Ganhei o livro Hell, de Lolita Pille, no meu aniversário de 18 anos, pouco tempo depois de ser lançado. A escritora tinha quase a minha idade, era francesa e fazia uma crítica à sociedade consumista em que vivia. No entanto, aquele cenário poderia ser inserido em qualquer outra parte do mundo que existissem jovens extasiados pelo início do século 21 e mergulhados na intensa globalização: Nova Iorque, Barcelona ou São Paulo?
A história foi traduzida em diversas línguas, transformada em filme e alçada a best-seller. Agora acaba de ser levada aos palcos por Hector Babenco, que aceitou o desafio de criar a primeira adaptação da obra para o teatro. Fato que me deixou curiosa, já que a última adaptação do diretor, Closer - Perto Demais, foi que definiu sua preferência teatral por histórias de amor entre personagens desiludidos.
Babenco ganhou o livro de sua esposa, a atriz Bárbara Paz, e contou em uma entrevista, que ficou extasiado com o fracasso do amor entre pessoas que tinham tudo para se darem bem, mas são impedidas pelo comportamento doentio delas mesmas. Com a parceria de Marco Antônio Braz, responsável pela direção de grandes sucessos como A alma boa de Setsuan, adaptou a obra que está em cartaz no Teatro do Sesi São Paulo.
Como não poderia ser diferente, Barbara Paz é quem interpreta Hell, uma garota rica, cocainômana e alcoólatra, que se preocupa apenas com sua beleza e em comprar em lojas de grifes. Uma interpretação que em nada se assemelha com sua performance como Renata de Viver a Vida, principalmente porque, na época, a atriz chegou a falar que tinha se inspirado na cantora-problema Amy Winehouse. Desta vez, Barbara dá um show com sua interpretação melancólica e dramática e foge do estereótipo de menina mimada e drogada.
"A vida é uma sacanagem de merda e cada segundo de lucidez é um suplício.", diz a protagonista. As noites de sexo, bebedeira e drogas são, para ela, como uma válvula de escape. Não acredita no amor que, segundo ela, é uma ligação consoladora entre um "perverso e uma puta". No entanto, esta perspectiva muda depois que ela conhece Andrea, interpretado por Ricardo Tozi, um mauricinho que, até então, encarava a vida do mesmo jeito que a protagonista. Quão surpreendente é para os dois quando percebem que, de repente, o consumismo, as drogas e o álcool não conseguem mais preencher o vazio dentro deles.
Hell é um relato de alguém da alta sociedade, imersa na futilidade e que, mesmo assim, compreende a falta de algo mais complexo em seu próprio mundo. A paixão entre os dois personagens demonstra muito bem isso. Eles se amam e ficam surpreendidas com a vivência de um afeto verdadeiro, em meio a um cenário e convivência com pessoas que parecem não se importar com as outras.
Veja a resenha do espetáculo Hell
Leia as colunas anterioresde Denise Godinho:
DarCor ao Cinza
Milhoras de programação literária
História no Jardim Europa
Quem é a colunista:Denise Godinho.
O que faz: Jornalista.
PecadoGastronômico: Spaghetti ao molho de gorgonzola do CaféGirundino.
Melhor Lugar do Mundo:Qualquer lugar com os amigos.
O que está ouvindo emseu iPod, mp3, carro: Desde música brasileira com Paulinho Moska eZeca Baleiro, passando pelo rock alternativo de bandas como Franz Ferdinand,até as músicas "fofas" de She &Him.
Fale com ela: [email protected] ou a siga no twitter: @_azeviche_ .
Atualizado em 6 Set 2011.