Guia da Semana

Amo narrativas de aventura espacial. Das exageradas narrativas de Star Wars a filmes cult como Contato ao lendário Interestelar; ou jogos como Starfield e StarCraft, o espaço sempre me soou como algo fascinante. No geral, aventuras espaciais contam com um apelo duradouro que nos fazem sonhar com o desconhecido e explorar o universo vasto e misterioso.

Tentando se encaixar nesta pegada, The Invincible, game desenvolvido pela Starward Industries e publicado pela 11 bit studios para PlayStation 5Xbox Series X|S e PC, via SteamEpic Games Store e GOG.com, promete nos levar a uma jornada pelo espaço profundo, cheia de mistério e maravilha. E nesta review, analisaremos justamente se a experiência se consolida no que se propõe, ou se é só mais um no meio de tantos outros jogos e narrativas do gênero.

Um enredo interessante, mas bem cansativo

The Invincible nos coloca na pele de Yasna, uma astrobiologista que se encontra em uma missão no bizarro planeta Regis III. Em meio a uma corrida espacial (só para termos ideia, estamos do lado dos russos), somos colocados em uma jornada científica, que acaba se tornando uma missão de busca de vários tripulantes perdidos. E, como o jogo mostra logo de cara, não parece haver muita gente viva. Ainda assim, temos de seguir os rastros da tripulação, mas todas as nossas escolhas nos aproximam ainda mais de perigos inimagináveis.

No entanto, à medida que o jogo avança, a história começa a se desenvolver de uma maneira que deixa um pouco a desejar. Aliás, o jogo tem muita história e pouca ação. Temos de explorar demais, conversar demais e, na hora do “vamo ver”, pouca coisa acontece. A narrativa vai se desenrolando através de diálogos pelo rádio e diversos documentos espalhados pelo cenário. E você vai desenhando tudo o que encontra no caminho.

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A narrativa do jogo é contada por diversos documentos encontrados. (Imagem: Divulgação)

Mesmo sendo muito fã de histórias complexas, o que é o caso de The Invincible, o jogo exagera demais, sendo mais um filme interativo do que propriamente um jogo. Além disso, a impressão que tive é que os diálogos são extensos e, por vezes, são meio forçados. Tudo isso para não ficarmos com o silêncio de um planeta enorme como som de fundo. Os personagens são pouco desenvolvidos, sendo meio complicado se interessar neles e em seus arcos.

A história até consegue criar uma sensação de suspense, mas o mistério todo vai dando espaço a andanças e exploração em um grande cenário, mas sem muitas coisas. Outro problema que notei é a progressão lenta da narrativa que, somada a falta de emoção e reviravoltas, acaba tornando o jogo em algo meio vazio. Sei lá, a impressão que The Invincible me passa é a de que falta algo. Talvez um pouco mais de dinamismo caísse bem, dando uma agilizada na história lenta.

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Se prepare para encontrar muitos mortos pelo caminho. (Imagem: Divulgação)

Regis III pelo menos tem seu estranho charme

Um aspecto interessante de The Invincible é a sua apresentação visual e ambientação, trazendo um planeta meio parecido com Marte, cheio de mistérios. Os gráficos são bons, nada muito surpreendente, é verdade, mas que funcionam muito bem para apresentar a proposta de um planeta desconhecido, tendo diversos detalhes interessantes. E não falarei tanto sobre isso justamente para não dar nenhum spoiler.

Desta forma, espere cenários grandes e bonitos, com detalhes que nos transmitem a sensação de estar realmente em um mundo estranho e desconhecido. Portanto, vale ressaltar aqui a atenção dos desenvolvedores aos detalhes na construção do ambiente, algo que poderá ser apreciado por quem experienciar The Invincible. A atmosfera do jogo também é bem construída. O som do ambiente ao seu redor, a trilha sonora e todos os efeitos sonoros contribuem para criar uma sensação de imersão interessante, trazendo momentos alternantes de silêncios e sons perturbadores.

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A imersão do planeta é realmente interesante. (Imagem: Divulgação)

Desafios deixam o jogo ainda mais devagar

Um dos aspectos mais importantes de um jogo de aventura são os desafios e quebra-cabeças que ele apresenta aos jogadores. Infelizmente, The Invincible deixa muito a desejar nesse departamento. Os quebra-cabeças são frequentemente simplistas e pouco inspirados, não oferecendo um desafio significativo.

A mecânica principal do jogo envolve o uso de um dispositivo tecnológico que permite interagir com objetos e resolver quebra-cabeças. Embora essa ideia seja interessante, a execução deixa a desejar. A manipulação de objetos e a resolução de quebra-cabeças muitas vezes parecem desajeitadas e pouco intuitivas. Fiquei frequentemente frustrado com a forma como o jogo lida com esses elementos. Além disso, a exploração do ambiente muitas vezes se torna tediosa, com longos trechos em que você simplesmente caminha sem encontrar muita interação ou descoberta significativa. A falta de variedade nos desafios e na jogabilidade torna a experiência monótona em alguns momentos.

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Andar, encontrar coisas, resolver problemas… o jogo é basicamente isso. (Imagem: Divulgação)

Controles e jogabilidade

Os controles em The Invincible são relativamente simples e fáceis de aprender. Não tem muito mistério, e tudo é explicado ao longo da narrativa. No game, você utiliza um dispositivo tecnológico para interagir com o ambiente e resolver diversos quebra-cabeças. Não tem muito segredo. No entanto, como mencionado anteriormente, a execução dessas mecânicas muitas vezes não entregando um bom resultado, tornando a jogabilidade um tanto lenta e cansativa. Falta um clímax.

A movimentação do personagem também pode ser um pouco limitada em certos momentos, sobretudo quando não abrimos determinada parte da narrativa. O lugar está ali, mas acabamos ficando “agarrados”, sem poder avançar. Além disso, a falta de fluidez nos movimentos e a falta de opções de interação com o ambiente contribuem para uma sensação de rigidez na jogabilidade que poderia ser resolvida. Além disso, se corrermos demais com o personagem, ele vai tendo um “teto preto”, algo que nos obriga a andar em passos lentos a maior parte do tempo.

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As cutscenes são, em boa parte, em primeira pessoa. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena jogar The Invincible?

Em resumo, The Invincible prometia muito, sobretudo por ser um jogo de aventura espacial baseado na obra de Stanisław Lem. No entanto, ele poderia ser melhor em vários aspectos-chave, soando muito mais como um filme interativo do que propriamente um jogo. Não há tanta diversão na experiência que, embora seja lenta, não é de todo ruim. A narrativa acaba sendo pouco envolvente e lenta, e os personagens são mal desenvolvidos. Já no quesito jogabilidade, existem quebra-cabeças simples, mas que quebram o clima, e a gameplay, em geral, é meio desajeitada. Em minha jogatina, senti também que o jogo trazia consigo alguns problemas de desempenho que desanimam ainda mais.

Embora o jogo tenha uma apresentação visual bacana, com sua atmosfera bem construída, esses aspectos não conseguem compensar problemas de andamento e jogabilidade. The Invincible é, no geral, uma experiência razoável, mas que não consegue atingir o potencial que prometia. Se você é um ávido fã de jogos de aventura espacial, sobretudo mais focados em narrativa e exploração, certamente encontrará bons momentos de diversão aqui. No entanto, não espere uma experiência verdadeiramente envolvente ou memorável, com grandes cenas de ação.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela 11 bit studios.

Pizza Fria

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Por Álvaro Saluan, Pizza Fria

Atualizado em 15 Jan 2024.