Mists of Noyah é um jogo de sobrevivência e ação 2D, com elementos de tower defense e criação de itens, desenvolvido pela Pyxeralia e publicado pela QUByte Interactive. Nele, controlamos um aventureiro que precisa lutar dia e noite para proteger e fortificar um forte (acreditem se quiserem) contra as forças da noite e a corrupção que adentra cada vez mais no lugar.

E aí, interessados? Veremos se Mists of Noyah é do bons agora, em mais uma bela análise do Pizza Fria.

Meio confuso, meio feliz

Estive pensando ultimamente, leitores e leitoras, sobre o velho debate acerca do quanto o jogador deve ser levado pela mão, como uma doce criança, pelos jogos. Será que precisamos de tantos tutoriais, que nos apontam tudo? Será que precisamos de uma trama mastigada e tão fácil de seguir que qualquer um conseguiria entender de boa, sem sufoco? Será que sou preguiçoso por pensar isso? Jamais! Sou preguiçoso, na verdade, por mil outros motivos.

Digo isso porquê nosso jogo do dia (ou noite, vai saber) me fez pensar sobre o assunto, provando mais uma vez aos invejosos que sou, sim, capaz de pensar. De fato, Mists of Noyah me fez ponderar sobre isso por um bom tempo, até que eu decidi vir aqui e começar a gritar de cima de minha caixinha de madeira nessa grande praça virtual.

Mas, vamos com calma. Ao longo do texto irão entender o que estou falando e, até, decidir se isso é um ponto positivo ou negativo para vocês. De fato, em alguns momentos queremos apenas cair de cabeça no mundo do jogo, sem muita esquentação ou horas e mais horas de aulas e palestras sobre cada pequeno elemento do título. Deixei vocês curiosos? Pois venham comigo e falem se concordam ou não.

História

Mists of Noyah não é um jogo, infelizmente, que se importa tanto em nos dar motivações pelas quais lutar, tampouco ideias mais firmes sobre o mundo e seus habitantes. Basicamente, sabemos que somos guerreiros que encontram um forte destruído e precisamos, com muito suor e lágrimas, lutar para que ele volte à sua glória anterior e não seja, novamente, explodido pelos seres da noite e da corrupção.

Até temos alguma caracterização de nossos heróis, mas ela é repassada através de pergaminhamos que compramos em um NPC contendo páginas e mais páginas de contextualização jogada em nosso colo. Ainda que isso sirva para expandir o universo, é feito de uma forma tão bruta e pouco desenvolvida que, infelizmente, quase não faz bem algum.

Eu sou favorável aos jogos que não entregam sua narrativa, vide aqueles da saga Souls. Contudo, Mists of Noyah tanto oferece pouco ao jogador quanto o faz de uma forma um tanto quanto obtusa e estranha. O que é uma pena, pois certas localidades flertam com a noção de que esse mundo poderia ser muito mais ou, ao menos, consideravelmente menos confuso e desinteressante.

Jogabilidade

Se eu fosse chutar uma grande inspiração para Mists of Noyah, certamente seria o clássico, e igualmente adorável, Terraria. Temos um mundo bidimensional no qual precisamos recolher recursos para sobreviver, enquanto lutamos contra monstros e vemos uma barra de corrupção crescer e tornar tudo mais difícil e lotado de inimigos fortões.

Contudo, o título desvia do molde de algumas formas interessantes. Primeiro, podemos escolher entre uma série de personagens que, embora sejam construídos em cima dos mesmos atributos básicos, possuem estilos de jogo e especialidades diferentes. Uma maga é mais focada em suporte, outro ataque de longe, um é tank, outro rouba vida, e por aí vai. Essas habilidades fazem diferença na hora da escolha, e alteram nossa forma de jogar.

Ainda falando dos poderes e atributos, eles podem ser melhorados através de níveis que alcançamos após reunir exp suficiente através de lutas, crafting e coleta de recursos. Também temos uma árvore de habilidades, mas ela é tão básica e simples que, na verdade, estaria mais para um galho mesmo. Essa sensação de simplicidade e superficialidade, infelizmente, envolve o jogo como uma névoa indissipável.

Mists of Noyah também nos permite coletar uma série de recursos para construirmos armas, equipamentos e melhorarmos o forte. Isso é importante porque, além de nos permitir lutar e explorar melhor, precisamos defender nossa base ao final de cada sétimo dia passado no mundo do jogo. Os inimigos que tentam quebrar nosso cafofo ficam cada vez mais fortes conforme o mundo se corrompe, e o aventureiro despreparado não possui chance alguma de vitória.

Mists of Noyah nos permite explorar uma série de biomas, cada qual com sua temática, inimigos e recursos próprios. Alguns são bem pauleira, necessitando de equipamentos bem fortes e uma sagacidade aguçada para evitar uma morte súbita. Fora isso, podemos explorar dungeons através de uma NPC que temos no forte, algo bem legal que adiciona desafio e recompensa ao jogo.

Fora isso, o título possui alguns pontos negativos que merecem ser mencionados. Em sua versão original, no PC, o jogo permitia que mais de uma pessoa enfrentasse os perigos de seu mundo ao mesmo tempo. Não encontrei isso na versão de Switch, e tenho a impressão de que as mecânicas ainda estão mais ou menos alinhadas com as expectativas de grupo, mais do que do individual.

Fora isso, Mists of Noyah me atacou com uma série de bugs, e não do tipo que vive no bioma das colmeias gigantes. Por vezes meu boneco ficou agarrado no cenário após usar uma magia de avanço, a pescaria bugou (permitindo pescar até em chão de madeira e no vazio) e, pior que tudo, o jogo ficou bem lento em diversos momentos. Para títulos em 2D como esse, sem muita inventação, isso é um problema considerável.

Por fim, Mists of Noyah até oferece um ciclo de jogo legal. Eu passei bem mais tempo do que deveria, em tese, apenas me distraindo coletando recursos e voltando para a base, ou pescando e explorando as dungeons aleatórias. Contudo, tudo que envolve esse aspecto deixa a desejar e, de fato, passa a impressão de que poderia ser muito mais e não foi. Por fim, mesmo o tutorial simples não faz muito em explicar as diversas mecânicas, gerando mais confusão do que o desejado.

Sons e Visuais

Visualmente, Mists of Noyah é agradável. O título conta com pixels coloridos e bem desenhados, além de cores vivas e alguns cenários bem legais. Contudo, não foge muito do lugar comum e, infelizmente, entrega uma interface mais complicada do que deveria, dificultando muito na hora de mexer tanto com inventário quanto com as diversas criações que fazemos.

A trilha sonora segue o mesmo princípio, com músicas que nem fazem muito efeito e nem incomodam aos ouvidos. Seguindo, inclusive, aquela ideia de que o jogo poderia ter sido muito mais e, também, ter ido muito além. Pontos positivos, no entanto, para as legendas em português.

Vale a pena comprar Mists of Noyah?

E aí, leitores e leitoras, conseguem adivinhar o que eu vou elogiar e resmungar? Baseado, obviamente, nos resmungos e elogios tecidos até o momento? Bem, devo dizer que minhas opiniões ficaram bem claras até o momento, mas pela manutenção da ilusão de que sou uma pessoa séria irei relembrar o que foi falado e amarrar com um belo lacinho para vocês, seres do meu coração.

De positivo, Mists of Noyah entrega um ciclo de jogabilidade divertido, com personagens diferentes e alguns sistemas legais de sobrevivência e coleta de recursos. Contudo, o jogo não se aprofunda em quase nada, com um árvore de habilidades pobre, interface confusa, história pouco explorada, pouca explicação das coisas, e por aí vai.

Por fim, a sensação que Mists of Noyah me deixou é de que tudo poderia ter sido mais. A fundação é sólida e está ali, mas o título não consegue dar liga com o monte de mecânicas e influências que abraça. Contudo, alguns updates futuros e um melhor direcionamento do jogador pode fazer com que o conjunto da obra se torne mais coeso. Por fim, pode ser que agrade se o jogo fizer seu estilo, contanto que lembre que possui esses pontos em aberto.

Mists of Noyah foi lançado para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch no dia 25 de julho. O título já estava disponível para PC, via Steam, desde maio de 2022.

*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela QUByte Interactive.