Jennifer Lawrence não será intimidada. Em seu novo filme, “Operação Red Sparrow”, a atriz que já foi a sobrevivente Katniss Everdeen e a mutante Mística interpreta uma espiã russa treinada para seduzir, identificar fraquezas e destruir seus adversários usando muito mais do que a força bruta. Enviada a uma rigorosa “escola de espiões”, a jovem Dominika Egorova deve aprender a usar seu corpo como uma ferramenta de trabalho, mas ela não vai deixar que outras pessoas criem as regras para o sua vida... E nem Jennifer.
Em entrevista concedida à imprensa brasileira, a atriz e o diretor do filme, Francis Lawrence (que já trabalhara com ela na trilogia “Jogos Vorazes”, mas não tem qualquer relação de parentesco, apesar do sobrenome), falaram sobre o peso de uma personagem como Dominika no cinema atual, a pressão por sequências em Hollywood, a gravação das pesadas cenas de tortura e o desafio de lançar um filme que não é “para toda a família”, nem baseado em quadrinhos.
Jennifer abriu a coletiva (virtual, realizada através de um telão num dos maiores cinemas da cidade) falando sobre a relevância de sua personagem para o público feminino. “É um filme empoderador... Eu me senti empoderada, pessoalmente, ao fazê-lo”, declarou, ecoando outra entrevista recente dada à revista americana Variety, em que revelou que as cenas de nudez e sensualidade no filme a ajudaram a superar o trauma de ter fotos íntimas vazadas na internet, alguns anos atrás. “A insegurança e o medo de ser julgada por minha nudez não deveriam ditar as decisões que eu faço na minha vida”, disse, na ocasião.
De fato, não deveriam, e a atriz aproveitou o encontro com os brasileiros para explicar exatamente quais são os fatores que ditam a escolha de um papel na sua extensa lista de sucessos. “Eu quero me desafiar, sempre. Quero trabalhar com um diretor que eu admiro e em quem confio, e é claro que preciso gostar do roteiro. Também procuro uma personagem que me intriga, e, cá entre nós, você às vezes precisa ficar seis meses sendo a mesma pessoa... Então pode ser tão simples quanto ‘Eu quero ser essa pessoa por seis meses? Nós nos conectamos? Eu a entendo, consigo fazer isso, vai me desafiar?’”
No caso, Dominika trouxe alguns desafios mais físicos para a atriz, que precisou gravar cenas onde era torturada, presa e agredida. Mas, fazendo questão de se afastar de outras polêmicas envolvendo atrizes que se disseram oprimidas ou abusadas por seus diretores em situações semelhantes (o último dos acusados tendo sido Quentin Tarantino), Jennifer exaltou a transparência na relação com Francis, que deixara claro tudo o que aconteceria no set e filmara com a maior segurança e rapidez possíveis. “Essa é a vantagem de trabalhar com alguém que é organizado e focado”, explicou, ressaltando ainda que o clima entre os atores era de descontração, mesmo quando a cena pedia sentimentos mais pesados. “Qualquer projeto que eu faço, no final do dia é apenas trabalho e se eu não estiver feliz ou me divertindo, eu não vou querer fazer.”
“Operação Red Sparrow” é baseado numa trilogia literária escrita por Jason Matthews, cujo primeiro livro foi traduzido para o Brasil como “Roleta Russa”. Naturalmente, já se especula se o filme também será o início de uma franquia, mas Francis Lawrence prefere evitar promessas. “Se as pessoas abraçarem o filme e sentirmos que fazer uma sequência é a coisa certa, adoraríamos fazê-la... Mas” – e completa deixando um recado para a concorrência: “esta não é uma franquia que estamos enfiando pelas gargantas das pessoas, com datas já agendadas para o futuro”. Será?
Início de uma franquia ou não, o fato é que o filme traz aos cinemas uma história ainda pouco conhecida pelo público, exceto pelos leitores de Matthews. “É uma sensação boa fazer algo que não é um reboot ou um remake de outra coisa”, defende o cineasta, que se diz aliviado por poder trabalhar com um tom mais adulto, sem se preocupar em agradar a toda a família. Mas até o público adulto pode acabar se mostrando um desafio: “É muito bom fazer tudo isso, mas chegamos àquele ponto em que precisamos ver se as pessoas vão apoiar um filme assim. E isso é o que é mais assustador: este não é um filme de quadrinhos”.
“Operação Red Sparrow” chega aos cinemas de todo o país nesta quinta-feira, 1º de março.
Por Juliana Varella
Atualizado em 8 Mar 2018.