Guia da Semana

Quem não conhece o contexto da arte de Piero Manzoni certamente vai sair de sua exposição pensando, "se isso é arte, também sou um artista". Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, existe um conceito por trás de seu trabalho, mesmo que, ainda assim, seja duvidoso. Por isso, para que você compreenda mais a linha de pensamento do artista, listamos 5 coisas que você precisa saber antes de circular pela mostra sem entender absolutamente nada. Confira:

Piero Manzoni

Para quem não conhece, Piero Manzoni foi um artista italiano super reconhecido por suas obras conceituais. O artista viveu pouco, morreu aos 29 anos de idade - vítima de um infarto - mas seu legado marcou profundamente a arte do século XX.

Iniciou sua vida artística pela pintura. Ou melhor: pela redução da pintura a seus conceitos. Na época, a Europa estava em ruínas devido a Segunda Guerra Mundial e, indo contra o estilo dominante nesse período, substituiu o drama visual gerado por pinceladas carregadas de tinta, a literalidade da matéria. Assim, passou a usar resinas, cores claras, plásticos e materiais novos em um mundo que também tornava-se novo.

Sua importância

Manzoni não só criou obras polêmicas, como escreveu textos e manifestos, fundou uma revista e uma galeria e participou de grupos e movimentos. Em seus textos, é possível identificar uma mitologia individual que reitera a imagem do personagem que criou de si mesmo.

Contra a inércia do passado, buscava retomar o fio da radicalidade artística europeia, tão desgastada por duas guerras.

Obras

Suas obras colocam em xeque os conceitos fundamentais das artes visuais e, às vezes, os esvaziam por completo. O resultado, então, é o nada. Um nada que abriu vários caminhos para a arte contemporânea.

Ele dizia que a matéria é afirmativa e basta por si só. Que não importa o tamanho ou o comprimento, ela é exatamente o que é, e pronto.

Assim, ovos cozidos com impressões digitais, o “sopro” do artista num balão, o pedestal que transforma pessoas em obras de arte e até fezes enlatadas e etiquetadas como se tivessem saído de uma linha de produção são alguns dos itens da lista de suas principais obras.

Merde d'Artiste

"Todos os artistas deveriam vender suas impressões digitais ou sua própria merda em latinhas. Se o colecionador quiser algo íntimo e pessoal, que seja mesmo do artista, ele pode comprar a sua merda", Piero Manzoni disse isso em uma carta de 1961.

Fortemente influenciado por Marcel Duchamp, Manzoni depositou suas próprias fezes em 90 latinhas com rótulos entitulados "Merde d'Artiste"- Merda do Artista. A partir daí, ficou fortemente conhecido.

As 90 latas se espalharam por vários museus do mundo, incluindo os respeitáveis Tate de Londres, MoMa de Nova Iorque e o Georges Pompidou de Paris. Entretanto, também gerou polêmica e muita discussão sobre os limites da arte.

A intenção de Manzoni era que cada lata assinada e numerada pudesse ser vendida por seu peso em ouro. Uma leiloada pela Sotheby's em 23 de maio de 2007 foi vendida por € 124.000 e, em outubro de 2008, a respeitada casa de leilões ofereceu a lata #83, com um preço estimado de £ 50-70,000.

Ps: Muitas latas explodiram com o tempo, resultado de corrosão e dos gases em expansão.

Conflitos

Enquanto alguns aplaudem Manzoni, outros dizem que suas obras justificam a expressão de que a arte contemporânea é, literalmente, uma merda. Quando tudo tem sentido, nada tem sentido. Quando tudo tem valor, nada tem valor, pois tudo se torna intercambiável.

Serviço

Onde: MAM - Museu de Arte Moderna (Avenida Pedro Álvares Cabral, Portão 3 - Parque Ibirapuera
Datas: 8 de abril a 21 de junho de 2015
Preço: R$ 6,00 - gratuita aos domingos

Por Nathália Tourais

Atualizado em 8 Abr 2015.