Guia da Semana

Rap, música de bandido? Não para Macarrão, Thogum e Combatente, três rappers da Zona Norte carioca, que escrevem rap e divulgam seu trabalho. Macarrão é tricolor de coração (e sempre usa camisas de times de futebol), tem 34 anos, é casado, tem duas filhas e trabalha como apontador de bicho no Morro do Zinco. Togum, de 32 anos, é budista e vende produtos esotéricos e outras lembrancinhas para lojas cariocas. Combatente tem 21 anos, faz parte de um grupo de garotas rappers e descobriu a igreja do Santo Daime.

O filme acompanha os três (e não é cansativo, alternando os rappers com freqüência) em seu dia-a-dia e mostra como eles vêem o rap como instrumento de transformação social. Combatente e suas colegas usam as letras para chamar a atenção das meninas de sua idade. Togum canta que, se uma pessoa não fizer nada por si mesma, os outros não farão nada por ela. Rapper de coração mole, que está retomando o relacionamento com o pai desaparecido por tantos anos, ele deseja se formar na faculdade e tem grandes ambições. Nada de apologia ao crime. Pelo contrário, em muitas letras, o personagem que se envolve com drogas e crime acaba mal.

A partir de um certo momento, Fala Tu deixa de ser propriamente um documentário sobre rappers para registrar o cotidiano do subúrbio. E, se por um lado é impressionante perceber como a pobreza e até a doença não matam o senso de humor dos retratados (a cena com o pai de Togum é ao mesmo tempo comovente e divertida, e Macarrão tem tiradas hilárias), por outro percebe-se que a alegria tem limites e há situações que nem o rap pode remediar. Também salta aos olhos como a desagregação familiar afeta os rappers. O documentário foi duplamente premiado no Festival do Rio BR 2003: melhor diretor e melhor documentário em longa-metragem na escolha popular.

Fala Tu

Diretor: Guilherme Coelho

País de origem: BRA

Ano de produção: 2003

Classificação: 12 anos