Em 2009, um voo doméstico com 155 pessoas a bordo precisou fazer um pouso forçado nas águas do rio Hudson, em Nova York. O comandante, Chesley Sullenberger (ou, simplesmente, Sully), tinha a opção de tentar alcançar um dos dois aeroportos mais próximos – ambos em regiões densamente povoadas –, mas confiou em sua intuição e escolheu a opção que acabou salvando a vida de todos. Mesmo assim, sua decisão foi questionada pela companhia aérea, insatisfeita com as perdas materiais.
É essa história real que Tom Hanks e Clint Eastwood trazem às telas a partir do dia 1º de dezembro no drama “Sully – O Herói do Rio Hudson”. Hanks interpreta o piloto, um homem sereno e confiante que precisa de mais frieza para lidar com os advogados do que com a tragédia que quase causou sua morte. Não por acaso, é justamente nesses pequenos dramas do cotidiano – não no acidente, mas no que vem depois – que os dois artistas encontram suas especialidades.
Surpreende que Eastwood não tenha trabalhado com Hanks antes. Um é como a realização da visão do outro: se Eastwood é o grande contador de histórias de heróis fragilizados, de gigantes que, no fundo, são apenas humanos, Hanks é a personificação desse herói. Ele é o homem comum que faz algo extraordinário e que, no fim do dia, só quer ser deixado em paz.
A parceria funciona bem e, entre delírios e flashbacks, o tal pouso na água se revela uma história apetitosa. Para quem tem medo de avião, o filme pode não ser muito confortável – especialmente porque sugere que pousos em água, em geral, são missões suicidas –, mas é interessante compreender o raciocínio do piloto e ver como cada personagem (do agente na Central de Controle até a equipe de resgate) desempenha um papel importante no processo.
“Sully” trabalha o dilema do homem que é visto como herói, mas julgado como irresponsável, e é possível ver nos olhos de Hanks a expressão de quem, por questão segundos, poderia ter causado um desastre. O filme, entretanto, fica tão preso aos fatos reais que lhe falta um elemento essencial da ficção: a conclusão. Falta aquele círculo completo que amarraria todas as pontas e daria a sensação de satisfação ou de “lição aprendida”, após todo um carrossel de emoções.
O que acontece é que testemunhamos o julgamento e conhecemos todos os detalhes do pouso, mas ficamos sem saber como Sully e os outros personagens voltaram às suas vidas depois do trauma, ou como aquele evento afetou suas rotinas e carreiras. Uma pequena cena, talvez, poderia ser o detalhe que daria sentido a todo o percurso.
Por Juliana Varella
Atualizado em 12 Dez 2016.