Quando a comédia “É Fada!”, estrelada pela youtuber-fenômeno Kéfera Buchmann, estrear no próximo dia 6 de outubro nos cinemas, não me venham com a desculpa de que “esse filme é para adolescentes, eles gostam disso”. Ter uma linguagem jovem é bem diferente de ter uma montagem ruim, um roteiro preguiçoso e piadas repetidas à exaustão, mesmo que a personalidade desbocada da protagonista possa fazer esses problemas passarem despercebidos pelos fãs.
O filme é inspirado no livro “Uma fada veio me visitar”, de Thalita Rebouças, e conta a história de uma fada atrapalhada (Kéfera, que, vale ressaltar, é atriz formada) que, depois de perder as asas numa missão fracassada, tem uma última chance para recuperá-las. Ela deve ajudar uma adolescente (Klara Castanho) a se adaptar a uma nova escola e se reaproximar da mãe.
A história é bem tradicional e não se afasta muito do padrão dois-desajustados-se-ajudando-mutuamente, nem fica muito longe dos filmes infantis brasileiros dos anos 80, estrelados por Xuxa ou pelos Trapalhões. O problema é que o longa de Cris D’Amato está tão empenhado em se afirmar como “ousado” e “atual” - o suficiente para colocar sua protagonista tirando varinhas do traseiro, ou para fazer um trocadilho com as palavras “fada” e “safada” – que não se preocupa em perder alguns minutos zelando por uma qualidade mínima de produção.
“É Fada!” é nitidamente desleixado: os efeitos visuais são patéticos (como no início, quando a fada é mostrada em miniatura), os personagens são ingênuos demais, o roteiro é antiquado (pense num final com personagens cantando, dançando e se abraçando sob uma lição de moral), as piadas são repetidas minuto a minuto, como se precisassem ser explicadas, e a montagem é tão grosseira que chega a cortar diálogos no meio sem cerimônia. Ou melhor: sem o menor respeito por seu público, que, deslumbrado com a mera presença de Kéfera em cena, nem percebe que está sendo usado como o dinheiro mais fácil que a Lereby Produções e a Globo Filmes já embolsaram.
Por Juliana Varella
Atualizado em 29 Set 2016.