Tudo começou como um boato: depois de ser banido do Festival de Cannes por um comentário sobre Hitler, Lars Von Trier se fechara num novo projeto, aquele que seria seu filme mais chocante de todos. Isso, vindo do diretor de “Anticristo”, significava algo. Então, veio “Ninfomaníaca”.
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A divulgação do filme apostou na fama provocadora do diretor: choveram fotos de atores simulando orgasmos, pôsteres com instrumentos exóticos, pequenos teasers para cada um dos oito capítulos... Enfim, “Ninfomaníaca” chegou com tudo.
Von Trier mergulhou tão fundo em seu novo projeto que concebeu uma espécie de odisseia sexual em 5h30. Para fins comerciais, o que chegará aos cinemas agora é uma versão censurada de 4h, dividida em dois filmes (que estreiam em janeiro e março). A versão completa será apresentada em festivais e pode chegar às telas alguns meses depois.
Com todo esse barulho rondando a novidade, é natural que, como os primeiros espectadores, nos sentíssemos como cobaias e esperássemos pelo pior. Então, munidos (acreditem) de camisinhas variadas entregues no início da sessão, finalmente penetramos o universo de Joe.
Joe, explico, é a protagonista. Vivida por Charlotte Gainsbourg na fase adulta e por Stacy Martin na juventude, ela conta sua história de descoberta, exploração e decepção sexual, tudo regado a um sentimento de culpa. Seu interlocutor é um estranho, Seligman (Stellar Skarsgard), que a encontra surrada num beco e a leva para casa.
A presença de Seligman dá o tom ao filme, já que ele interrompe Joe de tempos em tempos para analisar sua confissão, ou para fazer alguma metáfora com sua vida sexual – como com pescaria ou uma composição de Bach. A quebra do ritmo esvazia qualquer tensão que estivesse sendo construída na trajetória da garota e o público respira aliviado, ri, reflete. Deixa de sentir, começa a pensar. Não há mais choque.
Gainsbourg, musa do diretor, mostra sua força expressiva ao narrar a juventude suave e lentamente, em parte como uma confissão e em parte como um jogo, testando aquele homem em toda a sua (aparente) pureza com imagens cada vez mais condenáveis.
Já Martin traz um ar angelical e um olhar despreocupado, quase entediado, seja enquanto perde a virgindade da forma menos romântica possível, seja quando vê uma família se desmoronando por sua causa.
A primeira parte, como era de se esperar, prepara o terreno para um segundo episódio muito mais agressivo. Por enquanto, o que vemos é uma adolescente que encara o sexo como brincadeira (e até cria um movimento anti-amor, num dos momentos cômicos do filme).
Ela não tem consciência de que seus parceiros podem não pensar o mesmo: no ponto alto do filme, Uma Thurman encarna uma esposa traída que grita, se descabela e faz valer o ingresso. Outra sequência que merece nota envolve o pai de Joe (Christian Slater), encarando seus últimos dias num hospital em preto-e-branco.
Se “Ninfomaníaca” tem cenas bastante explícitas, é mais para banalizar o desejo do que para condená-lo ou carregá-lo com algum sentimento qualquer. O filme passa longe de ser sensual, mas soa como uma terapia de alguém (Joe ou Von Trier?) constantemente julgado pelo mundo e, principalmente, por si mesmo.
Funciona, sim, como aquela redenção de Cannes, uma redenção divertida e inteligente que terá sua explosão máxima no festival deste ano. Mas o choque prometido... Melhor esperar pela Parte 2.
Assista se você:
- É fã de Lars Von Trier
- Gosta de filmes de arte
- Quer ver um filme inteligente sobre sexo
Não assista se você:
- Não gosta de filmes de arte
- Não quer ver cenas explícitas de sexo
- Procura um filme sensual
Por Juliana Varella
Atualizado em 10 Jan 2014.