Guia da Semana

Forgive Me Father é um FPS retro com temática lovecraftiana desenvolvida pela Byte Barrel e distribuída pela Fulqrum Publishing. O título nos coloca no controle de dois personagens que vão até uma cidadezinha muito convidativa para encontrar com um primo. Nada de horripilante acontece, todos têm uma estadia maravilhosa e aquele verão entra para a história como um dos mais adoráveis de todos os tempos.

Interessados em acompanhar esse conto de fadas? Então venham comigo, em mais uma mágica e adorável análise do Pizza Fria.

Na doideira eterna, novamente

Nossa vida, leitoras e leitores deste website, realmente é feita de surpresas. Algumas excelentes, outras terríveis, e outras nem tanto assim. E algumas, tipo o que me ocorreu semana passada, realmente chegam pra surpreender. Vejam, minha cidadezinha pacata do interior foi invadida por um exército de homens-peixe outro dia, chamados por uns caras estranhos com robes e toucas, e todos entramos em um pânico perfeitamente esperado.

A surpresa, aí, veio do fato de que nossos novos senhores aquáticos até que são bem legais. Claro, eles nos obrigam a trabalhar e estão nos transformando em peixes, lentamente, mas nem tudo é perfeito o tempo todo. Por outro lado, por vezes eles nos fazem alguns agrados. Por exemplo, o goleiro do nosso time na pelada de domingo, Aiuemhaald’kru (vulgo Tonhão), me sugeriu um joguinho arretado para experimentar, que venho apresentar para vocês agora: Forgive Me Father. Ou perdoa painho, em terras tupiniquins.

Forgive Me Father é um FPS retrô, claramente inspirado em clássicos como Doom e Hexen, em minha visão, que se ousou fazer a seguinte pergunta: e se pegássemos esse estilo frenético de jogo, de alta voltagem, e colocássemos dentro do universo do velho Lovecraft? De fato, juntar gêneros com a mitologia criado por um dos maiores do horror é algo comum, a ponto de não impressionar se aparecer algum jogo ou livro daqui a uns anos com Cthullu ensinando a declarar o imposto de renda ou investir na bolsa, por exemplo. Que tempo para se estar vivo, não é mesmo?

Forgive Me Father
Procurando os recibos do churrasco de domingo. (Imagem: Divulgação)

A trama de Forgive Me Father é mais ou menos assim: o personagem que escolhemos jogar, o padre ou a jornalista, é chamado, em 1920, para a cidade de Pestisvile após receber uma carta de seu primo Louis. Algo errado não está certo no lugar, e cabe a nós descobrir a raiz do problema, encontrar nosso primo e sair dessa roubada em que nos metemos.

O título entra com os dois pés no mythos de Lovecraft, criando uma atmosfera e escrevendo um conto no qual a loucura, o horror corporal e a sensação de estar lutando uma guerra perdida contra algo ainda maior são ocorrências frequentes em nossa rotina. Apesar dos pesares com o autor enquanto pessoa, é inegável que sua obra criou todo um universo de horror sem igual.

Forgive Me Father aproveita isso com maestria, com suas narrações assombrosas, com os textos que encontramos, com as falas dos protagonistas. O padre, principalmente, soa como um cara que poderia estar em qualquer um dos livros facilmente. Principalmente aqueles que fizeram a fama de Lovecraft entre as massas, como A Sombra de Innsmouth, por exemplo. Não teria a oportunidade de sair largando o dedo com uma escopeta nas abominações, mas é a vida, não é mesmo?

Forgive Me Father
Não posso nem ir ao médico em paz. (Imagem: Divulgação)

Como comentei, Forgive Me Father é um FPS retro, na veia de gigantes do estilo como Doom. Em termos gerais, isso quer dizer que trocamos tiros com inimigos que podem nos bater de perto ou de longe, nesse caso através de projéteis que podemos ver chegando e desviar. O contrário do chamado hitscan. Já nosso boneco anda sempre na velocidade máxima, carrega um monte de armas e nunca precisa recarregar. Ah, e as fases sempre são cheias de segredos para descobrir. O jogo aplica tudo isso, com mais alguns adicionais para tornar a experiência bem diferente.

Comecemos pelo começo. Nosso objetivo, nas fases que não envolvem chefes, é andar do ponto A até o ponto B, coletando chaves para abrir portas e matando tudo que aparecer pela frente. Podemos coletar armas, munição, vida e colete pelo caminho, além de algumas habilidades que os personagens podem usar. Cada um tem quatro, que funcionam de forma similar, mas com especificidades de acordo com o estilo de jogo de cada um. O padre é mais defensivo e favorece um jogo lento e calmo, e a jornalista favorece agressividade e sair na doida para cima dos monstros.

Nossos personagens andam bem rápido, com animações fluídas e precisas. É necessário, afinal, dado que esse não é um jogo fácil. Muito pelo contrário, aliás. Uma coisa que me incomodou foi a câmera, que sempre me pareceu lenta ou rápida demais, mesmo após ajustes. Em títulos assim, qualquer demora ou vacilo pode causar uma morte violenta.

E botem violência nisso, meus caros. As armas de Forgive Me Father causam um estrago arrumado, e são uma belezura de usar. A escopeta, então? Cthulhu nos mares! Certa vez, ouvi que jogos nesse estilo se definem por suas shotguns e, se for o caso, temos um representante de peso aqui. E não pensem que ela é a única. Temos uma seleção generosa de armas para utilizar, todas muito divertidas e diferentes.

Forgive Me Father
A escopeta melhorada causa um estrado. (Imagem: Divulgação)

Bom, vimos que Forgive Me Father entrega uma jogabilidade viciante, com armas divertidas de usar e um ritmo acelerado. Agora, entram algumas mecânicas que realmente diferenciam o título de seus pares. Primeiro, temos as habilidades específicas do Padre e da Jornalista. Como falei, os dois possuem estilos de jogo opostos, em muito reforçado pelo que veremos agora.

Cada qual possui quatro habilidades, mais ou menos iguais. Temos uma que cura, uma que deixa os inimigos meio abobados, uma que protege, e por aí vai. O interessante é que cada um executa de forma diferente. Por exemplo, a cura do Padre é gradativa, ao mostrar uma cruz. A Jornalista invoca uma espada que rouba vida ao matar inimigos. Uma defensiva do primeiro o deixa invulnerável, e a da segunda dá um dano explosivo em área. E por aí vai.

Por fim, temos experiência que, ao chegar em um determinado valor, nos dá pontos para melhorar nossos atributos e armas. O legal disso é que podemos customizar muito nosso arsenal, com um conceito simples na tese e profundo na prática. A escopeta, por exemplo, pode virar ou uma arma abissal que ricocheteia ou uma gambiarra que dá mais dano. Uma metralhadora pode virar um lança-granada de gosma, ou atirar mais rápido. E por ai vai.

Forgive Me Father
A Jornalista e sua espada. (Imagem: Divulgação)

Sons e visuais em Forgive Me Father

Forgive Me Father foi feito com um estilo de quadrinhos muito legal, com cores vivas que deixam as coisas ainda mais bombásticas e sanguinolentas. O título também conta com uma mecânica de insanidade, que aumenta nosso dano e enche conforme matamos inimigos, que deixa tudo em preto e branco, fazendo o título virar quase um noir. Além disso, as inspirações Lovecraftianas foram muito bem realizadas, tornando o jogo um representante de peso dentro de seu gênero.

Em se tratado de sonoplastia, os elogios são os mesmos. A trilha sonora dança muito bem entre o assustador nos momentos mais calmos, raros que sejam, e as batidas mais pesadas quando o pau começa a comer de verdade. Fora isso, os sons dos monstros também ficaram um mimo.

Forgive Me Father
Essa doeu. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Forgive Me Father?

Pois bem, seres do abismo, é hora de seguirmos a loucura de sempre e tentar definir em números o fator de alegria desse videojogo eletrônico. Mas, me digam, é a influência de nosso senhor das profundezas, louvado seja, ou não reclamei de quase nada? De fato, diria que a experiência que tive com Forgive Me Father foi positivo na grande maioria do tempo. De negativo, apenas a câmera levemente problemática as vezes.

Já no positivo, encontrei um FPS com a cara da velha guarda que entrega uma ação frenética, com armas e habilidades variadas que deixam a experiência sempre dinâmica e viciante. De fato, o título nos prende com facilidade. Somado ao sistema leve de RPG, que permite customizar as coisas ao nosso estilo, e mapas com segredos e desafios, temos um jogo que vai poder agradar por um bom tempo.

E é isso, meus caros homens e mulheres peixe de R`Lyeh. Forgive Me Father fez honra ao seu material inspirador, entregando uma experiência refinada, por vezes assustadora e sempre envolvente. Seja curtir jogos de tiro, sejam mais atuais ou não, pode conferir sem medo de se feliz. E se for um apreciador do mythos, também. Verá que tudo foi feito com esmero, na honra de nosso bom e velho Old One.

Forgive Me Father foi lançado recentemente para PlayStation 4Xbox One e Nintendo Switch, após chegar originalmente em 2022 para PC, via SteamEpic Games Store e GOG.com.

*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Fulqrum Publishing. 

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 22 Out 2023.