No decorrer da vida, passamos todos por momentos e acontecimentos que nos marcam profundamente, pois parecem conter algo indecifrável para nós. Um deles, vale relatar, foi a decisão de entrar para o palco, uma escolha da qual me orgulho pela coragem em enfrentar o maior medo, a timidez: prova de que a realização do que almejamos é possível. A principal questão é: você está disposto a entrar no palco ou quer continuar na plateia?
Como toda criança, sonhava ter uma carreira de atriz, mas os caminhos da vida e as escolhas fazem os percursos mudarem de rumo. O caminho só foi desviado por um tempo e retomado mais tarde até a chegada do destino. O percurso escolhido compreendia também contrariar as expectativas familiares e as despesas financeiras.
Quando terminei a faculdade, aos 21 anos, casei e tive filhos, mas percebi que ainda precisava de respostas. Por isso, inscrevi-me no curso. No primeiro dia de aula fiquei encabulada ao chegar atrasada e ser levada até a sala lotada. Ora, já não era mais uma jovem de 17 anos entrando na faculdade, já tinha uma experiência de vida, mas não sabia o que esperar. No fim do semestre, saí com gostinho de quero mais e continuei a jornada.
No segundo período, somos preparados para apresentar uma cena aos outros alunos, já que, pedagogicamente, estamos todos na mesma situação. Foi o semestre de maior sofrimento, pois nele temos a prova de fogo em aceitar ou não "entrar pro paredão", isto é, todos os colegas analisam e criticam, sem dó nem piedade, sua apresentação. Sentia-me totalmente despida naquele palco ouvindo tudo o que podia ser melhorado. Ainda não podia desistir, pois não havia apresentado ao público uma peça teatral. Então, decidi continuar.
Antes de preparar a primeira peça no semestre seguinte, o professor aplicou um exercício com o tema da Mostra Macunaíma de Teatro "Minha Vida na Arte". De acordo com o professor Beto Marcondes, esse tema faria o aluno refletir sobre sua trajetória. "Fazer o aluno parar e refletir sobre a influência da arte (teatro) em sua vida possibilita um repertório mais vivo e ligado às expectativas de cada turma", disse.
Foi um momento emocionante. Apresentei fotos colocadas em cartazes com resumos das principais etapas da minha vida, até chegar ao teatro. Cada um com sua trajetória, mas com um mesmo objetivo: fazer da vida uma arte. Enquanto explicava, me lembrava das peças de teatro que fazia quando era criança junto com minha irmã, tia e amigas e apresentávamos para os familiares, vizinhos e amigos.
Passados por essa experiência, estávamos preparados para a escolha do texto, do qual me lembro com muito carinho e orgulho. O processo da construção dos personagens e da peça foi algo inesquecível. O grupo teve alguns desentendimentos que foram superados, como sugere Stanislavski em A Construção do Personagem: "Desde os primeiros passos que derem a serviço dele, habituem-se a entrar no teatro com os pés limpos".
Aconselho para quem ainda tem dúvida: faça o melhor. Observem que, quando as pessoas falam sobre o teatro, sempre há um brilho nos olhos. É uma escolha: comece e experimente. Terá orgulho de si e se tornará uma pessoa muito feliz, pois será uma escolha sua e de coração. "Amar a arte em nós e não a nós mesmos na arte", disse Constantin Stanislavski.
Quem é a colunista: Mônica Quiquinato.
O que faz: Mãe, jornalista e especialista em Comunicação Jornalística. Atualmente estuda teatro no Macunaíma.
Pecado gastronômico: Churrasco.
Melhor lugar do mundo: Minha casa.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Titãs, Legião Urbana, Led Zeppelin, Aerosmith, Metallica, Rush, David Bowie, entre outros.
Para falar com ela: [email protected].
Atualizado em 1 Dez 2011.