Nada poderia ser mais “Disney” do que um filme sobre um dos maiores clássicos da casa: Mary Poppins. “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” chega aos cinemas no dia 7 de março, trazendo consigo a nostalgia do guarda-chuva falante e dos pinguins animados.
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Apesar do título em português, o filme não busca a realidade por trás das câmeras, mas cria uma nova fantasia ao redor das experiências que levaram a autora P. L. Travers a escrever seu romance – e a recusar por 20 anos as propostas de Walt Disney para filmá-lo.
Ao contrário, também, do que informa o título nacional (o original é “Saving Mr. Banks”, ou “salvando o Sr. Banks”), o filme de John Lee Hancock não mira seus holofotes em Walt, mas sim em Travers, a teimosa escritora inglesa que se revela australiana e cujo pai (Colin Farrell) é lembrado como uma versão fracassada do magnata das animações.
Tom Hanks, do lado oposto da mesa de negociações, é Walt Disney – o próprio. Com as vendas dos livros de Travers caindo, o empresário finalmente consegue convencer a autora a encontrá-lo na Califórnia, para conhecer os planos para o filme e aprovar o projeto.
É nos estúdios em Burbank que conhecemos o brilhante elenco de apoio: Bradley Whitford, no papel do roteirista Don DaGradi; B. J. Novak e Jason Schwartzman como os irmãos Sherman (dupla de músicos que criou a impronunciável “Supercalifragilisticexpialidocious”); e Paul Giamatti, que adiciona camadas de simpatia ao conjunto como o motorista Ralph.
“Não vou deixar que você a transforme num de seus cartoons bobos”, é a resposta imediata de Travers, através dos olhos arregalados de Emma Thompson. A atriz fecha a cara, esconde os sentimentos e acelera o passo, encarnando a personagem com propriedade. Para autenticar a fama de “difícil” da escritora, o diretor nos presenteia com uma imperdível cena pós-créditos, contendo um áudio original.
Hancock faz com “Walt” o que fez com “Um Sonho Possível” em 2009: transforma uma história dramática real numa série de lições de vida carregadas de esperança e positividade. Se, na realidade, o pai de Travers foi um bêbado sem qualquer futuro, no filme seu lado brincalhão prevalece e se materializa, anos depois, nas cenas cuidadosamente musicadas e coloridas da Disney.
Os traumas se diluem em personagens, projetados na tela ou em carne e osso, enquanto os dois artistas incorporam suas exageradas personas públicas – uma fechada, outra extrovertida. É verdade que o Disney de Hanks talvez tenha pouco de realidade. Como acusou a atriz Meryl Streep recentemente, o empresário provavelmente estava mais próximo de ser tirânico, sexista e até antissemita, do que caloroso e amável como mostra o filme.
Há duas razões para essa diferença – uma óbvia, outra nem tanto. A primeira é que o longa é produzido pelos estúdios Walt Disney e manchar a imagem de seu criador seria, no mínimo, inesperado. A segunda é que, mais uma vez, esta história não pretende ser real. É uma fantasia – tão ficcional quando a própria Mary Poppins – inspirada por uma personagem de carne e osso, que foi P. L. Travers. Walt é um coadjuvante, um símbolo, alguém que personifica os ideais da marca e contrapõe a sisudez de sua convidada, injetando leveza e bom humor àquela história cheia de mágoas.
Como ele, nem mesmo um camundongo de pelúcia aparece gratuitamente neste filme. Tudo é simbólico e cuidadosamente equilibrado, para nos levar àquele familiar encerramento gracioso, perfeito e especialmente catártico. Tipicamente “Disney”.
Assista se você:
- É fã da Walt Disney
- Quer ver uma grande atuação feminina (de Emma Thompson)
- Gosta de Mary Poppins (o livro ou o filme)
Não assista se você:
- Procura uma história totalmente fiel à realidade
- Não gosta do "estilo Disney" (otimista, melodramático, etc)
- Não gosta de musicais (apesar de não ser um musical em si, o filme tem diversos números musicais)
Por Juliana Varella
Atualizado em 6 Mar 2014.