Estreia nesta quinta-feira, 10 de março, o terceiro filme da série Divergente, “Convergente”. Apesar do nome, esta é apenas a primeira parte da adaptação do livro homônimo de Veronica Roth (a segunda sai em 2017, sob o título de “Ascendente”), seguindo à risca a moda de dividir os finais das franquias em dois, deixando o grosso da ação para o último episódio.
Dirigido pelo mesmo Robert Schwentke que comandou o longa anterior, “Convergente” sofre com as mesmas falhas de “Insurgente” e, em geral, aprofunda os erros da franquia como um todo. Em sua defesa, o filme traz uma boa dose de ação e, por isso, é divertido, mas, sob a superfície do discurso pseudo-político e revolucionário, muito pouco se sustenta.
Para quem ainda não está familiarizado, a história se passa numa cidade murada chamada Chicago, de onde ninguém tem permissão de sair, sob o discurso de que “a humanidade acabou e não há nada lá fora”. Lá dentro, as pessoas são divididas em “castas”, segundo suas aptidões: umas são mais amigáveis, outras agressivas, outras inteligentes, etc. Alguns não se encaixam em nenhuma categoria e são considerados “divergentes”. Nos últimos filmes, uma divergente chamada Tris (Shailene Woodley) liderou uma revolta, que acabou por derrubar o sistema de classes e revelar a existência de outra sociedade do lado de fora dos muros – uma que teria criado Chicago como uma “experiência”. Agora, chegou o momento de conhecer essas pessoas.
Em termos de conteúdo, há uma carência de personalidade gritante na série. A ideia do “experimento social isolado como forma de recuperar os danos causados pelas guerras” já foi explorada em, pelo menos, dois livros young adult adaptados para o cinema: “O Doador de Memórias” e “Maze Runner”. Já a questão dos líderes que assumem o poder com o apoio das massas, mas acabam tomando as mesmas atitudes para perpetuar a desigualdade, foi tema de “Jogos Vorazes”, assim como a imagem da guerreira de coração nobre que não quer se assumir líder. Há, ainda, os elementos nada sutilmente emprestados de “Harry Potter”, como a caixinha de memórias que é basicamente uma Penseira.
Além da pouca originalidade, há um problema sério com o roteiro do filme em si. Em mais de um momento, uma ideia sugerida numa cena é repetida logo em sequência com todas as palavras, como se o espectador não fosse capaz de entender na primeira vez. Uma dica: não é porque o público é adolescente que o filme precisa ser tão didático.
Por fim, é preciso mencionar o romance entre Tris e Quatro (Theo James), que evoluiu da paixão quente e secreta do primeiro filme para um namoro morno de olhares devotos e beijinhos trocados nos momentos mais inoportunos. Há, aqui, uma tentativa de conflito e uma leve sugestão de ciúmes, mas nada disso é aprofundado o suficiente para quebrar a paz celestial em que vive o casal.
Se não existe conflito entre os amantes, há ainda menos atrito entre a sempre pacífica Tris e seu novo antagonista, David (Jeff Daniels). É ele quem separa a garota de seus amigos (ela até se veste de branco, enquanto eles usam preto – porque é preciso deixar BEM clara a divisão) e provoca problemas ainda maiores em Chicago, mas ela, simplesmente, não se exalta. Nem ele se incomoda quando ela decide tomar uma atitude.
Sem confronto nem novidades, portanto, não há nada que prenda o público na poltrona, exceto, talvez, o rostinho bonito de James e o amor pelos livros de Roth. Se esse não for o seu caso, passe longe.
Confira mais dicas de cinema:
Gostou? Veja todos os vídeos: youtube.com/julianavarellaonline
Por Juliana Varella
Atualizado em 13 Mar 2016.