Apoiados no ano das eleições presidenciais, os expositores que participam da 29ª Bienal de Artes de São Paulo expõem suas criações com manifestações objetivas de protesto a divagações sociais.
Foto: Nathália Clark/ APH |
Com eleições presidenciais, Dilma e Serra foram "alvos" de artistas |
Entre fatos e boatos, o presidente da Fundação Bienal, Manoel Pires da Costa, foi acusado de inúmeras irregularidades pelo Ministério Público, inclusive de ter sido o responsável por uma dívida estimada em R$ 4 milhões. A nova diretoria, sob batuta de Heitor Martins, assumiu e deu abertura para que o tema fosse trabalhado pelos artistas.
Moacir dos Anjos, um dos curadores do evento, explica a relação entre os assuntos: "A 29º edição se contrapõe a visão tradicional da relação entre arte e política. Nosso interesse está na potencialidade da arte em fazer política, propondo uma genealogia possível acerca desta relação, dando ênfase aos artistas brasileiros e da América Latina".
Com a frase "há sempre um copo de mar para um homem navegar", o evento mostra que existe uma estreita ligação entre arte e política, refletindo o pensamento em suas 850 obras expostas, mostrando inclusive que a coligaçãos dos temas, não é tão atual quanto se imagina.
Na metade do século passado, Salvador Dalí já se mostrava a favor do comunismo e anarquismo e, anos depois, a série "Inimigos", do pernambucano Gil Vicente, acabou censurada por mostrar imagens de homicídio a celebridades políticas. Mas, afinal, quem são os artistas que, ainda hoje, não têm medo de falar?
Foto: Divulgação/ Bienal de São Paulo |
Em obra de Gil Vicente, políticos são assassinados pelo artista |
O alemão Joseph Beuys, que expõe suas obras no Sesc Pompeia - SP até 28 de novembro, traz a mostra "A Revolução Somos Nós", refletindo as características políticas do artista principalmente pela vivência que ele teve na Segunda Guerra Mundial. Depois de conhecer o Fluxus, um movimento onde é possível misturar música, artes visuais e outros conceitos, Beuys ficou ainda mais inspirado no papel que a arte representa diretamente na sociedade, fazendo com que as pessoas façam suas contestações.
Já a portuguesa Paula Rego é pintora e, apesar de ter iniciado sua carreira com quadros sobre o mundo infantil, foi inspirada pelas escritas do jornalista George Orwell, com a obra "Muro das Proles". A inspiração em questão era, além de tudo, um romancista que ia contra qualquer tipo de autoridade. Apesar de seguir seu caminho com quadros que mostravam mais a mulher e os momentos pessoais pelos quais ela vinha passando, a pintura "Aborto", finalizada em 1999, foi uma crítica às primeiras polêmicas geradas pelo assunto.
Joseph Kosuth, que está na Bienal deste ano com quatro painéis, chegou a desenhar trabalhos a favor de Bill Clinton e contra George Buh, em 1992, mas foi ameaçado de censura. Isso não o impediu de permanecer no museu em que se encontrava até que seu candidato favorito vencesse as eleições.
Enquanto isso, o brasileiro Paulo Bruscky mostra suas obras em diferentes mídias, indo de intervenções a filmes e fotografias. O artista pratica o experimentalismo desde os anos 60 e, em 1978, chegou a desfilar pelas ruas com uma placa no pescoço onde questionava o que é a arte e para que serve. Na luta contra a ditadura, em 1973, interrompeu o tráfego numa avenida de sua cidade natal - Recife - com uma fita de cetim vermelho.
Outro nome importante das artes plásticas do Brasil é Alex Flemming, um paulista que questiona sempre a sociedade, seja em pinturas ou fotografias. Na exposição "Flying Carpets", por exemplo, que coincidiu sua data com o aniversário de dois anos do ataque às torres gêmeas, nos Estados Unidos, faz uma alusão sobre Oriente e Ocidente.
Mas, são somente os quadros que conseguem fazer a arte andar de mãos dadas com a política? Este ano, a Bienal assumiu que há ainda outras maneiras de manifestação que não apenas a obra assinada por quem se dedica a isso.
Em 2008, um grupo invadiu a "Bienal do Vazio", como ficou conhecido o evento, e pichou o andar que não abrigava nenhuma peça. Em 2010, a curadoria assumiu que os pichadores são verdadeiros artistas e acabaram tomando a intervenção como uma forma de abrir questionamentos na vida comum.
Atualizado em 6 Set 2011.