Guia da Semana

Dark Envoy é um título de RPG isométrico, com um visual steampunk (um dos melhores punks, afinal), desenvolvido e publicado pela Event Horizon. O jogo nos coloca no controle de um casal de irmãos que vê seu mundo virar de pernas por ar após um evento desastroso, e nos leva a acompanhar sua jornada na busca por respostas para o ocorrido, enquanto tentam encontrar seu lugar em uma nação dividida pela guerra.

E aí, será que vale nosso suado dinheiro e curto tempo? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria.

Quase lá

Que momento de alegria, leitores e leitoras. A lua brilha no céu, as estrelas embalam o sono dos justos e helicópteros pretos, sem nenhuma demarcação, sobrevoam nossas cabeças. Tudo na santa paz, não é mesmo? E além disso, temos um RPG para falar, e isométrico ainda! Tenho a impressão de que muitos começaram a ter um novo apreço pelo estilo, ou passaram a conhecer, após o agradável Baldur’s Gate 3, não é mesmo? Sendo assim, tudo que vier desse nicho sempre será bem vindo para nós.

Entra no ringue, então, pesando… uma quantidade específica de gigabytes, Dark Envoy! Recordo de ter me interessado pelo título por dois grandes motivos: primeiro, por se tratar do dito isométrico, como falei acima. Segundo, por ter uma pegada meio steampunk, um gênero visual que, em minha opinião, não é tão agraciado quanto deveria no mundo dos videojogos para computadores.

Dito isto, será que o jogo honra seu gênero, e seus parentes desta família, da forma que esperávamos e queríamos? Com todas as emoções, reviravoltas e vinganças? Será que devo apresentá-lo no almoço de domingo? Questões, questões. Que serão respondidas, espero, nas linhas que se seguem. Ou não, fiquem na expectativa e no mistério, povo querido que acessa esse site com alcunha alimentícia. Vamos em frente!

Dark Envoy
Confia na mãe, rapaz. (Imagem: Divulgação)

A trama de Dark Envoy é tipo assim. Em um mundo devastado pela guerra, e outras maravilhas mágicas da natureza, um casal de irmãos chamados Malakai e Kaela, filhos de pais refugiados, ganham a vida se aventuram por ruínas em busca de relíquias para troca e venda. O primeiro é o mais cabeça dura do par, impulsivo e estouradinho. Kaela é a irmã centrada, paciente e calma. Ainda que sejam diferentes, os dois se dão bem, e seu relacionamento é um dos pontos altos da experiência.

Contudo, a vidinha (mais ou menos) pacata que conhecem logo irá mudar. Eventos que não contarei aqui forçarão os dois a deixarem o conforto do lar e encarar o mundo em busca de respostas para os ocorridos, além de descobrir qual o lugar que os dois terão no conflito que assola a região em que vivem. Nada muito diferente da forma, de fato, mas exposto de uma forma suficientemente competente para nos intrigar.

Dark Envoy também conta com um sistema de escolhas bem legal, que ajuda a moldar tanto a narrativa quanto as reações de cada personagem aos eventos e conversas que irão se seguir. Eu achei isso muito maneiro, tanto pelo efeito rejogabilidade quanto por sentir que sou mais um agente ativo na trama, do que apenas o cara que controla os bonecos com o mouse. Contudo, infelizmente, os personagens de apoio que interagem com os protagonistas não são muito interessantes, servindo mais como gente para ajudar na hora da briga e nada mais. Isso é aliviado, de certa forma, pelas quests pessoais que cada um tem.

Dark Envoy
Tudo muda Malakai, meu rapaz. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Dark Envoy revolve, majoritariamente, em volta de seu sistema de combate e das quests que completamos para botar a narrativa para frente. Como o primeiro ponto é o mais importante, e de foco me pareceu, irei falar mais sobre ele. Controlamos um esquadrão de quatro personagens, sendo os irmãos e mais dois outros em missões principais (algumas secundárias não possuem essa restrição), cada qual com suas classes e especializações específicas, cobrindo uma série de papéis dentro da equipe.

O combate se dá em tempo real, com a possibilidade de deixar o tempo bem mais lento, ou até parado por completo, se precisarmos da oportunidade de pensar nossas ações e posicionamentos com maior cuidado. Isso é uma adição bem legal, ainda mais pelo fato de que o jogo necessita de uma boa dose de microgerenciamento, tanto de nossas habilidades quanto de quem deve ficar em cada lugar. Nossos inimigos usam muitos ataques com dano em área, então mover nossos bonecos é essencial. Outro ponto forte são as pancadarias em larga escala, com uma grande quantidade de inimigos chegando toda hora, que costumam ser bem divertidas.

Dark Envoy nos oferece quatro arquétipos de classe, focado em dano mágico ou físico (de curto, médio e longo alcance) cada qual com 3 especializações. Com isso, o jogo nos dá um leque bem legal de opções, inclusive com habilidades que mudam o campo de batalha e podem ser utilizadas para criar umas estratégias bem criativas. Por exemplo, invocar espetos de rocha do chão para dividir os inimigos, ou afunilar um caminho para que andem diretamente em direção ao nosso tank.

O título brilha nessa parte quando tudo funciona bem, com magias voando para todo lado, nossas invocações batendo em um monte de inimigos por vez, danos em área até não querer mais e uma confusão generalizada, em câmera lenta para dar uma valorizada na emoção. De fato, Dark Envoy até que entrega uma experiência bem agradável, e que me manteve jogando por um bom tempo. O problema é, infelizmente, quando as coisas dão errado.

Dark Envoy
O combate de Dark Envoy é bem legal. (Imagem: Divulgação)

Contudo, para todo lado bom de Dark Envoy observei um oposto maléfico logo na esquina, esperando para me emboscar. Sabem os combates em larga escala, super divertidos? Então, por vezes eles duram demais, com inimigos aparecendo por o que parece ser uma eternidade. Sabe a graça de se posicionar? Pois é, não encontrei a opção de definir uma formação de combate. Logo, meu tank mais lento sempre demorava mais que os outros dps mais lentos na hora da confusão, negando muito de sua utilidade. E a movimentação? Por vezes, os personagens ou não encontram os caminhos quando mandamos mover, ou andam e param no meio do fogo esperando para levar uma flechada na cara.

A narrativa interessante sofre com missões que bugam, sendo necessários reloads constantes para pontos anteriores por conta de um NPC que desistiu de seu emprego seríssimo de me mandar achar o gato dele na árvore, acreditem só. E falando em salvar, por algum motivo meu jogo só iniciava de um save se eu fosse pela opção de carregar, visto que a de continuar não funciona. Entre outras pequenas alegrias.

Meu ponto com isso é mostrar que, por todas suas ideias legais, a execução de Dark Envoy deixou um pouco a desejar, ao menos do ponto de vista técnico. Não há como ter uma imersão real na luta de Malakai e Kaela se, com frequência, batemos de cara em algum erro de animação. Ou curtir o combate bem criativo se, para tudo que fazemos que sai um pouco da norma, o jogo se revolta e nos dá algum coice.

Dark Envoy
Esmagando os bugs. (Imagem: Divulgação)

Sons e visuais em Dark Envoy

Os visuais de Dark Envoy são uma salada mista, com efeitos de magias bem legais, que crescem aos olhos e explodem na tela, ao mesmo tempo em que apresentam texturas com uma resolução estranha, caras que se movem de forma pouco usual, uma certa quantidade de serrilhados e alguns momentos nos quais coisas como cabelos e roupas somem para dentro dos personagens.

A parte sonora até que me agradou, principalmente o tema das cidade e das masmorras. A dublagem de Mikail e Kaela funcionou bem, o que é uma graça visto que os ouvimos por uma boa parte do jogo. Contudo, todos que não sejam os dois tendem do mediano para baixo, infelizmente.

Dark Envoy
Sem tempo para explicações, irmão. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Dark Envoy?

Sabem, leitores e leitoras do pizzaverso, acho que Dark Envoy foi um dos jogos que tive mais dificuldade em pontuar. Ou, até, em saber como me sentia sobre, sabem? Façam como bons amigos e amigos que são, e me escutem. Eu me perguntava se havia gostado a mais do que devia, ou a menos. Afinal, o jogo tem seus altos e baixos. Bom, vamos pensar juntos, recapitular e tentar responder esse dilema.

Do lado dos sorrisos, temos um sistema de combate bem legal, com foco em microgerenciamento e uns combates em larga escala bem divertidos. Melhorado pelo fato de termos uma boa quantidade de classes e habilidades para brincar. A narrativa também agrada, com as diversas escolhas dando um motivo a mais para rejogar. Pelo lado negativo, algumas escolhas obtusas como inimigos reaparecendo toda hora e uma quantidade significativa de bugs puxam a experiência pelo pé, como se fosse um dos tentáculos daquele velho senhor com tentáculos na cara que vive no fundo do mar.

Ao fim e ao cabo, acho que a experiência de Dark Envoy se torna valida, nesse momento, em duas situações. Primeiro, se apreciarem o gênero e quiserem algo do tipo para dar fim naquela vontade existencial. Eu, por exemplo, não me arrependo de jogar apesar dos pesares. A segunda seria se tiverem a paciência de lidar com as falhas técnicas. Valer, o jogo vale. Ocorre, apenas, de necessitar de mais alguns ajustes até poder ser aproveitado da maneira ideal.

Dark Envoy chega hoje, 24 de outubro, para PC, via Steam e GOG.com.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Event Horizon.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 24 Out 2023.