Este filme não terá legendas, avisa um texto sobre a tela preta antes de “A Gangue” começar. Será o único texto pelos próximos 130 minutos, já que o longa ucraniano, dirigido por Miroslav Slaboshpitsky e premiado na Semana da Crítica em Cannes, é falado inteiramente em linguagem de sinais.
O filme chega ao Brasil integrando a programação da 38a Mostra Internacional de Cinema, que começa no dia 16 de outubro em São Paulo. É uma aposta ousada, e é preciso ter estômago forte para chegar até a cena final de olhos abertos.
Slaboshpitsky não se apressa, constrói seus planos-sequências com a lentidão dos passos de seus personagens e demora sua câmera em cada quadro aberto, obrigando-nos a observar seus diálogos indecifráveis e suas paredes mofadas por períodos sempre um pouco mais longos do que gostaríamos.
A intenção é mesmo incomodar, inverter a moeda. Não é assim que os surdos-mudos se sentem, lançados às vezes sozinhos neste mundo tagarela? Pois aqueles jovens não estão sozinhos: pelo contrário, são uma gangue violenta, injusta, errada, com seus próprios códigos e hierarquias.
O que o diretor nos mostra é uma juventude ferida pela guerra e pela pobreza, pelo abandono da família e da sociedade. Uma juventude transviada, tão adepta da ultraviolência quanto os arruaceiros de Laranja Mecânica - mas também silenciosa e, por isso, aflitivamente vulnerável.
A história é a do novato (Grigoriy Fesenko) que batalha por seu espaço numa gangue escolar até se tornar um elemento-chave. Quando não estão na sala-de-aula (num colégio próprio para surdos-mudos), esses garotos saem às ruas para espancar, roubar e prostituir duas meninas do grupo. Uma delas arrancará lágrimas do público feminino numa cena de aborto explícito.
Toda a violência se justifica por dinheiro - rolinhos de notas passam de uma mão a outra sem jamais serem utilizados em qualquer compra, mas parecem ser a coisa mais importante do mundo para esses personagens. Isso e seus passaportes. Mas que futuro terão em qualquer lugar além dali?
Assista se você:
- Tem estômago forte para violência
- Quer ver um filme enigmático, com diálogos propositalmente incompreensíveis para grande parte do público
- Gosta de filmes que retratam as consequências das guerras
Não assista se você:
- Não gosta de filmes lentos
- Não gosta de filmes violentos
- Não quer assistir a um filme cujos diálogos não foram feitos para você
Por Juliana Varella
Atualizado em 14 Mai 2015.