Entre os dias 31 de julho e 12 de outubro, o Centro Cultural Banco do Brasil expõe obras vindas diretamente de Cuba com a mostra "Los Carpinteros: Objeto Vital". Com mais de 70 itens, entre desenhos, aquarelas, esculturas, instalações, vídeos e site specific, a instalação encanta e intriga nossos olhos com obras inusitadas e cheias de significados, produzidas com a utilização criativa da arquitetura, da escultura e do design, por um dos coletivos de arte mais aclamados da atualidade, Los Carpinteros.
Com uma crítica ácida, sagaz e, ao mesmo tempo, bem humorada, os artistas questionam a utilidade das coisas e exploram o choque entre função e objeto. Para que você saiba tudo sobre a mostra, listamos os principais destaques. Confira:
COLETIVO
A exposição, como de costume no CCBB, começa de cima para baixo. Assim, do quarto andar ao subsolo, o público pode acompanhar todas as fases do coletivo, desde a década de 1990 até obras inéditas, feitas especialmente para a exposição no Brasil, a partir de ideias e desenhos anteriores.
Fundado em 1992, o coletivo reunia Marco Castillo, Alexandre Arrechea e Dagoberto Rodriguez. O nome "Los Carpinteros" foi atribuído aos artistas por alguns de seus colegas, em virtude da empatia com o material trabalhado e com o ofício que foi resgatado como estratégia estética. Em 2003, Alexandre Arrechea deixou o grupo e Marco e Dagoberto deram continuidade ao trabalho. Na abertura da exposição brasileira, à convite dos amigos Marco e Dagoberto, Alexandre Arrechea e outras personalidades que marcaram a carreira do coletivo também estarão presentes.
OBJETO
Segundo o curador Rodolfo de Athayde, a instalação tem o objeto como protagonista desta exposição, sendo forçado a uma constante metamorfose pela ideia artística: imaginado em desenhos, projetado e testado nas maquetes tridimensionais ou alcançando sua vitalidade máxima como utopia realizada nas grandes instalações
OBJETO DO OFÍCIO
É o segmento dedicado ao primeiro período, determinado pela manufatura artesanal de objetos inspirados pelas vivências do cotidiano e o uso intensivo da aquarela como parte do processo de visualização da ideia inicial da obra. Os trabalhos são fruto da intensa troca criativa ocorrida durante o período da formação dos artistas, no Instituto Superior de Arte em Havana. Naturalmente, também refletem o contexto cubano dos anos 1990, em franca crise econômica.
Na obra acima, os artistas questionam o valor da nota de 'dos pesos', que não existe. Os elementos retratados referem-se a lugares e símbolos que interagem entre si.
OBJETO POSSUÍDO
Apresenta o momento em que o trabalho de Los Carpinteros começa a ganhar representatividade em importantes coleções no mundo com obras que, para além das problemáticas especificamente cubanas, falam de questões existenciais universais. “A transterritorialidade característica da arte contemporânea leva os artistas a um terreno aberto em que dividem preocupações com criadores de diversas nacionalidades, à margem de suas origens”, afirma Rodolfo de Athayde, curador da exposição. Muitos dos projetos ambiciosos que tinham sido esboçados no papel são materializados nesse momento com a abertura de novas perspectivas.
A obra acima, duas esculturas de borracha, chamada Sandália, exibe o mapa de Havana em sua superfície e, consequentemente, onde imagina-se que alguém pisaria.
Dentro deste segmento foi reservado um lugar especial para os objetos de som: aquelas obras que têm um vínculo direto com a música, expressão cultural por excelência que marca a ideia do “ser cubano”.
Abaixo, o quarteto nos faz pensar sobre a plasticidade do objeto, refletindo sobre o caminho dos estados na matéria e na música inimaginada, no que composições e melodias são capazes de causar dentro do ser.
ESPAÇO-OBJETO
Neste núcleo é dedicada atenção especial à arquitetura e às estruturas, temáticas constantes na obra dos artistas, que reiteradamente selecionam referências do entorno urbano para subvertê-las, ao alterar contexto e funcionalidade. Esse diálogo, característico do trabalho de Los Carpinteros, permeia toda a exposição e terá neste segmento um espaço reservado.
O espaço também tem um grande apelo políltico, com letreiros que se referem a momentos e falas históricas, além de uma obra feita em papelão, que nos remete a tribuna de Fidel Castro. Também somos levados a questionar como os objetos começam a ser representados abstratamente num espaço flutuante, através de obras feitas de lego e desenhos realistas.
HUMOR E CRÍTICA
Com um equilíbrio delicado entre o humor e o comentário político, entre o global e o contextual, as obras permitem acompanhar o percurso dos artistas. O uso da madeira nos anos iniciais e a recuperação de uma profissão aparentemente alheia ao mundo das belas artes foi o que definitivamente marcou o coletivo artístico e acabou batizando o grupo como Los Carpinteros. O diálogo entre o preciso encaixe de madeiras polidas à perfeição e uma tela pintada com domínio clássico gera obras como Marquilla Cigarrera, que tem a narrativa pictórica inserida no objeto.
Convertem-se em objetos também os edifícios: inicialmente as emblemáticas construções de Havana, como o Focsa, transformadas em móveis de madeira, cheios de gavetas vazias. Logo mais, monumentos internacionais são ‘replicados’ utilizando peças de lego no VDNKh Toy. O jogo de escalas continua e recria ferramentas cotidianas como estruturas arquitetônicas: Casa-Pinza, por exemplo, usa o formato de um alicate como base de uma planta para um espaço residencial.
PRÓXIMAS DATAS
CCBB de Brasília: de 02 de novembro de 2016 a 15 de janeiro de 2017
CCBB de Belo Horizonte: de 01 de fevereiro a 24 de abril de 2017
CCBB do Rio de Janeiro: de 17 de maio a 7 de agosto de 2017
Por Nathália Tourais
Atualizado em 8 Ago 2016.