Instalada nos quatro andares da Oca, espaço expositivo do Parque do Ibirapuera, a exposição Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos é uma experiência cultural única e uma verdadeira aula de história. Afinal, a mostra conta com mais de 750 obras – 48 delas recém-adquiridas – pertencentes ao Acervo de Obras de Arte Itaú Unibanco (considerado um dos maiores do mundo e o maior da América Latina), que remetem a momentos históricos do país.
Em cartaz até 13 de agosto, a exposição é o maior recorte do Acervo de Obras de Arte Itaú Unibanco exibido em conjunto até hoje. Entre as obras que podem ser vistas, as mais antigas são os dois mapas Jodocus Hondius: AmericaSeptentrionalis, de 1613, e Henricus Hondius: Accuratissima Brasiliae Tabula, de 1630, e seis livros raros Sebastiano Beretario: Iosephi Anchietatae Societatis Iesu Sacerdotis In Brasilia Defuncti Vita, de 1617, Nicolaus Orlandini: Historiae Societatis Iesv, de 1620, George de Spilbergen: Miroir Oost & West-Indical Auquel sont defcriptes les deux dernieres Navigations, de 1621, Sebastiano Beretario: Vita del Padre Gioseffo Anchieta, de 1621, Guilhermo Piso, Georg Marcgraf: Indiae Utriusque, de 1648, e Simão de Vasconcellos: Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil, 1663.
Há também trabalhos de Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Maria Martins, Hélio Oiticica, Victor Brecheret, Lygia Clark, Fernand Leger entre muitos outros artistas renomados. Além disso, Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos traz ainda a reconstrução da escultura Sem Título (de 5,35 metros de altura), do artista luso-brasileiro Ascânio MMM, que foi encomendada nos anos 70 por Olavo Egydio Setúbal, então prefeito de São Paulo – em 1989, a obra foi retirada para restauração, mas foi dada como irrecuperável pela prefeitura da época e não voltou ao local.
A MOSTRA POR ANDAR
Ao percorrer os mais de 10 mil metros quadrados do espaço expositivo desenhado por Oscar Niemeyer, o visitante segue a trajetória do país construindo o seu próprio caminho com a possibilidade das variadas leituras. Isso porque, os trabalhos expostos não seguem uma sequência cronológica, construindo assim nexos e diálogos diversificados entre as obras – o objetivo é que o público seja levado a descobertas estéticas, linguísticas, conceituais e políticas.
Cada um dos quatro andares contextualiza períodos e cruzamentos de olhares:
► Térreo - São Paulo / De memória e matéria
A entrada da exposição propõe ao visitante um encontro com São Paulo: sua história, sua arquitetura, seus habitantes e os artistas que criam a partir desse lugar. São abordagens simultâneas que trazem a dimensão plural da cidade que não se deixa apreender. Assim, o trajeto pelo espaço relembra a força econômica do ciclo do café, o charme do Centro no início do século, a Semana de Arte Moderna em 1922, a descoberta da arte concreta e a pujança da arquitetura moderna - tudo por meio de telas de artistas como Alfredo Volpi, Candido Portinari, Lasar Segall e outros.
► Subsolo - Da numismática à cibernética
Considerando origem e destino como polaridades pertinentes aos seres e tomando-se suas criações como parte desse conjunto vivente, o subsolo da exposição aproxima o visitante da noção de arte como um regime ético de identificação das imagens, da relação entre maneiras de ser e modos de existir dos indivíduos e coletividades que as produzem. As potências de uma coleção são investigadas, assim como as razões de sua constituição e os desdobramentos de sua continuidade, tendo em vista as particularidades de nosso tempo e espaço – o Brasil do começo do século XXI – e as mudanças pelas quais a contemporaneidade nos confronta a cada dia com a memória, processo em plena metamorfose, como eixo estruturante da cultura.
► Primeiro Andar - Expressão e racionalidade
Já no primeiro andar, nos deparamos com o percurso da polaridade que alimentou a arte brasileira e a criação artística de todo o século XX, o binômio "expressão e racionalidade". Obras de Maria Martins, Leonilson e Sergio Sister mostram as emergências da contemporaneidade: a mudança na posição do espectador (da contemplação à atividade), a introdução de materiais naturais ou sintéticos, industriais ou artesanais, e a presença da indústria cultural.
► Segundo Andar - Uma invenção simbólica do Brasil: África e barroco
Por fim, o visitante viaja pela formação social do Brasil colonial, marcada por traumas e pela mestiçagem com a vinda de africanos escravizados e a conquista violenta da terra habitada pelas sociedades autóctones. É esse o contexto que permeia as obras presentes no segundo e último andar da mostra, com trabalhos de Adriana Varejão, Di Cavalcanti, entre outros.
Por Redação Guia da Semana
Atualizado em 7 Jul 2017.