Vinícius de Oliveira interpretando Devanildo em Assalto ao Banco Central
Em 1998 um rosto ganhou as telonas e se tornou uma das imagens mais marcantes do ano. Ele, um garoto, humilde, muito novo, ainda sem experiência, ao lado da atriz Fernanda Montenegro, considerada um dos monstros sagrados da interpretação. Tamanha discrepância se tornou ínfima diante da história de Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, que comoveu o país e o mundo, já que chegou a concorrer ao Oscar.
Vinícius de Oliveira, com apenas 12 anos, teve a chance de ocupar um posto desejado por muitos atores e colheu os frutos disso. Salles, na época, apostou no talento do pequeno quando ele ainda trabalhava como engraxate nas ruas e nem imaginava pisar em um tapete vermelho de Hollywood. Dez anos depois, o garoto voltou ao cinema, após fazer participações em novelas e outras produções, novamente como protagonista, dessa vez de Linha de Passe, novamente com a direção de Walter Salles.
Hoje com 26 anos, Vinícius de Oliveira está no elenco de Assalto ao Banco Central (veja matéria especial sobre o filme), dessa vez como Devanildo, um evangélico com identidade sexual indefinida. O jovem roubou a cena em meio a uma história que relata o segundo maior assalto a bancos no mundo vivendo um personagem polêmico.
Cursando faculdade de cinema, ainda sem grande experiência no tablado e com planos de dirigir suas ideias, o ator bateu um papo exclusivo com o Guia da Semana onde fala sobre a preparação para o longa em cartaz, o que mudou em sua vida nos últimos tempos e o que pretende fazer no futuro. Confira!
Foto: Divulgação
O garoto vive um evangélico com identidade sexual indefinida
Guia da Semana: Você já havia tido algum contato com a história do assalto?
Vinícius de Oliveira: O único contato que tive com essa história foi através da imprensa mesmo, nada além disso. Principalmente pelo fato de fazer um filme não documental. Por isso, não tínhamos a obrigação de representar ninguém do assalto.
Guia da Semana: Como foi o processo de construção do Devanildo? Houve inclusive uma preparação com a Fátima Toledo, certo?
Vinícius: O trabalho com a Fátima Toledo e sua assistente Olga Machado foi fundamental para chegar nesse personagem da maneira que queria o diretor e de como estava no roteiro. Queríamos fazer o Devanildo de forma natural, para que não ficasse algo caricato, acima do tom. Os trabalhos específicos com o Milhem Cortaz nesse processo também foram bem importantes. Foram duas semanas de preparação, um tempo até curto, mas que foi o suficiente pra dar uma unidade ao grupo.
Guia da Semana: Houve alguma represália por conta do seu personagem ser um evangélico afeminado?
Vinícius: Até agora nada aconteceu, mas acredito que nem vá acontecer. Faço um personagem que não sugere nenhuma crítica a nada e nem a ninguém.
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O garoto interpretou um aspirante a jogador de futebol em Linha de Passe
Guia da Semana: Como foi dividir cenas com grandes nomes consagrados no cinema?
Vinícius: O filme foi um enorme presente, pelo personagem, por poder dividir uma alegria com o Marcos Paulo pela primeira direção no cinema e por trabalhar com grandes atores que via na TV, como Lima Duarte, Milton Gonçalves, Milhem Cortaz, Fabio Lago, Juliano Cazarré e Heitor Martinez. Alguns já eram meus amigos, mas nunca tínhamos trabalhado juntos e dividir um set com eles foi maravilhoso. São atores generosos e que respeitam muito o trabalho do outro. Posso dizer que fiz mais uma escola nesse filme!
Guia da Semana: Alguma cena, em especial, te chama mais atenção no filme?
Vinícius: Vou destacar três delas. A primeira acontece em um jogo de enigma com o Fabio Lago, onde ele mesmo se questiona. Uma outra é a minha com o Milhem e a Hermila, onde afirmo que não quero participar do assalto e sou ameaçado de morte. Outra acontece durante uma prisão, que Lima Duarte percebe algo estranho e lança um olhar. É o grande Lima, que estamos acostumados a ver.
Guia da Semana: Foi o primeiro trabalho de direção do Marcos Paulo no cinema. Como foi o trabalho com ele?
Vinícius: Foi uma surpresa boa. Ele foi de um respeito e de uma generosidade com todos nós que o trabalho rendeu com muita fluidez e tranquilidade. E é bacana quando se trabalha assim, quando acontece esse diálogo aberto entre diretor e ator, um ouve o outro. Espero de coração poder trabalhar com ele novamente.
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Vinícius de Oliveira em ação ao lado de Fernanda Montenegro em Central do Brasil
Guia da Semana: Depois de Central do Brasil você ficou um tempo fora das telonas até retornar em Linha de Passe. Qual foi o motivo desse tempo e o que fez durante esse período?
Vinícius: Durante esse tempo estive muito focado em terminar meus estudos e garantir minha entrada na faculdade. E também comecei a me preparar para o Linha, já que fui convidado para fazê-lo desde o inicio, antes mesmo de ter o roteiro pronto. Como já sabia que meu personagem seria um aspirante a jogador de futebol, quis começar a praticar de forma mais séria, e como sou apaixonado por futebol, foi muito conveniente isso tudo.
Guia da Semana: O que mudou em você, como pessoa, depois que se tornou ator?
Vinícius: A visão de mundo que tenho hoje me fez aprender muito sobre as pessoas, a vida e a pensar em tudo ao nosso redor. Compreender as coisas, pensar antes de fazer. E, principalmente, tentar me fazer uma pessoa melhor diante das relações amorosas, dos amigos e na minha carreira.
Guia da Semana: Ao longo dos anos, você amadureceu tanto na idade como na carreira. O que pretende fazer nos próximos anos? Pretende participar de outros projetos que envolvam teatro ou TV?
Vinícius: Nada em vista pra esse dois veículos, nem TV e nem teatro, por enquanto. Por agora é focar na minha carreira de ator, terminar minha faculdade de cinema e aos poucos ir construindo minha carreira de diretor, coisa que quero muito fazer, dirigir minhas ideias.
Atualizado em 6 Set 2011.