Existe algum instinto humano que nos faz voltar sempre para as histórias de superação. Por alguma razão, ver uma pessoa que não tinha nada dando a volta por cima e realizando o mais improvável dos sonhos nos dá a esperança de que também podemos vencer obstáculos. Nos faz pensar que, para conquistar o que queremos, basta acreditar um pouco mais.
É por isso que “Rainha de Katwe”, cinebiografia que chega aos cinemas neste mês, tem tudo para ser um sucesso. Dirigido por uma mulher indiana (o que, por si só, já é uma superação) chamada Mira Nair, o filme conta a história real de Phiona Mutesi, uma menina nascida em Katwe, em Uganda, que aprendeu a jogar xadrez e se tornou campeã, viajando o mundo para representar seu país em campeonatos internacionais.
O trunfo de Nair é seu elenco, bem escolhido e muito bem dirigido. Lupita Nyong’O (“12 Anos de Escravidão” e “Star Wars: O Despertar da Força”) interpreta a mãe de Phiona, a pragmática e superprotetora Harriet; David Oyelowo (“Selma”) é Robert, seu professor idealista; e, mesmo entre estes dois, a estreante Madina Nalwanga brilha no papel da ambiciosa e inteligente Phiona.
O longa não foge muito da receita do gênero esportivo – descoberta, ascensão, queda e superação –, mas constrói tão bem o ambiente em torno da protagonista que nem nos importamos se ela conseguirá ou não vencer o torneio no final. Na verdade, o que cativa o espectador é a energia de Katwe, expressa nas dancinhas alegres de seus personagens, nos gestos sinceros de seus vizinhos e na intensidade de seus problemas. Esta é, afinal, uma cidade pobre e castigada pela fome e pelas chuvas, mas que tem aquele aconchego nas relações pessoais que só existe em comunidades muito pequenas.
Tudo isso faz de “Rainha de Katwe” um filme encantador, que provoca risos num momento e nos faz segurar a respiração em outro, colocando-nos lado a lado daqueles personagens. O longa ainda tem o mérito de retratar a África com um olhar sem preconceitos, mostrando pessoas negras de todos os estilos e classes sociais, com diferentes ocupações e habilidades. Não há um único criminoso em cena e o conflito racial, simplesmente, não é um tema. Uma única personagem branca aparece e sua cor não é sequer notada. É com essa naturalidade que se quebra um tabu.
“Rainha de Katwe” estreia nos cinemas no dia 24 de novembro.
Por Juliana Varella
Atualizado em 11 Nov 2016.