Guia da Semana

Layers of Fear é um jogo de terror psicológico, com um enfoque pesado em trama e ambientação, desenvolvido pela Anshar Studios em conjunto com a Bloober Team, publicado pela própria Bloober Team. O título nos coloca no controle de uma série de personagens, patronos das artes, que se encontram envolvidos por situações além da realidade e perseguidos por alguma força sobrenatural.

E aí, será que vale a pena encarar esse B.O? É o que veremos agora, em mais uma análise artística e antecipada do Pizza Fria!

Estado da arte

Cá estamos nós, leitores e leitoras, com as mãos sujas de tinta, a roupa manchada além de qualquer salvação e o som das patas de incontáveis ratos correndo para tentar nos devorar como se fôssemos o queijo mais gostoso e fedorento deste lado do Atlântico. Nada mais, nada menos, do que a clássica experiência Layers of Fear, não é mesmo? Excepcional.

Layers of Fear, não é mesmo? Remake da versão homônima lançada faz alguns anos, contendo todo conteúdo dos dois jogos em um pacote só, o título foi responsável por trazer o estilo walking simulator para a vida de muitos, a minha incluída. Esse é daqueles nos quais andamos por cenários nos imergindo na atmosfera, entrando nas botas assustadas do protagonista e resolvendo pequenos puzzles. Combate, e afins, ou não entra na equação, ou não tem papel central.

Nada de pegar a sua Red 9, abençoada seja, e sair estourando ganados, senhor Leon. Não, a ideia aqui é andar pelos lugares e entender mais sobre os conflitos que devoram o psicológico de nosso personagem, os acontecimentos que o levaram a chegar naquele estado deplorável e tentar sentir um pouco do que ele sente, pelo bem e pelo mal.

Comecemos pela trama que, no fim das contas, é o elemento que mais dá valor à experiência proposta por Layers of Fears. Ela conta as desventuras de uma série de personagens, todos ligados às artes, que passam por situações que desafiam toda lógica e realidade, enquanto exploram determinados locais em buscas de respostas e, se for possível por favor, uma forma de escapar dessa loucura toda.

É fascinante a forma como o jogo une a tristeza e desgraça de cada personagem com a forma que os locais pelos quais passam se apresentam. Tomemos o pintor, por exemplo, que precisar andar através de sua casa em busca de respostas. Tudo que vemos conta um pouco sobre o que ele fez e passou, bem como é utilizado pela mansão em que estamos para esfregar em sua cara que o tempo passou e seu talento foi com ele.

Isso monta uma narrativa forte, que é passada e fortalecida de uma forma que o simples ato de encontrar documentos ou falar com outras personagens não poderia. Layers of Fear nos mantêm presos e fascinados com o que apresenta, sempre imaginando a próxima maneira que veremos nosso personagem ser torturado pelos crimes cometidos enquanto queremos, a mesmo tempo, descobrir o que eles fizeram.

A maestria com a qual isso é feito foi essencial para meu aproveitamento do título como um todo, haja visto que ele vive e morre com base em sua premissa. Conforme veremos um pouco a frente, a jogabilidade não passa de um alicerce pelo qual podemos interagir com os cenários em busca da próxima sequência, e não algo que define a experiência como em jogos do estilo Dead Island, por exemplo. Esse, inclusive, seria diametralmente oposto.

Layers of Fear
Imagem: Divulgação

Já em se tratando da jogabilidade de Layers of Fear, pintamos um quadro (há) bem menos suntuoso. Basicamente, o que mais fazemos durante sua duração é andar por ambientes -uma casa, uma mansão, por aí- enquanto nos deixamos levar pela ambientação e procuramos entender o que diabos está acontecendo. Tudo enquanto experimentamos acontecimentos fora do comum e vemos a realidade quebrar na nossa frente.

Podemos interagir com o mundo a nossa volta através de um sistema parecido com Amnesia, no qual utilizamos o R2 para pegar coisas, puxar portas, e por aí. Podemos utilizar uma lanterna para ver coisas no escuro ou espantar monstros, que não podem nos matar, e resolver alguns puzzles simples envolvendo a manipulação do cenário.

Uma coisa interessante é que a construção em que estamos muda de forma repentina, sem razão ou motivo, fazendo com que sejamos sempre surpresos. Imagina que estamos na mansão, seguindo por um corredor. Abrimos uma porta que dá para uma parede, na qual um rabisco nos chama de culpados. Viramos, e vemos que o caminho que viemos sumiu e estamos em um local completamente diferente. Isso é bem legal, e não cansei de ver acontecer.

Em suma, Layers of Fear usa o gameplay apenas como ponte para contar sua história, sem inovar ou implementar mecânicas mais complexas para gerar uma variedade. O que tem aqui é suficiente, e funciona de forma adequada sem gerar dores de cabeça ou apresentar erros. O único problema é que os mais emocionados entre nós podem se desinteressar, e não há motivação desse departamento para rejogar no futuro.

Sons e Visuais

Visualmente, Layers of Fear é um mimo. Posso falar, inclusive, que os cenários pelos quais passamos são tão protagonistas da história quanto as pessoas nas quais nos vemos representando. Tudo tem um propósito de ser e estar, e os gráficos são competentes o suficiente para gerar a imersão e mantê-la indo tranquila e sem problemas. As pinturas que vemos, inclusive, são muito bem feitas e de dar calafrios.

O departamento sonora também agrada, com vozes passando o range de emoções esperado e composições que conseguem nos colocar na emoção necessária quando necessário. As que tocam no final de certos segmentos, por exemplo, são sensacionais. As que ouvi no final do conto do pintor se mantiveram em minha mente por um tempo, tendo um impacto tal que até me fez julgar digno de notar aqui. Chiquérrimo.

Layers of Fear
Os cenários são um personagem, praticamente. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Layers of Fear?

É chegado o momento, leitoras e leitores, de respondermos duas perguntas importantes. Primeira, por que as paredes de minha casa estão se enchendo de espirais e estou ouvindo vozes do além? E segundo, será que Layers of Fear vale a pena? Bom, a primeira pode ter uma série de explicações, dentre elas o fato de eu ter comido um saco de jujubas. A segunda veremos agora, resumindo nosso papo.

Layers of Fear conta uma história intrincada e interessante, com momentos marcantes contados através de visuais singulares e uma trilha sonora de qualidade. Fiquei curioso durante toda a duração, tentando costurar o que tinha levado nossos protagonistas até onde estavam, e não me senti entediado ou frustrado. Contudo, a própria natureza do jogo faz com que ele seja melhor experimentado apenas uma vez, e o gameplay básico de exploração pode não ser suficiente para alguns.

Contudo, ao fim e ao cabo, me sinto tranquilo em recomendar Layers of Fear para qualquer um que curta uma boa história, ainda mais as atmosféricas e com certo peso na narrativa. O jogo conta com muito conteúdo, vide que compila tudo do Layers of Fear original e sua continuação, que é apresentado com maestria. Se procurar uma trama envolvente não irá se arrepender. Agora que terminamos, admito que tive dificuldade em escrever, quase um bloqueio. Uma mulher com cara de rato saiu de uma fotografia me oferecendo uma solução para o problema. Intrigante. O que poderia dar errado, não é mesmo?

O novo Layers of Fear é um remake de Layers of Fear e Layers of Fear 2 e de todos os DLCs, e também incluí um novo capítulo intitulado “The Final Note”. O game chega hoje para PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC e MacOS, via Steam.

*Review elaborada em um PlayStation 5, com código fornecido pela Bloober Team.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 15 Jun 2023.