onde a obra torna-se uma verdadeira intervenção urbana presente diariamente na vida de todos os transeuntes, ou nos chiques e modernos museus em âmbito privado, frequentado por poucos iniciados acadêmicos, que ditarão aos demais seu status de obra de arte?
No Brasil, ainda temos o dilema de separar o que é pichação do que é graffiti. Tal confusão entre termos e estilos faz muitos torcerem o nariz para o movimento. Não caberia aqui a discussão da diferença entre ambos. A visita à exposição Murais Coletivos no MuBE é passível de amenizar alguns destes questionamentos. Estar diante dos painéis gigantes e coloridos totalmente lúdicos faz calar qualquer discussão careta, preconceituosa e tradicionalista.
O que importa mesmo é a arte de quebrar os parâmetros estabelecidos, impactar o público, desafiar as formas estéticas formais e gerar debates significativos. A verdadeira arte está ligada ao conhecimento e sensibilidade. Não há fronteiras definidas de quem, onde ou como apreciá-la. O verdadeiro artista transforma a forma em conteúdo, seja esta uma sala branca de museu ou um muro no meio da rua com toda a cidade, população e poluição à sua volta.
Por seu caráter efêmero, o graffiti, uma vez pintado nas ruas, está sujeito a todo tipo de intervenção. Corre o risco de não estar lá para a apreciação no dia seguinte. Na rua, não importa se o artista levou horas ou dias para criar, o espaço é público e a obra está sujeita a desaparecer para, no outro dia, ver nascer a criação de outro parceiro, no mesmo local.
Sem tempo determinado, sem regras, sem direito de reclamar. No caso, um graffiti estar no museu, protegido dos males públicos (que vão desde o vandalismo gratuito até erros da própria prefeitura da cidade que sai apagando obras lindas), nos garante uma apreciação prolongada e sem ruídos - ao menos até a data de término da exposição, pois desta efemeridade, nenhuma exposição passa ilesa.
O graffiti acontece no ato, ali no espaço museológico em tempo real, dias antes da exposição. O cheirinho de tinta fica no ar. O mais legal de tudo é que, no graffiti, tudo é livre e sem regras. Os jovens artistas querem mais é curtir o barato de esvaziar suas
dezenas de latas coloridas de spray. No museu toda obra é sujeita à admiração e respeito do público, então o MuBE faz do seu espaço o lugar ideal para o graffiti.
Graffiti Fine Art - Murais Coletivos
Exposição: de 2 a 20 de março
Horário: de terça a domingo, das 10 às 19 h
Leia as colunas anteriores de Kelly Ezaki:
A repetição é o destaque
E se a realidade não existiu?
Quem é a colunista: Uma apreciadora apaixonada e dedicada às artes.
O que faz: Produtora Cultural e Publicitária.
Pecado gastronômico: No caso, paraíso gastronômico, a comida de mamãe.
Melhor lugar do mundo: Um que tenha livros, museus, cafés e meus amigos.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Radiohead, PJ Harvey, Lykke Li e Strokes.
Fale com ela: [email protected] ou siga seu Facebook.
Atualizado em 6 Set 2011.