Segunda bebida alcoólica de maior consumo nacional - atrás somente da cerveja -, a produção está divididas entre 40 mil alambiques legalizados e clandestinos. E quem logo imagina um destilado de gosto ruim, que desce queimando e sem valor, certamente não conhece as quatro mil marcas que investem em tecnologia e tradição para oferecer aos consumidores uma bebida agradável e ideal para qualquer ocasião, que rivalize com o uísque e a vodca nos bares e cafés do exterior e no próprio país. Agora chegou a hora de conhecer melhor a bebida de qualidade, com legislação específica, representante de nossa cultura e que conquista, a cada ano, os paladares e corações entre consumidores de alto poder aquisitivo.
Números
Segundo dados da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), a produção nacional anual de cachaça é estimada em 1 bilhão e 500 milhões de litros. E esse mercado gera US$ 500 milhões/ ano, 450 mil empregos diretos e 1 milhão de indiretos. Do total produzido, 40% são de origem artesanal, dos alambiques, cuja liderança está em Minas Gerais, enquanto o restante são industriais, concentrados em São Paulo, Pernambuco e Ceará. Só no Brasil, consomem-se diariamente 100 milhões de copos de cachaça entre 18h e 21h, horário ideal para relaxar após um dia estressante.
Apesar de a maioria da cachaça comercializada ser produzida instantaneamente, em escala industrial e a preços abaixo de R$ 5, as bebidas artesanais crescem no mercado, são descansadas ou envelhecidas em barris de madeira nobre e levam anos para ficarem pronta. O resultado é um destilado puro e sofisticado, com garrafas que chegam a custar até R$ 900, como é o caso da Havana, produzida no município de Salinas, Minas Gerais.
Características
Para se ter um melhor rigor e fiscalização na produção, a legislação brasileira determinou que a cachaça é definida como "A aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38º a 48º, obtida pela destilação do mostro fermentado do caldo de cana-de-açúcar". Caso passe dessa graduação, a bebida é reconhecida somente como aguardente.
Diferente dos outros destilados, como vinho ou uísque que só envelhecem no carvalho, a cachaça é a única bebida no mundo que faz isso em até 24 tipos de madeira, como bálsamo, jequitibá, umburama e freijó. Jairo Silva, o autor da obra Cachaça - O Mais Brasileiro dos Prazeres, aponta a particularidade da pinga. "Eles (uísque e vinho) privilegiam o envelhecimento e no final ficam mais com o gosto da madeira do que a própria matéria-prima (cereal ou uva), o DNA da cachaça é bem mais simples e fácil de notar, o resto fica em segundo plano".
De maneira geral, podemos dividir a marvada em dois tipos: brancas e amarelas. As cachaças brancas têm o mais puro sabor da cana e normalmente são armazenadas em tonéis de inox para descanso por alguns meses (não é envelhecimento) ou em madeiras neutra - jequitibá e freijó - que não soltam coloração.
As cachaças amarelas podem ser armazenadas em um dorna de madeira e conseguem essa cor através da adição de extratos de madeira ou calda de caramelo, misturados na cachaça branca, adocicando o sabor em relação a cachaça normal. Dentro dessas, ficam também as envelhecidas, guardadas por, no mínimo, 12 meses em toneis de madeira brasileira - bálsamo ou imburana, amendoim, cedro, freijó, jequitibá, dentre outras - ou em carvalho americano ou europeu, importado especialmente para isso. Com o tempo, cada madeira contribui para oferecer a bebida um aroma diferente, além de conferir a cor dourado e o sabor aveludado.
Degustação
Confira as dicas que o sommelier da Cachaça Leandro Batista, oferece para aprender a degustar uma branquinha:
1. Visual
Analise a cor. Ela tem que ser límpida, transparente e não pode ter nenhuma partícula. Na borda do copo costuma a aparecer uma oleosidade da cachaça e logo depois começam a escorrer as ´lágrimas´. Quanto mais lentamente elas escorrerem, maior é a quantidade de etanol e melhor a destilação.
2. Olfato
No aroma não pode sobressair o cheiro forte do álcool que arrepia e faz os olhos lacrimejarem - símbolos de cachaça de má qualidade. Nesse momento é bom prestar atenção nesse sentido, cada aroma lembra uma coisa, as descansadas na umburana lembram canela, as descansadas no bálsamo lembram o anis.
3. Gustação
Quando você sente o aroma e começa a salivar, isso também significa uma aceitação do organismo. Segure um pouco de saliva na boca e misture com a dose da cachaça, segurando um tempo para apreciar os sabores - além de apreciar mais intensamente, isso alivia uma possível queimação que a bebida oferece.
4. Final
Depois de engolir, respire pela boca e solte pelo nariz, isso facilita sentir os aromas que a bebida propicia.
Harmonização |
- Assim como o vinho, a cachaça pode acompanhar uma opção gastronômica. Para dar dicas de harmonizações, Jairo Silva organiza palestras sobre o tema e apresenta o drinque desde um simples aperitivo até um acompanhamento para doces. |
Saiba mais sobre o blend nacional:
Cachaça - A Bebida Brasileira
Autor: Erwin Weimann
Editora: Terceiro Nome
Ano de publicação: 2006
Páginas: 152
Preço: R$ 66
Cachaça - O Mais Brasileiros dos Prazeres
Autor: Jairo Martins da Silva
Editora: Anhembi Morumbi
Ano de publicação: 2008
Páginas: 212
Preço: R$ 59
Por Leonardo Filomeno
Atualizado em 10 Abr 2012.