Nós sabemos que você já conhece o cinema de Hollywood. Não é difícil: em 2014, por exemplo, os EUA lançaram 37% dos filmes exibidos no Brasil e abocanharam 82% do público, com seus blockbusters e sua divulgação bem trabalhada.
Em seguida vieram os filmes brasileiros: 27% dos títulos, contra 12% dos ingressos. França, Argentina e Reino Unido também tiveram sua cota de exibições e os alemães também foram bastante assistidos por aqui.
Se sairmos do universo dos lançamentos e pensarmos nos clássicos, podemos lembrar de Suécia, Japão, Itália e Rússia. O Canadá, com seu Xavier Dolan, também tem dado o que falar, assim como a Coreia do Sul e seu Park Chan-Wook. Mas e quanto ao resto do mundo? Que cinema se faz por lá?
O Guia da Semana selecionou 10 filmes de países cuja cinematografia normalmente não é levada em conta, e mostra pra você o que há de melhor na atualidade, bem longe de Hollywood. Confira:
Valsa com Bashir (Israel)
Ari Folman ganhou a atenção do mundo em 2008 quando lançou sua auto-biografia animada “Valsa com Bashir”. O filme usa uma técnica que lembra rotoscopia, mas tem um resultado mais realista, lembrando fotografias estilizadas, e aborda lembranças da Guerra do Líbano. Depois desse longa (indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), Folman ainda lançou o ousado “O Congresso Futurista”, com Robin Wright.
Uncle Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (Tailândia)
Vencedor da Palma de Ouro em 2010, este filme de nome comprido foi um fenômeno de crítica na época do seu lançamento, ousando explorar a fantasia num drama sobre morte, família e vidas passadas. O longa acompanha um homem doente que, em seus últimos dias, reencontra a esposa falecida e um filho perdido, que retorna numa forma sinistra na floresta.
A Separação (Irã)
O cinema iraniano já gestou grandes nomes do cinema, como Abbas Kiarostami e, mais recentemente, Asghar Farhadi, autor de “A Separação”. Seu filme, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se destaca por mesclar questões locais (como os direitos das mulheres no Irã e certos dilemas religiosos) com grandes problemas universais e insolúveis envolvendo moral e família.
A Caça (Dinamarca)
A Dinamarca é a terra-natal de Lars Von Trier, um dos diretores mais polêmicos da atualidade, mas também de Thomas Vinterberg, um nome que tem ganhado evidência nos últimos anos. É dele o elogiadíssimo “A Caça”, com Mads Mikkelsen (também dinamarquês), sobre um professor que passa a ser perseguido depois de ser denunciado por uma criança por um suposto abuso, do qual não existem provas.
O Sonho de Wadjda (Arábia Saudita)
O longa-metragem da primeira diretora da Arábia Saudita merece um lugar nesta lista. Wadjda é uma menina árabe que sonha em ter uma bicicleta, mas, em seu país, isso é proibido para as mulheres. O filme mostra o cotidiano dos jovens que vivem entre as referências culturais ocidentais e as tradições religiosas de seus pais e permite enxergar uma Arábia menos estereotipada.
Miss Violence (Grécia)
O cinema grego vem vivendo uma espécie de “nova onda”, com diretores como Yorgos Lanthimos e Yorgos Servetas chocando o mundo com histórias agressivas e um pouco estranhas, num movimento criativo e melancólico impulsionado pela crise econômica do país. Recentemente, Alexandros Avranas entrou na onda com “Miss Violence”, um filme sobre uma família disfuncional, que começa com o suicídio de uma criança. Leia a crítica do filme.
Ida (Polônia)
Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014, “Ida” é um filme em preto-e-branco que remói as memórias da Segunda Guerra Mundial de um jeito diferente e reflexivo. A protagonista é uma freira que, antes de fazer seus votos, precisa se reencontrar com a única família que ainda lhe resta, uma tia. Nesse contato, ela descobre seu verdadeiro nome e sua origem judia, e começa a questionar tudo em que acreditava até então. Leia a crítica do filme.
Winter Sleep (Turquia)
O drama que levou a Palma de Ouro em 2014 tem mais de três horas de duração e exige muita paciência do espectador – mas, para quem está disposto, o esforço é recompensado. O diretor turco se inspira em Chekov para contar a história de um ex-ator, hoje dono de um hotel isolado na Anatólia, que é obrigado a confrontar seus problemas pessoais e familiares com a chegada do inverno.
A Gangue (Ucrânia)
Um filme sem legendas protagonizado por surdos-mudos ucranianos? Exatamente. E mais impactante do que muitos longas falados em bom português. “A Gangue” inverte os papéis e coloca o público falante como a exceção, e os surdos-mudos (que se comunicam muito bem entre si) como regra. Sem compreender o que falam, somos obrigados a prestar atenção aos detalhes - e há muitos deles - para acompanhar a história do menino que chega ao internato e se esforça para ser aceito na gangue local, provocando uma tensão crescente entre os veteranos. Leia a crítica do filme.
Blind (Noruega)
Neste aflitivo drama norueguês, a protagonista é uma mulher que ficou cega após um acidente e, com medo de enfrentar a realidade, se tranca em casa e se concentra em escrever. Logo, sua imaginação começa a criar uma realidade paralela para expressar suas verdadeiras frustrações, afetando a vida real. Leia a crítica do filme.
Por Juliana Varella
Atualizado em 28 Set 2015.