Tim Burton está no Brasil. Uma figura como ele - alta, magra, de cabelos incontroláveis e ternos escuros, combinados com camisas estampadas de cores vibrantes – não passaria despercebida em pleno verão brasileiro, e de fato não passou. Depois de posar para as mais descontraídas fotos ao lado de banhistas numa praia carioca, na última terça-feira, o diretor californiano concedeu uma coletiva para a imprensa paulistana, trazendo consigo uma paixão recém-despertada pelo nosso país.
“O Brasil tem uma cultura tão artística, me surpreendi o tempo todo. Em Burbank, de onde venho, a cultura é muito mais rígida... Eu tive sorte de conseguir me expressar, de desenhar, mas, aqui, todas as pessoas conseguem se expressar. Ver um povo tão aberto e criativo é algo que significa muito para mim”.
Burton também se mostrou bastante satisfeito com a exposição “O Mundo de Tim Burton”, organizada pelo MIS em parceria com sua própria equipe. “Me sinto como um fantasma que olha para toda a sua vida, o que é um pouco estranho, mas a apresentação é tão bela que me sinto feliz. É como uma casa de diversões bizarra! Sinto-me mais confortável do que se fossem apenas quadros pendurados na parede”, elogia. A expografia, organizada por emoções, é inédita e, entre outras coisas, traz um tobogã para interligar os dois andares do museu. O diretor gostou tanto da inovação que prometeu incorporá-la em suas próximas exibições.
Para quem já visitou a exposição do MIS e estranhou a escassez de objetos ligados ao cinema, Burton tem uma boa (ou, pelo menos, aceitável) justificativa. Para ele, o objetivo não era tanto mostrar o artista, como inspirar outras gerações a fazerem o mesmo. “Eu não me considero um grande artista e a maior parte daqueles objetos nunca foram feitos para serem vistos... Mas são parte de um processo criativo. Minha maior recompensa foi ver pessoas se inspirando para desenhar a criar, mesmo sem se considerarem grandes artistas”.
Tímido, Burton não quis falar muito sobre si mesmo. Questionado sobre qual emoção definiria sua vida naquele momento, já que o foco da exposição eram os sentimentos, ele respondeu “medo”, mas logo desconversou. “Todos temos várias emoções, por isso gosto tanto da forma como a exposição foi montada”. Medo de quê, ele não quis contar.
Seu próximo projeto, “Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children”, é de fato muito mais sombrio que seus últimos trabalhos e deve trazer de volta o espírito gótico de seus filmes mais antigos, inspirados por clássicos de terror trash. “Eu cresci assistindo a essas coisas estranhas, então... O que as pessoas normalmente consideram ótimos filmes, eu não gosto. Eu gosto de coisas mais trash, é o tipo de filme que eu faço”. Não por acaso, a celebridade que Burton mais quer conhecer durante sua visita ao Brasil é o cineasta Zé do Caixão.
Para os fãs sedentos por quaisquer novidades envolvendo novos longas do diretor, o encontro trouxe boas e más notícias. A boa é que Burton voltará a trabalhar com stop-motion, mesmo que não seja num filme inteiro – em “Peregrine”, ele já adiantou, haverá pequenas sequências em animação.
A má notícia é que “Beetlejuice 2” não é, realmente, um projeto. O cineasta se encontrou recentemente com Michael Keaton, protagonista do longa de 1988, e os dois conversaram sobre a possibilidade, mas foi apenas isso: uma conversa entre amigos. “Ele é um personagem que eu amo muito e é uma daquelas coisas que, se parecer certo, eu farei. Mas, se for para ser feito, terá que ser feito direito”. Concordamos, Tim.
A exposição “O Mundo de Tim Burton” fica em cartaz até 15 de maio no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Ingressos antecipados estão esgotados, mas ainda é possível adquirir entradas na bilheteria, no próprio dia, às terças-feiras e aos domingos. Burton se encontrará com fãs numa sessão especial nesta quinta-feira, 11 de fevereiro.
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Por Juliana Varella
Atualizado em 19 Fev 2016.