Você já reparou que, de tempos, surgem duplas de filmes com o mesmo tema sendo produzidos ou lançados simultaneamente? Isso não é só uma impressão sua e o fenômeno até já ganhou nome: são os “twin films”, ou filmes gêmeos – como “Florence – Quem é Essa Mulher?” e “Marguerite”, que estão em cartaz nos cinemas atualmente e contam a história da mesma cantora desafinada (uma, mais fiel à biografia real e outra, mais inspirada).
As razões para as “dobradinhas” podem ser muitas: o mesmo roteiro pode ter sido enviado a mais de um estúdio; um diretor ou produtor pode ter mudado de projeto depois de ter tido contato com a ideia; duas produtoras podem, deliberadamente, ter decidido guerrear nas bilheterias para tentar ofuscar uma à outra; ou, simplesmente, um assunto tem se mostrado muito relevante naquele momento e diversos roteiristas decidiram trabalhar nele.
Seja quais forem os motivos, o fato é que muitos desses filmes conseguiram ficar tão famosos quanto seus “duplos”. Confira 15 pares de filmes muito parecidos lançados na mesma época:
Priscilla, A Rainha do Deserto (1994) + Para Wong Foo, Obrigada Por Tudo! Julie Newmar (1995)
Lançadas entre 1994 e 1995, as duas comédias são, basicamente, road movies alto astral com grupos de drag queens que viajam rumo a uma grande apresentação. Em “Priscilla”, Hugo Weaving e Guy Pearce interpretam drag queens, enquanto Terence Stamp é uma transgênero. Já em “Wong Foo”, as três protagonistas são queens, vividas por Wesley Snipes, Patrick Swayze e John Leguizamo.
O Inferno de Dante (1997) + Volcano (1997)
1997 foi o ano dos vulcões nos cinemas. Primeiro, vieram Pierce Brosnan e Linda Hamilton, em “O Inferno de Dante”, alertar os moradores de uma cidadezinha paradisíaca que o vulcão ao lado de suas casas poderia entrar em erupção a qualquer momento. Já em “Volcano”, um pouco mais fantasioso, um terremoto e algumas queimaduras severas servem de aviso para que os habitantes de Los Angeles descubram que um vulcão está se formando rapidamente, bem no meio da cidade.
FormiguinhaZ (1998) + Vida de Inseto (1998)
Se 1997 foi o ano dos vulcões, em 1998 foi a vez das formigas invadirem os cinemas nas animações “FormiguinhaZ” (Dreamworks) e “Vida de Inseto” (Pixar). Na primeira, mais adulta, Z é uma formiga operária que questiona o sistema e luta contra a opressão. Já na segunda, mais infantil e colorida, uma formiga atrapalhada precisa reunir um grupo de insetos desajustados para lutar contra os poderosos gafanhotos.
O Sexto Sentido (1999) + Os Outros (2001)
Se “O Sexto Sentido” não tivesse sido lançado apenas dois anos antes, “Os Outros” teria sido um sucesso muito maior. Os dois são filmes de suspense com espíritos e, por mais que suas histórias sejam completamente diferentes, o desfecho é parecido – tornando fácil para os espectadores, na época, descobrirem o final de “Os Outros” antes da hora.
Capote (2005) + Confidencial (2006)
Em 2005, Philip Seymour Hoffman ganhou um Oscar por sua interpretação do excêntrico escritor Truman Capote no drama “Capote”. No ano seguinte, Toby Jones se entregou ao papel em “Confidencial”, narrando o mesmo momento na vida do personagem: sua aproximação com o assassino Perry Smith durante a pesquisa para o livro “A Sangue Frio”.
O Ilusionista (2006) + O Grande Truque (2006)
Quem nunca confundiu “O Ilusionista” com “O Grande Truque”? Os dois filmes – ambos bem sucedidos – foram lançados em 2006 e contaram histórias de mágicos que passaram longos anos desenvolvendo truques para vinganças pessoais. Em “O Ilusionista”, Edward Norton é o mágico e seu objetivo é salvar sua amada (Jessica Biel) de um casamento cruel. Já em “O Grande Truque), Hugh Jackman e Christian Bale duelam nos palcos em busca do número perfeito.
Espelho, Espelho Meu (2012) + Branca de Neve e O Caçador (2012)
Em 2012, duas versões repaginadas do mesmo clássico dos contos de fadas chegaram aos cinemas. Em “Espelho, Espelho Meu”, mais cômico, Lily Collins é uma Branca de Neve esperta que se alia a sete anões para lutar contra a Rainha (Julia Roberts). Já em “Branca de Neve e O Caçador”, quem interpreta a princesa é Kristen Stewart e seu principal aliado na batalha é o Caçador, vivido por Chris Hemsworth.
Jobs (2013) + Steve Jobs (2015)
Dois anos separaram o lançamento de “Jobs”, com Ashton Kutcher” e “Steve Jobs”, com Michael Fassbender, mas as primeiras notícias sobre as duas biografias do criador da Apple começaram a sair mais ou menos ao mesmo tempo (em 2011, ano em que Steve Jobs faleceu). Os filmes apostam em abordagens diferentes: enquanto o primeiro narra a ascensão do empresário desde sua primeira criação numa garagem até o lançamento do IPod, o segundo enfoca a vida pessoal do personagem e sua personalidade agressiva até o lançamento do IMac.
Elysium (2013) + Oblivion (2013)
Não são só os nomes que se parecem nestas ficções científicas de 2013. Apesar de a mensagem ser diferente (“Elysium” é muito mais político e social e “Oblivion” traz questões éticas e existenciais), ambos os filmes exploram um futuro em que os humanos trocaram a Terra por estações espaciais – mantendo o planeta-mãe exclusivamente como fonte de recursos.
Transcendence (2014) + Lucy (2014)
Lançados com apenas alguns meses de distância em 2014, “Transcendence” (com Johnny Depp) e “Lucy” (com Scarlett Johansson) falam, ambos, da transcendência do corpo físico rumo a uma existência virtual – um com uma perspectiva mais pessimista; o outro, mais otimista, mas ambos com uma pegada de ação. Podemos pensar que a semelhança se deu porque este era um tema relevante no momento, já que o assunto também foi abordado por outras obras na mesma época, como o delicado “Ela”.
Yves Saint Laurent (2014) + Saint Laurent (2014)
Dois longas franco-belgas resolveram homenagear o mesmo estilista no mesmo ano, 2014. “Yves Saint Laurent”, de Jalil Lespert, mostra o início da carreira do artista e sua relação com Pierre Berge, enquanto “Saint Laurent”, de Bertrand Bonello, parte de um ponto mais à frente e explora o seu auge.
Marguerite (2015) + Florence – Quem é Essa Mulher? (2016)
Em 2016, dois filmes baseados na mesma história real chegaram aos cinemas. É bem verdade que “Marguerite” – a versão francesa, que altera alguns fatores como o nome da protagonista, o local e o tempo – foi produzida antes, sendo lançada no Festival de Veneza em 2015, mas cada versão tem o seu charme e o seu público. Ambos contam a trágica e divertida história da cantora de ópera sem nenhum talento que decidiu se apresentar num grande teatro e conquistou uma legião de fãs por seu carisma.
Missão Impossível: Nação Secreta (2015) + 007 Contra Spectre (2015)
Em 2015, a franquia “Missão Impossível” chegou ao quinto filme resgatando o espírito (e em certa medida a história) do primeiro: colocou Ethan Hunt trabalhando clandestinamente para desmascarar uma organização secreta que tentava destruir o IMF. No final do ano, a mesma história: em “Spectre”, James Bond tem seus métodos questionados pelo MI6 e precisa agir sozinho para combater um grupo misterioso ligado ao seu passado. O filme também resgata a “aura” dos antigos 007, mais cômicos e exagerados, e traz de volta até um personagem das antigas. Um detalhe, porém, diferencia os dois filmes radicalmente: enquanto, em “Nação Secreta”, a personagem feminina (Rebecca Ferguson) é bem construída e pode fazer suas próprias escolhas, mostrando uma adequação às novas tendências, em “Spectre” as personagens (vividas por Léa Seydoux e Monica Bellucci) são meros instrumentos do herói, como todas as Bond Girls antes delas.
Capitão América: Guerra Civil (2016) + Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016)
A Marvel e a DC podem até dizer que foi uma coincidência, mas nós sabemos que “Guerra Civil” e “Batman vs Superman” não se saíram tão parecidos por acaso. Ambos resolveram, no mesmo momento, deixar de lado os tradicionais vilões e apostar em duelos mais “cinzentos” entre seus principais super-heróis – um por divergências políticas, o outro por.... Bem, porque sim.
Mogli: O Menino Lobo (2016) + Jungle Book: Origins (2018)
Se você achou que a adaptação de “Mogli: O Menino Lobo” por Jon Favreau foi um espetáculo de imagens digitais, espere para ver o que Andy Serkis – ator famoso por interpretar, justamente, personagens em CGI – está planejando para a sua versão (que foi adiada de 2016 para 2018, provavelmente por conta do sucesso do rival). Segundo o ator, que estreia como diretor, o estúdio está trabalhando num “nível sem precedentes de detalhamento das expressões e nuances na captura de movimento”. É esperar para ver.
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Jul 2016.