Harold Halibut é um jogo narrativo desenvolvido com estética de stop motion pela Slow Bros., que aborda os acontecimentos em uma nave atualmente submersa em um oceano alienígena, após a fuga da Terra durante uma guerra. Passaram-se 250 anos e um dos habitantes, Harold, assistente de laboratório, é o nosso protagonista. O mundo de FEDORA I é tranquilo; no entanto, Jeanne Mareaux, chefe de Harold, tem outros planos, e novas descobertas surgem ao longo do processo, envolvendo Harold em diversas tramas, além de apresentar personagens únicos e suas peculiaridades.
Assumindo uma estética diferenciada dos modelos tradicionais de escultura e modelagem, envolto em uma narrativa repleta de ramificações e marcada por uma trama cheia de drama, humor e suspense, Harold Halibut finalmente surge após onze longos anos de desenvolvimento. A pergunta que fica é: o título resultou em uma obra significativa que se destaca entre os lançamentos do mês de abril? Confira em mais uma análise antecipada no Pizza Fria!
FEDORA I e seu destino
A história de Harold Halibut é simples, no entanto, singular. Durante a Guerra Fria, uma comunidade decide deixar a Terra para escapar da destruição iminente. Ao partir, a nave enfrenta uma perturbação inesperada, resultando na queda em um planeta dominado por um vasto oceano e enfrentando consideráveis problemas atmosféricos. Sem opções viáveis para alterar a situação, os sobreviventes optam por habitar dentro da nave, transformando-a em seu lar.
Harold é um dos habitantes que nasceu já na nova realidade, sendo assistente da cientista chefe Jeanne Mareaux. Ao longo dos anos, Jeanne vislumbra e planeja sair do planeta, conduzindo estudos sobre o assunto. Toda a trama gira em torno de Harold auxiliando Jeanne na busca por elementos e respostas sobre seus planos, além dos demais mistérios que surgem no processo. Esses mistérios estão sempre ligados aos habitantes locais, muitos dos quais possuem habilidades, segredos e suas próprias necessidades e dramas pessoais, nos quais Harold acaba se envolvendo.
Os habitantes possuem restritos conhecimentos sobre o passado, apenas que a viagem ocorreu cerca de 250 anos atrás, esteve envolta em um momento onde a corrida espacial era o foco e existiam temores extremos sobre a guerra, que poderia acabar com a humanidade, com a nave FEDORA I afetada por explosões solares, seu sistema de localização e leitura foi alterado, ocasionando a queda em um planeta singular.
A jornada de Harold começa em um dia rotineiro em FEDORA I, quando ele descobre uma multa em seu bilhete de trânsito para utilizar os tubos do Distrito de Energia, exigindo crédito azul para transitar entre eles. Após a pressão do Major Sandstrom, responsável pelas requisições legais de FEDORA, Harold vai ao encontro do Secretário de Multas para resolver a questão. Como um simples funcionário, Harold não possui recursos para lidar com a situação, sendo mais uma vez salvo por sua chefe e amiga, a cientista Jeanne.
Harold é um personagem que não transmite carisma, atitudes otimistas ou possui quaisquer ambições na vida. Ele é constantemente desatento, faz perguntas desnecessárias e não presta a devida atenção às pessoas ao seu redor. Sua vida, aparentemente entediante, toma um rumo que nem mesmo Harold esperaria. Notamos que a corporação AllWater Corp (SoAcqua) exerce um grande controle sobre os habitantes e altera constantemente suas regras relacionadas aos bilhetes e ao uso dos tubos, além de implementar valores abusivos. Isso cria uma espécie de controle sobre os locais onde os habitantes podem se locomover, além de limitar informações e impor outras regras.
Harold Halibut brilha em sua escolhas narrativas
Nosso objetivo principal é explorar a nave, conhecer profundamente seus habitantes e seguir em busca de pistas e respostas para nossos próprios questionamentos como Harold. A narrativa é o foco do título, portanto, boa parte de seu tempo será acompanhando as atividades de Harold e as situações e informações que surgem em diversos ambientes, sem a necessidade de combates ou puzzles elaborados. É um jogo focado em narrativa pura, onde os elementos de interatividade servem apenas para imergir a nós, jogadores, no mundo de FEDORA.
A impressão inicial é que certas histórias e situações foram prolongadas demais nas primeiras horas do jogo. O único motivo que poderia justificar esse início “arrastado” seria uma espécie de introdução ao mundo e aos personagens. Afinal, um jogador desatento poderia facilmente esquecer o nome de um determinado personagem e sua localização, já que frequentemente nos movemos de um ponto A para um ponto B, conversando várias vezes com os mesmos personagens. É essencial que o jogador memorize seus nomes e localizações para evitar exploração desnecessária.
Além disso, o fato de permanecer por algumas boas horas nos mesmos ambientes foi algo que, sinceramente, questionei muito durante minha experiência. Porém, à medida que se avança nesse período, o título apresenta novos ambientes e personagens, expandindo o mundo de FEDORA diante de nós. Isso é refrescante e desperta uma curiosidade renovada, sempre nos guiando em direção a novas descobertas e ao progresso esperado para Harold. Todas as histórias estão lá para nos levar, jogadores, por caminhos inusitados ou previsíveis, proporcionando a oportunidade de nos imergirmos nessa comunidade utópica por meio do protagonista.
Um mundo interligado
A nave é conectada por tubos condutores que permitem que os habitantes se desloquem entre as diferentes áreas separadas por setores. Esses setores possuem características distintas, como o pequeno quarto de Harold, o laboratório de Jeanne, seu próprio quarto, uma espécie de lobby para transição entre áreas distintas, e um local para compras e socialização, entre outros. Todos esses ambientes são compostos por elementos que se destacam na tela devido ao cuidado e ao apelo criativo desenvolvido pela equipe. Em vários momentos, me vi simplesmente observando cada detalhe do cenário, seja a iluminação, os detalhes dos objetos ou a forma como os personagens foram animados.
Por meio do nosso PDA, controlamos as informações das tarefas diárias no menu principal, chamado de Afazeres, além das mensagens recebidas dos habitantes e complementos. As tarefas podem ser principais ou opcionais, o que aumenta o tempo investido no jogo e, consequentemente, a qualidade das informações e narrativas existentes no mundo de Harold Halibut. Recomendo que você não pule essas informações e tente completar a experiência no jogo sem perder nada.
A jogabilidade em si limita-se à interação com personagens, objetos e aos pequenos momentos de quebra-cabeças que sequer ousam desafiar os jogadores em sua resolução, mas adicionam elementos interativos necessários, já que o título é puramente narrativo. Os movimentos de Harold são fluidos, apesar de desajeitados, e as ações efetuadas são responsivas, também conforme o esperado. O uso do PDA é igualmente objetivo e simples, portanto, Harold Halibut é um título acessível e não requer habilidades excepcionais para progredir no jogo.
Sons e visuais
Quando observei o teaser de Harold Halibut, senti a velha sensação de familiaridade e meu apego as animações em Stop Motion. Outros elementos perceptíveis, estavam associados aos cuidados visuais em cenários, personagens e animações. Visualmente, tudo que você encontrará, é notável e surpreendente. Os detalhes implementados em personagens e cenários são tão bem elaborados e imprimem vida e a sensação tátil da experiência em cada bioma transitável.
É um apelo visual para ser apreciado e não existe, em momento algum o senso de urgência na transição e eventos enquanto atuamos com Harold. Você terá tempo suficiente para apreciar o trabalho desenvolvido pela Slow Bros. E faço um apelo: não tenha pressa. Valerá a pena cada minuto gasto apreciando onze anos de tentativas, ajustes erros e acertos.
Quando personagens e cenários são modelados a mão e digitalizados como a técnica implementada no título, perpetua-se o toque humano e o carinho. Pequeninos elementos foram inseridos em cada design, ampliando ainda mais a vida e a conexão com personagens e cenários observados, não importa o escopo do cenário, contendo objetos para interação ou apenas para apreciação denotando que a meticulosidade criativa pode ter um efeito sensacional, captando a atenção visual sem ousar demais.
É um verdadeiro alívio em meio aos gráficos bem elaborados ou ousados dos jogos AAA, que se destacam na indústria de jogos. A necessidade de conexão humana, as referências estéticas que nos remetem ao passado, quando assistíamos animações em stop motion na TV, tudo isso nos transporta para a realidade que conhecemos e que um dia nos proporcionou momentos especiais, guardados em nossas memórias. Harold Halibut desperta genuinamente o que um dia foi inocente, simples e divertido, e ainda pode ser.
Devo ressaltar que a dublagem é sensacional, tornando os personagens únicos e críveis. Mesmo sem uma dublagem localizada, o trabalho realizado nas legendas, na interface do usuário e em outros elementos da cena (alguns traduzidos, outros não) é impressionante. O título apresenta algumas questões visuais, não foge de eventuais problemas de animações, no entanto, seu peso em meio ao espetáculo visual observado é tão singelo que torno essa informação apenas uma espécie de nota que deve ser mencionada.
Vale a pena jogar Harold Halibut?
Harold Halibut é arte, carinho, imaginação e o conjunto de técnicas associadas que indicam inovação e peculiaridade excepcionais. É o resultado de um experimento bem-sucedido, a magia que brilha diante dos nossos olhos, a arte que se destaca na tela e nos emociona. Suas tramas e personagens são críveis, capturam nossa atenção e são capazes de despertar emoções e a conexão necessária em um jogo amplamente narrativo.
A jornada de Harold se desenrola diante de nossos olhos, transformando-o de um simples personagem com uma vida mundana e sem perspectiva em alguém que realmente possui essência e história. O cenário distópico e confinado é um verdadeiro exemplo de que, mesmo em espaços pequenos, grandes histórias podem surgir, pois a vida é moldada pelas pessoas. Harold Halibut enriquece a experiência e certamente ficará gravado em suas lembranças como um dos melhores jogos narrativos já criados.
Harold Halibut estreia nesta terça-feira, 16 de abril para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, via Steam.
*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Slow Bros.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Vanessa Lopes, Pizza Fria
Atualizado em 15 Abr 2024.