Após nove anos fechado para visitação, o Museu do Ipiranga volta ao circuito cultural de São Paulo com 11 exposições de longa duração, divididas em dois eixos temáticos, e uma de curta duração, que será aberta em novembro. Ao todo, são mais de 3.700 itens dispostos no espaço expositivo, agora triplicado. As mostras contemplam pinturas, esculturas, objetos, móveis, moedas, documentos textuais e fotografias, incluindo recursos multissensoriais.
Em meio a tantas novidades, o Guia da Semana reuniu todos os detalhes sobre as novas exposições do Museu do Ipiranga. Confira:
Para Entender a Sociedade
Primeiro eixo das exposições fixas, Para Entender a Sociedade apresenta para o público as pesquisas desenvolvidas pelo corpo docente do Museu e dizem respeito a processos sociais ligados aos imaginários que alimentam histórias do Brasil, ao universo do trabalho, e à constituição dos espaços domésticos como lugares de formação de identidades.
► UMA HISTÓRIA DO BRASIL
A exposição compreende o hall, a escadaria principal e o Salão Nobre e tem como acervo principal as obras de arte que estão integradas à arquitetura, como a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo. O conjunto de obras constitui uma versão da história do Brasil produzida para as comemorações do centenário da Independência em 1922. A exposição coloca em questão a noção de realidade dessa narrativa, a escolha dos personagens e o modo como esta versão da história do Brasil se subordina à história paulista. Propõe uma discussão contextualizada sobre esses documentos tridimensionais que mostram uma visão histórica difundida na década de 1920.
► PASSADOS IMAGINADOS
A exposição exibe telas de grandes dimensões, além da maquete de gesso representando a cidade de São Paulo em 1841, que ganhou novos recursos tecnológicos. O foco é demonstrar que os acontecimentos representados nessas obras não são uma janela para o passado que está ali representado, e sim o processo de criação de artistas em determinadas épocas. Acostumado a entender estas representações como cenas verídicas, por conta do modo como foram apresentadas nos livros didáticos, o público encontra nessa exposição a recontextualização das obras de arte para serem compreendidas dentro do sistema que as produziu.
► TERRITÓRIOS EM DISPUTA
Nesta exposição são expostos os objetos mais antigos do Museu ligados à colonização e que remontam aos séculos 16 e 17. São objetos em pedra, cartas de sesmaria, mapas e outros documentos que contam como os europeus implantaram nas terras coloniais noções de território que se materializaram não apenas por meio de legislação ou da força bruta, mas pelo uso de objetos inéditos para os povos indígenas.
► MUNDOS DO TRABALHO
A exposição trata do universo do trabalho num amplo espectro de atividades desde o período colonial até os dias atuais. Pretende lançar luzes sobre o trabalho anônimo de indígenas, negros escravizados, forros, homens livres, migrantes, imigrantes e, com isso, trazer questões centrais para a compreensão do trabalho nos dias de hoje. Uma delas será demonstrar que o trabalho manual ou seriado não pode ser desconectado do trabalho intelectual, divisão muito comum e que desvaloriza o trabalho feito com o corpo, especialmente com as mãos. A exposição inclui ferramentas de marcenaria e mecânica de Santos Dumont.
► CASAS E COISAS
Expõe o processo de transformação de especialização dos espaços da casa que levou a compartimentações como áreas sociais, íntimas e de serviço. A casa era um lugar multifuncional – o lugar onde se cultivava alimentos, se praticava o comércio, se produziam coisas, onde as crianças recebiam educação, se realizavam encontros culturais. Ao longo do tempo, essas atribuições foram sendo transferidas para instituições específicas fora da casa. Ao perder essas funções tradicionais, a casa se volta para uma experiência inédita: fazer parte da formação da identidade. É no século 19 que a palavra “interior” passa a conectar artefatos e espaços da casa ao interior psíquico de seus moradores. Essa mostra não trata de decoração, mas de como a decoração se torna a expressão do caráter e da personalidade de seus moradores.
► A CIDADE VISTA DE CIMA
A última exposição do eixo “Para entender a Sociedade” apresenta imagens que mostram os diferentes momentos da história da cidade de São Paulo e prepara o visitante para apreciar a paisagem urbana no mirante.
Para Entender o Museu
O segundo eixo traz informações sobre a história do edifício, da instituição e seu ciclo curatorial (aquisição, conservação, catalogação, exposição). Como analisar processos históricos nunca é um trabalho neutro, é fundamental tornar transparente o modo de produção desses conhecimentos, buscando distinguir memória, uma categoria social, da História, uma categoria cognitiva que permite compreender o fenômeno social da memória. Além de uma exposição introdutória sobre esses temas, o eixo conta com mais quatro exposições, que exibirão as maiores coleções do Museu – medalhas, moedas, imagens fotográficas e pinturas e objetos do cotidiano como brinquedos e louças nacionais e estrangeiras. Elas serão utilizadas para demonstrar o funcionamento do ciclo curatorial, discutidos a partir de quatro atividades chamadas de 4Cs – Coletar, Catalogar, Conservar e Comunicar.
► PARA ENTENDER O MUSEU
Exposição introdutória sobre o eixo. Conta a história do edifício e da instituição, explicando como é o trabalho na área de História e Cultura Material, como surgiu o Museu e porque ele foi instalado em um edifício projetado para ser um monumento à memória da Independência. A mostra conta com a Maquete do Museu produzida pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi em 1880 e detalha a arquitetura do prédio e sua construção.
► COLETAR: IMAGENS E OBJETOS
Amostras de nossas coleções são utilizadas para explicar as mudanças nas políticas de coleta de documentos, que levaram tanto a uma ampliação da representatividade social e cultural presente em nossas coleções quanto a uma variedade de materiais e técnicas dos objetos e imagens coletados. Destaque para a coleção de 33 retratos em óleo do belga Adrien Henri Vital van Emelen retratando pessoas negras e indígenas.
► CATALOGAR: MOEDAS E MEDALHAS
A prática da catalogação será explorada a partir da tradicional coleção de moedas e medalhas, que tem formas muito estabelecidas de identificação e descrição de seus materiais e suas simbologias.
► CONSERVAR: BRINQUEDOS
Objetos de brincar de casinha figuram ao lado de carrinhos, espaçonaves e foguetes. Será possível mostrar o trabalho de conservação, desde a avaliação no momento da entrada do item na coleção, as atividades de higienização e restauração, os modos de embalar até a guarda nas reservas técnicas.
► COMUNICAR: LOUÇAS
Será possível mostrar como se produz uma exposição a partir de resultados de pesquisa e de como a pesquisa pode mudar o perfil das coleções. A exposição em um museu universitário de História é bem diferente da prática de simplesmente expor os objetos. Ela está relacionada à seleção, criação e interpretação, portanto, a um processo de conhecimento que está longe de ser neutro ou de atestar uma verdade.
Memórias da Independência
Memórias da Independência será a primeira exposição temporária do novo ciclo do Museu do Ipiranga. Serão tratadas as diferentes práticas memoriais e comemorativas relacionadas ao processo da Independência do Brasil, que resultaram em sucessivas celebrações ao longo dos séculos 19, 20 e 21. Por ela, o público poderá compreender como o processo de ruptura com Portugal foi também disputado por projetos celebrativos e festividades que ocorreram em São Paulo, no Rio de Janeiro (a antiga capital) e em Salvador (onde o processo de Independência só foi concluído em 1823). A mostra abre no dia 1º de novembro e fica quatro meses em cartaz.
O Novo Museu do Ipiranga
O novo espaço expositivo abrange todas as áreas do Edifício-Monumento, incluindo espaços antes sem acesso ao público, e outros que não existiam. Desta forma, a área de exposições triplicou, passando de 12 para 49 salas expositivas, um número recorde de acervos do Museu expostos. O circuito conta com 70 peças audiovisuais, salas imersivas, espaços interativos e acessibilidade, com mais de 300 recursos multissensoriais disponíveis para todos os públicos, como telas táteis, maquetes e réplicas ampliadas de diversos itens do acervo.
Mais Informações:
Até o dia 7 de novembro de 2022, a entrada será gratuita. Os ingressos, disponibilizados sempre às segundas-feiras, devem ser agendados via sympla.com.br. Entre os dias 8 e 11 de setembro, o horário de visitação é das 11h às 16h. A partir do dia 13, o horário passa a ser das 11h às 17h.
O Museu do Ipiranga fica na Rua dos Patriotas, 20, na Vila Monumento. Para mais informações, acesse museudoipiranga.org.br.
Por Ricardo Martins
Atualizado em 9 Set 2022.