Guia da Semana

Stranger Things, uma das séries de TV mais populares nos últimos anos, vem marcando época na Netflix. A ideia de colocar crianças em um mundo sobrenatural, somada à ideia de explorar realidades físicas paralelas e uma estética dos anos 1980 foi um sucesso estrondoso. No ar desde 2016, a série influencia muitas obras do audiovisual, como o nosso jogo do dia: Echo Generation, lançado em 2021 para PC e Xbox, mas que agora ganha uma versão aprimorada batizada como Midnight Edition.

As melhorias são válidas: além da versão para Nintendo Switch, utilizada nessa análise, o game ganhou melhorias visuais, novos controles de câmera, atualizações de combate, viagem rápida, um log de missões e suporte para doze idiomas, incluindo o português do Brasil. Eu não cheguei a jogar o Echo Generation original, e essa é a minha primeira experiência com o game. Quer saber o que achei? Vem comigo em mais uma review (antecipada?) do Pizza Fria!

Era uma vez os anos 80…

Eu nasci em 1991, o que significa que, na prática, muito do conteúdo de entretenimento consumido por mim quando criança foi produzido na década passada, em 1980. Estamos falando de um tempo onde locadoras de fitas VHS faziam um tremendo sucesso, não havia internet banda larga, dispositivos inteligentes em nossas casas e bolsos não passavam de delírios de filmes de ficção científica. Logo, a forma como crianças na época se comunicavam era ou na escola, ou na rua. Foi através do último método que fiz amizades, algumas das quais cultivo até hoje.

Tirando o meu delírio nostálgico do parágrafo acima, foi bem assim que jogar Echo Generation me fez me sentir. Era uma época mais leve e, no Brasil, tudo chegava com alguns anos de atraso, assim me identifiquei por algumas das aventuras vivenciadas no jogo. Não, eu não encontrei alienígenas espalhados pela minha cidade do interior de Minas Gerais, falei com animais ou mesmo combati uma corporação que levou meu pai para uma viagem sem volta. Me identifiquei com a simplicidade e leveza dos diálogos, dos gráficos pixelados bem construídos, das batalhas por turno de games que tanto joguei e que moldaram o adulto nostálgico que escreve esse monte de blá-blá-blá nesse site.

Echo Generation: Midnight Edition
Eu não, senhor Papagaio… (Imagem: Reprodução)

Echo Generation: Midnight Edition nos coloca no controle de um personagem que podemos escolher o nome e definir entre algumas aparências pré-definidas. Em seguida, somos apresentados à nossa irmã mais nova, Lily, pegamos nosso gato e partimos em uma missão despretensiosa pela vizinhança, resolvendo problemas alheios enquanto tentamos buscar algum recurso para gravar um filme. No meio do caminho, coisas estranhas acontecem, personagens curiosos e que não são desse mundo aparecem. E as crianças lidam com uma inocência e empolgação que só quem viveu essa época vai conseguir se identificar. Talvez por isso o título tenha me pegado tanto.

A narrativa de Echo Generation: Midnight Edition passa longe de ser digna de um Oscar, na real é bastante simples e previsível. Mas é divertida o suficiente, com uma excelente localização em português do Brasil, que me fez levantar a pergunta de porque não tinha jogado o jogo antes. Mas felizmente esse erro foi corrigido, e hoje me sinto um adulto um pouco mais feliz – e nostálgico – depois dessa experiência.

Echo Generation: Midnight Edition
A(o) irmã(o) mais velho pode ser criado ao gosto do jogador (Imagem: Divulgação)

Um RPG de turnos diferente

Echo Generation: Midnight Edition traz um estilo de gameplay bem popular nas décadas de 1980 e 1990, um RPG com as batalhas por turnos. Mas ao contrário de franquias que fizeram muito sucesso no gênero, onde temos os personagens batalhando, ganhando EXP, subindo de nível e melhorando atributos, aprendendo novos golpes, aqui a história é um pouco diferente. Embora utilize das bases do gênero, o game traz mecânicas únicas, que dão uma “cara” ao jogo.

Todo o ABC está lá. Batalhamos, ganhamos EXP e subimos de nível. Mas, a cada level melhorado, temos uma escolha a fazer: melhorar a vida, a força ou a quantidade de habilidades que aquele personagem pode oferecer. Encontrar esse equilíbrio é fundamental para a progressão, em toda a sua party – sempre composta por três personagens. Isso porque nenhum outro atributo é melhorado, o que já é uma significativa diferença em comparação a outros jogos. Em seguida, temos os golpes. Aprendemos habilidades especiais novas explorando o mundo de Echo Generation, principalmente ao encontrar gibis. Apesar de alguns dos gibis serem recompensas ao derrotarmos bosses, a principal forma de obtenção deles ainda é na exploração.

Echo Generation: Midnight Edition
A tela de batalha em Echo Generation: Midnight Edition nos mostra a ordem de ataque, e o potencial ofensivo de cada um dos golpes, desde que você acerte os QTE (Imagem: Reprodução)

Mais do que isso, o combate em si é muito mais estratégico do que parece. Cada uma das habilidades que obtemos traz informações sobre sua força de ataque, e o número é sempre variável. A explicação é porque Echo Generation: Midnight Edition traz Quick Time Events (QTE) em cada uma das ações da luta. Errar o QTE significa um golpe com a força mínima, enquanto acertar o QTE representa um golpe crítico. Acertar cinco golpes críticos ainda melhora os pontos de habilidade dentro da luta, que permitem usar as habilidades obtidas através dos quadrinhos.

Traduzindo: os pontos de habilidade são como um MP, e eles até podem ser restaurados durante as lutas, à custa de uso de itens. O problema é que, ao menos no começo do jogo, dinheiro é um problema grave, e os itens acabam sendo caros. Aqui, eu adotei uma estratégia de decorar qual habilidade era mais fácil de acertar os QTEs, conforme ia progredindo, e usa-as sempre, mesmo que representasse um dano menor. A habillidade “Cortando Lenha”, do protagonista, requer que os botões A e B sejam pressionados alternadamente, enquanto a “Estrela Cadente” precisamos apenas “posicionar o cursos em qual ordem as estrelas caem do céu, sem necessariamente apertar algum botão.

 Echo Generation: Midnight Edition
Assim funciona a “Estrela Cadente” em Echo Generation: Midnight Edition (Imagem: Reprodução)

No fim das contas, diante toda a parte estratégica do combate de Echo Generation: Midnight Edition, as batalhas tornaram-se mais previsíveis. Isso não é ruim, mas também não é bom. Como a duração do jogo não é longa, e há poucas batalhas randômicas no jogo, essa tática funciona bem. Caso seguisse a linha de RPGs mais tradicionais com uma necessidade de grind maior, acertar QTEs e pensar em como derrotar cada inimigo comum do jogo, ao invés de só apertar um botão simples de ataque, seria algo bem cansativo.

Outro ponto que é um frustrante em Echo Generation: Midnight Edition é que alguns dos Pets (personagens que lutam ao lado do(a) protagonista e de Lily) são subutilizados. Dado ao sistema de nivelamento do jogo, quando obtemos eles, muitas vezes já estamos com o gato, o primeiro Pet recrutado, alguns levels acima do que aquele que acabamos de obter. Como a curva de dificuldade do jogo acompanha o nivelamento dos personagens, acabei não usando três dos cinco Pets recrutáveis em combate.

Echo Generation: Midnight Edition
A doce comemoração de vitória! (Imagem: Reprodução)

Um mundo explorável, bonito e divertido

Echo Generation nos coloca em um mundo 2.5D, dividido em várias regiões. Uma das novidades da Midnight Edition foi a inclusão de um Diário, que faz um acompanhamento das missões e do que é necessário para concluí-las, e de um teletransporte rápido, desbloqueável em cada uma das regiões que conhecemos e exploramos no game. Adições que eu considerei extremamente bem-vindas. Imagino que deve ter sido um pouco complicado jogar o game, andar pelo mundo, ou mesmo lembrar de tudo sem as anotações que o game registra para o jogador.

Echo Generation: Midnight Edition
Se desmaterializar é um sonho de criança? (Imagem: Divulgação)

Mas, mais do que isso, Echo Generation: Midnight Edition acerta em uma excelente localização para o português do Brasil, com uma boa dose de humor no texto. O visual pixelado é agradável aos olhos, e muito charmoso, em especial na tela OLED do Nintendo Switch. É aquele tipo de jogo que combina muito bem com o console híbrido da Nintendo.

Na parte sonora, no entanto, a coisa é um pouco diferente. Não que a trilha sonora seja ruim, mas por vezes é enjoativa e repetitiva, especialmente aquelas de regiões onde passamos boa parte do jogo, como o Subúrbio e o Centro da Cidade. A música da Vitória nas batalhas também é um tanto irritante, e chamou atenção inclusive da minha esposa, que acompanhava de longe o gameplay. Ao meu ver, valeria uma maior rotatividade nelas.

Echo Generation: Midnight Edition
De fato, seu polícia (Imagem: Reprodução)

Vale a pena comprar Echo Generation: Midnight Edition?

Indo bem direto ao ponto, a resposta é sim, especialmente se você for jogar em um Nintendo Switch. Echo Generation é uma homenagem nostálgica aos anos 80, com uma narrativa simples, mas cativante, e uma excelente localização para o português do Brasil. As melhorias da Midnight Edition como a inclusão de um diário de missões e o teletransporte rápido enriquecem bastante a experiência.

Os gráficos pixelados são charmosos e a gameplay estratégica em turnos proporcionam uma sensação de nostalgia para quem cresceu nas décadas de 1980 e 1990. Embora a trilha sonora possa ser repetitiva, isso não diminuiu aquela sensação de diversão que tive ao produzir essa review. Meu conselho é: se você gosta de aventuras com uma pitada de nostalgia, é um fã de Stranger Things, e/ou combate estratégico, Echo Generation: Midnight Edition é uma excelente escolha.

Echo Generation: Midnight Edition será lançado no dia 19 de junho para PC, via Steam, e Nintendo Switch. A versão Standard do game está disponível para para Xbox Series X|S, Xbox One e PC.

*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Cococucumber.

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Por Lucas Soares, Pizza Fria

Atualizado em 17 Jun 2024.