Nem garotas e muito menos suecas. Os cinco marmanjos e a única integrante feminina do grupo paulistano ficaram conhecidos por vencer o prêmio de Aposta MTV no VMB de 2008, com somente um EP produzido na época. Não demorou para os norte-americanos se encantarem e foram eles que, de fato, apostaram na mistura brasileira de rock, soul e funk, com um quê de psicodelia dos anos 60 e um pé no contemporâneo.
O sexteto embalou festivais nos Estados Unidos, como o South by SouthWest, que lhe rendeu elogios nas mídias internacionais. E foi na gringa que o Garotas Suecas lançou em setembro seu primeiro CD, o Escaldante Banda, pelo selo californiano American Dust. O disco chega ao Brasil este mês, lançado de maneira independente e disponibilizado gratuitamente pelo site oficial. Depois do acalorado show no Centro Cultural São Paulo, o Guia da Semana conversou com o vocalista Guilherme Saldanha, o guitarrista Sérgio Sayeg (Sesa) e a tecladista Irina Bertolucci, confira a entrevista!
Guia da Semana: Como foram os primeiros passos da banda, vocês já começaram em seis?
Guilherme: Nos conhecemos num bar na Vila Madalena em 2005, eu e o Tomaz (guitarrista) tínhamos uma banda de folk e, durante um ano, fazíamos as jams. Lá, conhecemos o Sesa, decidimos montar o Garotas e fomos chamando outras pessoas.
Irina: Eu fui a última a entrar. Começamos a gravar em 2005 e, em 2008, saiu o videoclipe. Quando ganhamos o prêmio do VMB de Aposta MTV já tínhamos ido aos Estados Unidos e começávamos a engrenar por lá.
Guia da Semana: Como surgiu a oportunidade da banda engatar a carreira nos Estados Unidos?
Irina: Fomos para lá em junho de 2008, o Sesa morava lá há um ano. Rolaram uns contatos legais e conseguimos sair com uma infraestrutura e uma turnê marcada. A primeira foi em janeiro de 2009, com uns 15 shows e, desde então, fizemos quatro turnês com o EP Dinossauros.
Sesa: A primeira turnê com repertório diferente foi em março desse ano, quando estávamos gravando o disco e, em setembro, fizemos a turnê de lançamento.
Guia da Semana: O Escaldante Banda foi lançado primeiro nos Estados Unidos, pelo selo californiano American Dust. Como aconteceu isso?
Guilherme: Eles conheceram a gente no festival South by SouthWest. Na época foi uma pressão, mas foi da hora, os shows eram todos lotados!
Irina: Acho que tivemos sorte das pessoas certas terem ouvido, gostado e falado bem na mídia. É um caminho natural da imprensa de qualquer outro país, um fala, daí o outro fala também, e assim vai. É engraçado porque a gente é realmente uma das únicas bandas que está fazendo esse tipo de som por lá, sem ser uma coisa totalmente revivalista, de fazer exatamente o que era feito antes.
Guia da Semana: Como foi a temporada de shows na gringa?
Sesa: Tocamos em lugares muito variados, desde festivais de dia no gramado, super família, aberto ao publico, a uns buracos, bar de rock mesmo.
Guilherme: E até Convenção das Bruxas (risos).
Sesa: Mas a gente sempre se adapta! No festival, os pais acabam jogando as crianças para cima, no bar sujo, os doidões dançam.
Foto: Gael Oliveira
O Garotas Suecas contagia a plateia que reúne crianças, jovens e até a geração beat
Guia da Semana: Lá fora, comparam muito vocês com outras bandas brasileiras, como Os Mutantes?
Sesa: Sim, sim. E é irado, claro, Os Mutantes são geniais! Mas é que essa parte da cultura brasileira é muito celebrada nos Estados Unidos né. Os caras relançam todos os discos do Caetano em vinil, então, a gente acaba indo no caldo.
Guia da Semana: Pela quantidade de shows, vocês trabalharam mais fora do país que aqui. Vocês têm vontade agora de explorar a carreira no Brasil também?
Sesa: Essa vontade não é de agora. Lançamos antes lá porque rolou e não porque não queríamos aqui. A gente quer tocar aqui pra caralho, fazer o máximo de shows, com o máximo de gente. E lá também, onde quer que seja (risos)
Irina: Nunca planejamos lançar lá primeiro e vir para cá depois. Tanto que, em termos de tempo de banda, a gente ficou muito tempo aqui em São Paulo. Até porque era difícil sair e bancar a viagem. E ter ido para lá acaba tendo um respaldo positivo aqui e agora temos mais possibilidades de fazer shows no Brasil do que há 4 anos.
Guia da Semana: O Escaldante Banda foi lançado no Brasil de maneira independente, como foi isso?
Irina: Lançar independente foi uma opção porque a gente realmente queria ter o disco no Brasil. Mas procuramos bastante, até selos menores e independentes.
Guilherme: É que aqui não tem muita estrutura para isso, lá é bem mais fácil. Nosso selo de lá é pequeno e não rola uma grana brutal, mas dá para fazer a produção das músicas e turnê.
Irina: E aqui, não vão querer investir se não forem ganhar muito dinheiro em cima. Cansamos de esperar e resolvemos lançar de forma independente, foi isso.
Guia da Semana: O que vocês acham da produção independente no Brasil?
Irina: Eu acho que tem muita gente que está voltando pro independente e, vindo pro independente os que nunca foram. É uma opção muito interessante, você não tem toda aquela grana injetada na banda, mas é você que cuida da própria carreira, o dinheiro vai direito para você e não tem nenhum intermediário "mega-load" como uma gravadora. Acho que hoje em dia rola mais fazer esses esquemas auto-geridos.
Sesa: Acho que o lance é você se associar com pessoas, produtores e selos pequenos ou não-selos, mas que façam a coisa rolar.
Guia da Semana: Quais são as influências musicais da banda?
Sesa: A gente ouve muita música brasileira, soul, sambasoul, Tim Maia, Roberto Carlos, Erasmo Carlos.
Irina: Acho que cada um tem sua influencia, o Tomaz escuta bastante Luiz Melodia, o Perdido escuta muito Mitter e Sly & The Family Stone, por exemplo.
Foto: Gael Oliveira
Irina canta a única música em inglês do CD, Sunday Nigth Blues
Guia da Semana: Do EP Dinossauro para o Escaldante Banda, o que mudou?
Irina: Acho que fomos escolhendo melhor o que ia em cada música, e não colocar tudo em todas as músicas. Tiramos linha de baixo muito rebuscada, percebemos que não precisa ter órgão e piano junto, e assim fomos tirando e pondo até achar a medida certa.
Guia da Semana: O Escaldante Banda termina com Sunday Night Blues, que distoa um pouco das outras, por ser a única música em inglês e com a voz doce da Irina...
Irina: Já tínhamos essa ideia de que eu cantaria uma música e o Tomaz escreveu esse blues, que era bem melancólico. Mas como era em inglês, não queríamos um blues tradicional e transformamos num sambablues.
Sesa: Acho que ter uma música que foge completamente dialoga com todos os discos que a gente ouve, que muitas vezes tem uma faixa que não tem nada a ver, mas que faz todo o charme.
Guia da Semana: Agora uma curiosidade, por quê Garotas Suecas?
Guilherme: Eu e o Tomaz estávamos em Foz do Iguaçu e conhecemos umas garotas suecas no albergue. Fizemos uma música pra elas que se chamava Swedish Girls. E quando a gente voltou para São Paulo, a banda estava começando e precisávamos de um nome, tinha que ser um nome engraçado que cada vez você risse menos dele. Daí eu falei "Garotas Suecas", estávamos comendo pastel na Vila Madalena e os caras falaram: "Legal, mas não" (risos). No dia seguinte, o Sesa me ligou e falou, "pô, Garotas Suecas!"
Guia da Semana: E o nome do CD, Escaldante Banda, de onde vem?
Guilherme: Escaldante Banda é referência a uma música do Jorge Ben que ele canta da "escaldante banda do seu Tião Brilhantina".
Sesa: E que se apresenta junto com o "macaco ciclista, o urubu que toca flauta e violão, a orquestra de sapo e a girafa seresteira".
Irina: E esse disco é bem pra cima, é um disco quente, de música escaldante.
Atualizado em 6 Set 2011.