Era no jardim de inverno da Estação Júlio Prestes que os ricos do começo do século 20 esperavam para embarcar nos vagões da primeira classe dos trens. O teto não tinha cobertura, o que possibilitava ver o céu estrelado à noite – mas as chuvas atingiam facilmente o jardim. Muitos anos se passaram, a estação foi cada vez menos utilizada até ser totalmente restaurada e virar a Sala São Paulo, na Luz, um dos melhores locais para concertos no mundo e que é assiiim... uma Brastemp.
E foi essa falta de cobertura que tornou possível a restauração do edifício e a construção da Sala, a única cujo teto é totalmente móvel. Ele pode ser rebaixado ou ficar suspenso a uma altura maior, dependendo do tipo de apresentação que for feita, o que interfere diretamente na qualidade do som. “Foi um casamento muito feliz. Só foi possível construir esse teto porque o prédio não tinha”, conta a supervisora do núcleo de educação patrimonial, Renata Lípia.
Hoje chamado Complexo Cultural Júlio Prestes, o local não comporta somente a Sala. Parte dela é a própria estação Julio Prestes que, no passado, se chamava São Paulo. Era de lá que, na época da sua fundação, saíam as milhares de toneladas do café produzido no interior do estado em direção ao porto de Santos. E a outra parte do prédio abriga a Secretaria de Cultura de São Paulo.
“Foi feita uma ressignificação do local. A Sala salvou o prédio e trouxe para a região pessoas que normalmente não viriam”, explica. Como o complexo é tombado pelo Patrimônio Histórico, ele não poderia ser derrubado ou ter suas características transformadas. O destino natural foi adaptá-lo para um recinto de concertos – e, hoje, a Sala São Paulo é a sede da Orquestra Sinfônica de São Paulo, a Osesp.
Engana-se quem pensa que música erudita é privilégio para os mesmos poucos endinheirados que viajavam de primeira classe na época do trem. Dois domingos por mês, a partir das 11h, acontecem os Concertos Matinais da Osesp – de graça. Outras apresentações rolam durante a semana a preços acessíveis. Além disso, as visitas monitoradas e atividades voltadas para as crianças mostram o que são as obras do gênero – uma forma de trazer esse universo tão rico para perto da garotada. “Fazemos isso para difundir a música clássica”, finaliza Renata. Afinal, se era na estação de trem que as pessoas chegavam e saíam, é a Sala São Paulo que reúne, hoje, as pessoas em torno da cultura.