Nosso primeiro vislumbre de Princess Peach: Showtime! foi nos palcos virtuais de um Nintendo Direct. Num primeiro momento, mais parecia o ensaio para uma reparação histórica: não, não era mais uma plataforma de Super Mario a caminho nem a quarta dedetização de mansões mal assombradas de Luigi, mas sim a volta aos holofotes da princesa Peach, depois de quase 18 anos como estrela principal no título de Nintendo DS Super Princess Peach (2006).
Lançado exclusivamente para Nintendo Switch em 22 de março, Princess Peach: Showtime! traz a princesa Peach em busca de recuperar a magia de peças de teatro ao alternar diferentes papéis – ninja, confeiteira, vaqueira, detetive, entre outros – que mudam a jogabilidade a todo momento. A ação nos palcos é quase sempre como num side-scroller 2.5D, da esquerda para a direita e com pouca profundidade. Soa familiar? Talvez seja porque o desenvolvimento do título ficou a cargo do estúdio Good-Feel, o mesmo de Yoshi’s Crafted World (2019) e, como não poderia ser diferente, é publicado pela Nintendo.
Bom, quando falamos de jogos, contrariando o que diz o dito popular, uma imagem não vale mais do que mil palavras. Portanto, vou sacudir o medo do palco e tentar dizer se Princess Peach: Showtime! vale a pena ao explorar tanto seus pontos mais altos quanto os mais baixos. Vamos lá?
Premissa de Princess Peach: Showtime!
A princesa Peach e alguns Toads chegaram cedo ao que era para ser apenas uma tarde agradável no Teatro Esplendor, situado no reino Cogumelo. Contudo, já se percebia que algo de errado acontecia além do atraso nos seus espetáculos – a bruxa malvada Rubi e sua Trupe Uvaparsas invadem o lugar e roubam a cena – literalmente!
O feitiço trava todas as portas, deixando Peach, Toads e ribaltinos presos no teatro. Ei, ribaltinos são os habitantes dessa região! E tem mais: Rubi, a misteriosa vilã mascarada, substituiu todos os atores por integrantes de sua terrível trupe. O desejo dela é transformar cada peça em uma tragédia!
De uma das muitas portas para os palcos, a guardiã do teatro sai inconsolável porque a esplendista da peça (ou seja, o ator ou a atriz principal) da espadachim desapareceu. Estela é uma fadinha que veste uma poderosa fita – em forma de estrelinha – que se une à princesa para juntas liberarem o teatro da invasão, já que sua mágica permite transformar Peach nos diferentes papéis principais – conferindo-lhe aparências próprias e habilidades novas.
Da comédia à tragédia
O Teatro Esplendor tem uma mão cheia de andares mais um subsolo. A aventura começa no térreo com suas quatro salas – você não consegue ir a outro lugar ainda. Cada uma dessas portas começa o ato das primeiras peças teatrais – a espadachim que salva o reino, a confeiteira que adoça a vida dos habitantes, a vaqueira que protege a cidade dos bandidos, e a ninja que se esgueira para expulsar os invasores da vila.
Pelos atos, os cenários escondem muitas esplendoritas e sempre uma fita ou laço para colecionar. As esplendoritas são como as “estrelas” em Super Mario 64 e servem como prova de algum feito do bem. Aliás, absolutamente tudo se resolve com as forças das energias positivas e dando um chega pra lá nos vilões. Peach consegue inspirar ribaltinos com mais coragem e esperança.
Vencer fases significa expulsar a Trupe Uvaparsas daquele ato e, quando todos de um andar forem superados, trocamos algumas esplendoritas para abrir um chefe no centro do saguão.
Difícil saber se foi proposital, mas ao longo de três atos para cada uma das dez histórias em cartaz, a princesa troca a volumosa saia de princesa pelas roupas características que definem o personagem. E o ponto alto de Princess Peach: Showtime! está na diversidade de roupas e em como esses papéis alteram a jogabilidade e os visuais das fases.
A vaqueira lá de cima? Seus níveis de plataforma no Velho Oeste exigem o uso do laço, às vezes são auto-scrollers enquanto cavalgamos o cavalo e saltamos vagões do trem, e tantas outras vezes temos minigames de acertar direções e desviar de balas quando agarramos barris no salão.
Peach se transforma numa ninja ágil, correndo pelas paredes ou se escondendo nos arbustos para não ser vista. Em certas situações, estender um pano camuflado e se mover devagar é suficiente. Encarar inimigos frente a frente? Nem pensar! Como ela não pode ser vista, ela só terá sucesso ao atacá-los pelas costas. Os controles nunca superam duas ações e combinações, por isso, controlar a princesa é sempre simples em teoria.
Como Peach confeiteira, fazer doces e decorar bolos é muito divertido, já que seus atos parecem um minigame tirado de Mario Party: a fase de plataforma encontram cozinhas nas quais colocamos merengue e desenhamos sobre bolos com o analógico, ou pressionamos repetidamente o botão A para preparar a mais perfeita massa de biscoitos coloridos. A decoração adoça a vida dos vândalos que se convertem em pessoas de bem! Se você acertar o ponto ideal da massa, terá mais biscoitos, completando os desafios mais rapidamente e garantindo a esplendorita.
Desta forma, Peach espadachim é habilidosa com um sabre, enquanto a Peach sereia salva o oceano ao guiar peixes com seu belo canto. E quanto a Peach em sua versão Sherlock Holmes? Ela atua como uma detetive astuta e observante que resolve um roubo misterioso. Ainda temos Peach Ladra (traduzida como Furtiva), lutadora de Kung Fu e super-heroína. A princesa assume todos esses papéis, sempre que passa por uma porta.
Embora os atos tenham surpresas constantes, isso não quer dizer que a jogabilidade é consistente – ok, gosto varia de pessoa para pessoa, portanto tenha isso em mente para o parágrafo. Eu me diverti muito com as representações como lutadora de Kung Fu e Ninja, que exigiam observar a tela e ter cuidado ao agir. Mas outras me desligaram do jogo, aliás, me fizeram desligar o jogo após terminar um de seus atos, como as investigações da detetive, exageradamente lentas e com pistas bobas e, por vezes, aleatórias.
A patinadora de gelo foi outra transformação que ficou devendo, já que apresenta uma mecânica legal – Princess Peach: Showtime! quase vira um game rítmico de acrobacias –, mas a estranha posição das ações no chão se soma a um atraso imperdoável na resposta dos comandos.
Ainda assim, o pior defeito desta segunda aventura solo da princesa do reino Cogumelo é a estrutura sequencial rígida de suas fases. Na maior parte do tempo, Princess Peach: Showtime! é um jogo de plataforma 2.5D que, em certos momentos, brinca com o leiaute. Entretanto, para contar suas pequenas historietas, toda fase é dividida em cenas e, portanto, é impossível retornar sem começar do zero caso o jogador deixe um segredo para trás.
Ops, mentira, tem um jeito: dependendo do ponto de checagem, você pode propositalmente perder os cinco corações de saúde de Peach para forçar um breve retorno. Isso não soa divertido, né? Se você esquecer esplendoritas ou não perceber um cantinho secreto que talvez guarde um laço, as suas escolhas são se sabotar, pausar o jogo e reiniciar ou terminar a fase e voltar depois. Convenhamos que é um pouco chato não conseguir vencer um desafio de tempo e ser obrigado a fazer tudo outra vez por um trechinho de nada.
No geral, a campanha do jogo é sim bem fácil. Ou devo dizer que é o desafio certo para seu público-alvo, crianças? Adultos em busca de um jogo descompromissado que sejam fãs de Super Mario vão se divertir, mas não devem esperar o desafio nem a progressão de um Super Mario Bros. Wonder, por exemplo.
Contudo, Princess Peach: Showtime! guarda alguns segredos para jogadores mais experientes: já comentei que as 10 transformações têm três atos cada uma, num total de 30 fases na campanha. As batalhas de chefes trazem diversidade de estilos, mas não posso falar que sejam necessariamente criativas – basta entender a lógica do chefão e acertá-lo com um terceiro golpe para nocauteá-lo.
Vença o chefe do andar e um ribaltino da produção de espetáculos aparece para perguntar a Peach se ela gostaria de participar de um ensaio – o desafio aqui é atingir um número de inimigos abatidos ou de moedas coletadas, por exemplo, e respectivamente ganhar um troféu de bronze, prata ou ouro de acordo com o desempenho. No subsolo do teatro, quadros contêm níveis extras para resgatar os esplendoristas.
E é no pós-jogo que a dificuldade sobe: três ninjas se escondem pelas fases entre primeiro e quinto andar, além das revanches contra os chefes, que rendem 15 esplendoritas adicionais, uma para cada desafio superado. Sem contar encontrar todas as esplendoritas e as estampas para vestido de Peach e fitas de Estela.
Visuais e sons
Princess Peach: Showtime! marca mais um jogo Nintendo feito em Unreal Engine. O desempenho geral é bom, sendo o único agravante o delay input de alguns disfarces, e o jogo roda a constantes 30 quadros por segundo tanto na doca quanto no modo portátil. Embora a resolução dinâmica faça jus à bela modelagem de personagens e cenários, é meio estranho quando percebemos elementos na tela, como texto e polígonos, em resoluções diferentes ao mesmo tempo.
Aliás, dos personagens vírgula, já que os inimigos são bem genéricos e formados por elementos simples, como esferas e cubos. O trabalho dos artistas do jogo brilha quando vemos a arquitetura teatral, os palcos e suas produções, os ribaltinos, suas roupas e os trajes usados por Peach.
Sensacional mesmo é a trilha sonora, que soa muito como um EP – belas versões que valem mais do que um single, porém não ficam repetitivas nem completam um álbum inteiro. No interior do Teatro Esplendor, o jazz ecoa pelo saguão, mudando o tom de acordo com a presença ou ausência de inimigos. Já nas fases, cada transformação tem uma trilha sonora própria que varia com a intensidade da ação.
Os temas de Peach vaqueira parecem compostas por Ennio Morricone e que saíram de um faroeste espaguete; o que ouvimos nas sessões de Kung Fu é estranhamente parecido com Kill Bill e minha vontade seguinte era colocar a luta contra os Crazy 88 combinando o som de Woo Hoo no YouTube. É como se as composições para o teatro fossem inspiradas em trilhas famosas do cinema para tocar memórias afetivas e temáticas. (Aliás, o teatro parece mesmo é um aglomerado de salas de cinemas, já que normalmente teatros contam só com o palco principal).
Vale a pena jogar Princess Peach: Showtime!?
Ainda bem que o mais recente jogo da princesa Peach tem uma versão de demonstração para que eu possa indicá-la.
Se você é um gamer mais hardcore e sem muito carinho pelo estilo Nintendo, dificilmente vou dizer para conferir o título. Até mesmo para um entusiasta dos games da japonesa a recomendação é complicada: não espere uma experiência profunda como bastiões consagrados tanto no 2D quanto no 3D como Super Mario ou até a série derivada com as mansões assombradas de Luigi. Entre os veteranos, até a durabilidade fica comprometida, durando entre 10 e 15 horas.
Contudo, Princess Peach: Showtime! é direcionado para um público mais novo que nostálgico e, por mais que soe clichê, coloca Peach como representante feminina legítima. Assim, este jogo redime a aventura solo quando comparado com Super Princess Peach, cujos superpoderes eram ataques de humor com volatilidade emocional – ou seja, o game inteiro era uma piada de mau gosto sobre TPM.
O refino do game é próximo àqueles de um título com a grandeza Nintendo, mas faltou um pouco mais de atenção no fluxo das fases e no cuidado com a experiência dos jogadores. Logo, Princess Peach: Showtime! está próximo de jogos como os mais recentes de Yoshi, que de preciosidades como Kirby and the Forgotten Land ou Bowser’s Fury.
Na dúvida, dê uma chance à versão de demonstração, em especial para jogar com crianças; em especial-especial se forem meninas. (Bem que poderia ter um co-op, fosse com Daisy ou Rosalina, vai). A grande peça teatral de Peach pode não ser um dos jogo mais complexos em termos de jogabilidade e criatividade, mas traz variedade com otimismo e leveza, além de finalmente colocar a princesa baixo um holofote digno de sua popularidade.
*Review elaborada com código fornecido pela Nintendo.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Carlos Maestre, Pizza Fria
Atualizado em 13 Mai 2024.