Emocionante, aconchegante e maravilhosa. Esses são os adjetivos que definem, para mim, a exposição do artista australiano Ron Mueck. Ron cresceu vendo seus pais construírem brinquedos. Sua mãe fazia bonecos de pano e seu pai fazia marionetes. Boatos dizem que as preciosidades dos detalhes das obras do artista vieram da exigência do pai, que pedia que ele refizesse as coisas até ficarem perfeitas.
Ron é conhecido pelo seu trabalho hiper-realista. E quando usamos a palavra hiper é porque não dá para ser mais real do que é e, se não fosse pelos tamanhos diferenciados, suas obras seriam facilmente confundidas com pessoas de carne e osso.
Resina, fibra de vidro, silicone e argila são os materiais usados para a criação de suas esculturas. Os pelos e cabelos são colocados um a um e, em algumas obras, ele usa seu próprio cabelo. A íris dos olhos são pintadas a mão e depois recobertas com uma esfera de vidro ou resina transparente. As camadas de fora da pele são mais translúcidas e, assim, as esculturas ganham uma textura extremamente parecida com a real.
Logo na primeira sala, com a primeira obra, já fiquei absolutamente impressionada e encantada. A luz baixa dava ainda mais destaque à grande parede azul, que retratava uma piscina. Nela estava pendurada uma boia verde, onde a escultura de um homem repousava e curtia um belo dia de sol.
Acho que fiquei uns 40 minutos só nessa escultura. A cor, o contorno perfeito do corpo, os músculos aparentes, as veias dos braços e pernas, o cabelo, as rugas da testa... Tudo era impressionantemente real. Mas o que mais me chamou a atenção foram os pés e as mãos. A perfeição dos dedos, das unhas e dos pelos era tão grande que parecia que estava olhando para alguém de carne e osso.
Passados os 40 minutos, fui para a sala que estava a minha esquerda, onde havia um rosto bem grande representando um auto retrato do artista. Nesta, o mais impressionante era a feição, os traços. Os olhos fechados eram tão naturais quanto os de uma pessoa que está dormindo, igualmente aos cílios, as marcas de expressão ao redor dos olhos, os vincos entre as sobrancelhas, os pontinhos marcados pelos pelos que nascem da barba e o detalhe impecável do preenchimento e marcas naturais dos lábios.
Veja os detalhes:
Passei novamente pela sala de entrada e fui para a seguinte, onde haviam duas obras. Uma delas, à esquerda, retratava um jovem casal – e confesso que foi a que menos gostei. Embora obviamente muito bem feito e cheio de detalhes, não me passou uma impressão tão real quanto às outras que havia visto até então. Fiquei poucos minutos nessa e, logo em seguida, fui para a da frente.
A quarta obra era uma senhora de aparência séria, que me remeteu sofrimento e tristeza. Ela, que está prestes a chorar, segura uma sacola em cada mão e tem um bebê, que olha fixamente para o seu rosto, dentro de seu casaco. O ângulo entre eles é simplesmente perfeito e os detalhes do rosto, tanto da mulher quanto do bebê são impecáveis.
Segui para outra sala, que tinha uma única obra: uma galinha depenada gigante, pendurada de ponta cabeça e com o pescoço quebrado. A pele estava simplesmente perfeita, bem como as cores, as penas perto do bico, os olhos e as unhas. Achei essa obra, de certo modo, mórbida. A luz da sala era bem baixa com um foco de luz forte em cima da ave, o que deixou o cenário mais impressionante do que já era, de fato. Vi até algumas pessoas evitando encará-la e fazendo caretas.
No ambiente ao lado, a obra de uma senhora nua segurando galhos dividia espaço com um jovem negro de calça jeans. Dirigi-me primeiro à senhora, pois a posição de seu corpo, de imediato, chamou-me atenção.
A perfeição com que a envergadura da coluna, o quadril e os joelhos foram retratados realmente me deixaram de boca aberta. Além disso, a aparência de seu rosto sofrido, as gordurinhas e os pelos pubianos estavam atraindo olhares ainda mais atentos de quem passava por lá.
Do outro lado da sala, um jovem menino olhava um corte, que sangrava, em seu abdome. A calça jeans baixa deixava sua cueca aparente e a camiseta levantada e suja de sangue, mostrava a perfeição com que seu abdome, acompanhado do ferimento, foi construído. O cabelo, a mão, as unhas e os pés completavam todo o capricho de Ron.
Na sala à frente, uma escuridão. A única luz iluminava um triste homem nu, sentado em um simples barco de madeira. Esta foi minha obra preferida, e também a que me trouxe mais sensações. Não era apenas o homem que transmitia um sentimento, mas toda a cena, que exalava solidão, vazio e tristeza.
Na última sala, um vídeo de 52 minutos era exibido. – Still Life: Ron Mueck at work. Nele, imagens do artista criando suas obras, o que achei interessantíssimo para matar a curiosidade dos apreciadores de sua arte.
Já nos corredores da Pinacoteca, entrei num grande hall, onde estava a última obra a ser apreciada: um casal gigante na praia... Igualmente incrível as oito anteriores.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 29 Nov 2014.