Todo grande movimento tem o seu precursor. O Renascimento não teria o mesmo impacto se não fosse a literatura de Dante Alighieri? O que seria do barroco sem Michelangelo?
Na noite dessa terça-feira (25), Paul McCartney não trouxe apenas um show recheado de sucessos para o Allianz Parque em São Paulo. O ex-beatle de 72 anos promoveu uma viagem pela história da música mundial e da formação do que conhecemos hoje como cultura pop.
As raras chuvas da capital paulistana resolveram aparecer pouco antes do início do show e assustaram um pouco o público, que demorou a encher a belíssima arena. Quando alguns membros da plateia começavam a criticar a pontualidade britânica, as luzes se apagaram e Paul apareceu no palco acompanhado do seu inseparável contrabaixo Höfner.
Eight Days a Week foi responsável pela abertura, trazendo uma reação interessante por parte da plateia. Enquanto alguns dançavam e brindavam os anos 60, outros permaneciam estáticos e incrédulos com a presença do ícone.
A primeira das muitas conversas com o público começou com um descontraído “ E aí paulistas?” que logo arrancou sorrisos. Sorrisos que se mantiveram com a performance de All My Loving.
“Essa noite vou tentar falar um pouco de português” brincava Paul ao melhor sotaque britânico. Essa não foi a única ousadia do cantor. Assim como em outros shows, ele se arriscou a conduzir a guitarra de Purple Haze, sucesso de Jimi Hendrix. Nada que a sua experiência e uma Gibson Les Paul não fossem capazes.
Ao sentar-se no piano pela primeira vez na noite, Paul aproveitou para dedicar a música My Valentine para a sua atual esposa. “Essa é uma canção que compus pra minha amada Nancy". Curioso que, logo em seguida, Maybe I’m Amazed foi dedicada a Linda, sua ex-companheira e mãe de seus filhos.
And I Loved Her também foi acompanhada pelas vozes do público, mas um dos momentos mas bonitos de toda a noite viria a acontecer logo em seguida. Enquanto Paul e seu violão entoavam a clássica Blackbird, o palco se ergueu a uma altura de 8 metros. Foi dali de cima que ele citou o companheiro John Lennon, para quem dedicou a emocionante Here Today.
Após Lady Madonna e Eleanor Rigby, foi a vez de George Harrison ser lembrado. “Queria agradecer ao George por ter escrito uma canção tão bonita” acompanhou o início de Something, na qual Paul toca com um Ukulele.
O clima de tristeza foi logo substituído pela alegre e dançante Obla Di Obla Da, enquanto bexigas coloridas passeavam pela plateia. A radiofônica Let It Be aqueceu os fãs para a pirotecnia que viria a seguir com a épica Live and Let Die. As explosões sincronizadas com os ataques da música aliou o clássico aos recursos estéticos atuais.
Nem a chuva quis perder o momento mais esperado do show. Hey Jude e o “na na na” mais famoso da história foram acompanhados de uma tempestade que misturou as gotas de água com as lágrimas daqueles que viveram tantos momentos ao som dos Beatles.
Como se já não bastassem sucessos até aqui, o bis ainda trouxe Day Tripper, Helter Skelter e Yesterday, considerada por muitos a música mais linda já feita.
Por mais alta que seja a sua expectativa, estar na presença de um ícone como Paul McCartney é daquelas sensações raras e um tanto quanto inexplicáveis, ainda mais por se tratar de alguém que já viveu muito, mas que não se deixará morrer tão fácil.
Por Ezio Jemma
Atualizado em 26 Nov 2014.