Com uma lanterna na mão, o público desce por meio de escadarias mal-iluminadas, até chegar à plateia. O ingresso não só garante o direito de assistir à peça, mas também poderá - caso tenha vontade - interagir com os outros atores no palco. Para participar, basta colocar um ponto eletrônico e seguir exatamente as instruções passadas pelo ouvido de um ator. Essa foi a fórmula desenvolvida por Ricardo Karman para dar origem ao Teatrokê.
À frente da Kompanhia Centro da Terra, o diretor idealizou um espetáculo me que a interação com o público ultrapassa a barreira entre o tablado e a plateia. Para isso, inspirou-se no karaokê, invenção japonesa em que as pessoas têm total liberdade sem inibições diante dos inevitáveis timbres de voz desafinados, na tentativa de interpretar as mais diversas canções populares. "No começo fica um pouco nervoso, mas com o termino da encenação quer se candidatar de novo, para fazer melhor", aponta o administrador Cristiano De La Rosa.
No palco, as curtas esquetes incentivam os candidatos de última hora, que recebem as instruções e inflexões pelo ponto eletrônico. Basta repetir as falas e obedecer aos comandos do ator. O resultado é improviso, risadas e um gostinho de quero mais. "É uma situação muito engraçada. As figurinistas te vestem, não falam nada e você fica tentando identificar do que está caracterizado. Só em cena é que vai descobrir", comenta a professora de educação física Alexandra Arze.
Universo mágico
Para atrair o público, o programa intercala textos de dramaturgos consagrados, como William Shakespeare e Marcelo Rubens Paiva, com o de escritores contemporâneos - Samir Yazbek e Fabito Richter . Todos, é claro, com uma levada bem humorística. "Se o voluntário estiver apto ao jogo e tiver prazer em se entregar à interpretação, a cena flui muito bem. Não colocamos o público em constrangimento, por isso, eles se candidatam e acabam adorando a experiência", enfatiza Karman. O resultado são sessões sempre lotadas desde sua estreia em abril, com direito até a lista de espera.
E quem pensa que tudo acontece na base do improviso, está enganado. Cada nova promessa do mundo artístico recebe tratamento Vip, com direito a figurino próprio, mesas com canapés, sucos e muito mais. "Fiquei um pouco nervoso, porque as pessoas que foram antes de mim fizeram bonito. Quando cheguei ao camarim, não pensei duas vezes: pedi um conhaque para relaxar", revela o empresário Carlos Altiere.
Pelo seu pioneirismo, o diretor revela ter recebido propostas para montar o espetáculo em outros teatros paulistanos, mas prefere reservar a exclusividade do evento para as terças-feiras, no espaço da Kompanhia Centro da Terra. "Pensamos em fazer em outros lugares fora de São Paulo, mas aqui só vai acontecer no Centro da Terra, porque é produto nosso", anuncia Ricardo Karman.
Stand Up x Teatrokê
Durante a encenação, os atores profissionais que acompanham o espectador/ator trabalham com o roteiro decorado, deixando o acaso somente para o novato. Isso dá margem a um desfecho sempre novo e inesperado. Embora o improviso esteja presente, colocar o público como protagonista diferencia o espetáculo de outras stand up. "Somos exclusivos por trazer o público para sentir com a gente anseios e inseguranças próprias do começo da profissão. É a única oportunidade de as pessoas provarem isso", reverbera o mestre de cerimônia Gustavo Vaz.
Com essa levada de humorismo, descontração e inovação, as pessoas que participam indicam aos amigos e, quem não teve coragem de subir, volta para atuar. "É uma coisa bem feita, um trabalho sério e quem assiste ainda tem a possibilidade de estar na construção do espetáculo. O diferencial é que, além de ser uma reciclagem do teatro atual, ajuda as pessoas a readquirirem o gosto por essa arte", evidencia Gustavo. Ficou interessado? Não passe vontade. Prepare sua encenação, entre com pé direito, e muita merda pra você!
Serviço:
Teatrokê - Kompanhia do Centro da Terra
Endereço: Rua Piracuama, 19 - Vila Pompeia
Telefone: (11) 3675-1595
Horário: terças, 21h
Preço: R$ 30,00 (capacidade 100 lugares)
Atualizado em 6 Set 2011.