Guia da Semana

Mato Anomalies é um RPG de turnos, com uma pegada neofuturista, desenvolvido pela Arrowiz e publicado pela Prime Matter. O jogo nos coloca no controle de dois protagonistas, que não poderiam ser mais diferentes, e precisam se aventurar pelos lados menos respeitáveis de uma cidade asiática futurística para dar cabo de uma ameaça que coloca em risco tanto suas vidas quanto a própria existência do lugar.

E aí, sentiram-se interessados? Se perguntando se a aventura vale o preço da admissão? É o que veremos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!

Quase noir

Ah, leitores e leitoras. Sejam bem vindos e vindas. Hora de mais uma dica de vida, cortesia de mais um momento culto aqui no Pizza Fria. Leiam muito e leiam sempre, de tudo que for permitido e possível. Além de trazer um aumento significativo no conhecimento e sabedoria, esse hábito também poderá te ajudar a fazer referências dentre assuntos que te interessam independente do meio que se apresentam, ajudando facilmente na hora de identificar coisas de seu interesse.

Por que digo isso? Vejam bem, um de meus livros favoritos se chama Andróides sonham com ovelhas elétricas?, de Philip K. Dick. Provavelmente já viram um filme famoso baseado nele, chamado Blade Runner. Um clássico, não é mesmo? Sendo assim, tudo que vejo que remete remotamente ao estilo neonoir futurista dessa obra me atrai instantaneamente. Por isso, assim que bati os olhos em algumas imagens de Mato Anomalies senti que poderia me agradar. Se não por seu gameplay, ao menos por sua estética e premissa.

De fato, jogos com essa pegada não são tão comuns na praça, e qualquer um que apareça deve ser saboreado rapidamente. Se bem me recordo, um dos últimos de qualidade que tive o prazer de experimentar nesses últimos anos foi Disco Elysium, que por sinal entrou na lista de melhores do ano de várias pessoas dentro e fora da cena de jogos e suas análises. Bom, feita a contextualização e meu momento coach do dia, sigamos com a história do título.

Mato Anomalies
Noir é o que há. (Imagem: Divulgação)

A trama de Mato Anomalies começa com o detetive particular Doe que, ao conduzir um investigação para uma mestra espiã chamada Nightshade, acaba descobrindo a existência de dimensões paralelas chamadas rifts, que são repletas de monstros. Após cair acidentalmente dentro de uma delas, ele é salvo pelo exorcista Gram e, partindo daí, os dois iniciam uma jornada para descobrir a origem desses fenômenos e como dar cabo deles.

Tendo isso como ponto de partida, Mato Anomalies se desenrola como um grande caso de detetive, no qual fazemos aliados e desafetos enquanto investigamos pistas que nos deixam, algumas vezes, mais perto de nosso objetivo e das respostas que buscamos. De onde vieram essas fendas espaciais? E os Bane Tide, os monstros que as habitam? Qual a história de Gram, e dos outros desajustados que se unem ao nosso grupo? Esses questionamentos compelem nossas ações da abertura ao epílogo do jogo.

Tudo considerado, achei a trama interessante. Mais pela ambientação, talvez, do que pelo conteúdo ou a forma que é apresentada. De fato, algumas partes dos diálogos soam bem estranhas, possivelmente por desencontros na tradução para o inglês, e certos personagens são mais retos que tábua de passar roupa, sem profundidade alguma. Mas, de toda forma, foi suficiente para me manter e até surpreender em alguns momentos.

Mato Anomalies
Gram, um de nossos protagonistas de Mato Anomalies, correndo para cima do perigo. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade se divide entre explorar os lairs, onde a trocação de tapa com os monstros interdimensionais ocorre, e de algumas zonas da cidade de Mato, para buscar por pistas e interagir com outros personagens e afins. Mato Anomalies oferece um combate em turnos, da boa e velha maneira que conhecemos e amamos, sem muito flair ou inovação.

Temos uma barra de vida para o time inteiro, o que é fora da norma, e cada boneco pode agir em seu turno. Temos ataques simples, habilidades normais e ultimates. As segundas precisam de um número específicos de turnos para serem utilizadas novamente, e as últimas de uma barra que enche com o tempo. Não é nada de super interessante, mas atinge o objetivo.

Podemos distribuir pontos na árvore de habilidades de cada personagem, e resetar quando quiser, para deixar seu funcionamento mais de acordo com o que queremos. Além disso, podemos colocar gears, peças em um tabuleiro, para garantir melhorias em atributos e fortalecimento de ações de cada herói ou heroína. Isso é bom, pois além de dar uma camada estratégica ao título também ajuda a por um pouco de tempero na hora do combate.

Também temos um sistema de batalha de cartas em Mato Anomalies. Certos personagens são teimosos e não querem nos ajudar. Por isso, Doe pode utilizar uma luva para invadir a mente deles e forçá-los a fazer o que queremos. Isso se dá através de um sistema de card battle, simples e divertido. Não é nada demais, no entanto. Temos decks variados, um para cada protagonista, com cartas que possuem efeitos de dano, defesa e passivo. Utilizamos isso para poder zerar a vida do oponente e seguir com a vida. Eu achei bem divertido, apesar da simplicidade, e serviu como uma boa quebra na mesmice das tretas.

Mato Anomalies
O sistema de cartas é legal. (Imagem: Divulgação)

Quando não estivermos brigando, estaremos correndo pelos (minúsculos) mapas em busca de quests principais e secundárias. Ou explorando os lairs que, me parece, bebem muito da fonte de Persona. Não há muito além para falar sobre esse aspecto, visto que tudo feito fora do loop que descrevi acima é apenas para poder chegar no ponto que ou precisaremos lutar ou ver a história desenrolar.

Um ponto que me incomodou consideravelmente, seja em dock ou não, é a performance pouco agradável de Mato Anomalies. O FPS variou mais que meu humor em uma segunda feira brava, muitas texturas estavam mais ásperas e serrilhadas que uma lixa e vi uma boa quantidade de bugs de som e visual, ou uma quebra repentina nas animações. Como se faltassem alguns frame.

Ouso dizer que essa falta de polimento geral pode ser um fator considerável para a diminuição do prazer em se jogar o título. Por exemplo, por vezes estava empolgado em um combate e ia utilizar o ultimate do nosso chegado Gram. Via ele fazer toda pompa, a animação para a espadada fatal e… o som bugava, um barulho estranho seguido de um flash de luz acontecia e a vida seguia. E lá ficava eu, decepcionado e magoado. Clássico.

Mato Anomalies
O combate de Mato Anomalies é simples, mas funciona. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Em se tratando de identidade visual, acredito que Mato Anomalies tenha feito muito para se diferenciar. Alguns personagens tem uma cara bem diferenciada e o design da cidade e de alguns lairs são muito bons. Realmente saltam aos olhos. Uma pena, então, que a baixa fidelidade e os diversos problemas com animações estranhas e texturas dificultem apreciar a beleza do que fizeram aqui. Contudo, ainda há o que salvar. O título conta com certas cutscenes no estilo de quadrinhos que ficaram um mimo. Pena que não tenham sido usadas para todos os momentos.

A trilha sonora agrada pela calma, mas não é memorável demais. As vozes são competentes mas, por algum motivo, raramente utilizadas. Muitas partes críticas da trama não possuem dublagem alguma, e acredito que isso machuque um pouco a experiência. Por fim, como citei acima, o excesso de bugs nessa faceta de Mato Anomalies realmente incomoda.

Mato Anomalies
Alguns lairs são bem realizados. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Mato Anomalies?

Bem, queridos leitores e leitoras. É chegada a hora mais difícil desse nosso breve, porem doce, tempo juntos. Será que Mato Anomalies pode ser quantificado em um conceito abstrato que represente o quanto vale a pena gastarmos nosso tempo de vida cada vez mais curto com ele? Oras, mas é óbvio que sim! Vamos lá, o jogo possui boas ideias. A temática neonoir e a história, salvo um deslize aqui e acolá, são suficientes para dar curiosidade de querer saber o que acontece em seguida. O combate, ainda que simples, é divertido e com certo grau de customização. Por fim, curti o sistema de cartas e achei uma boa variação do lugar comum.

Contudo, Mato Anomalies me passou um ar de falta de polimento, tanto por seus problemas de bugs no departamento audiovisual quanto na implementação de suas mecânicas. Isso faz o título parecer raso, por vezes mais do que é, e desanima um pouco na hora da jogatina. Principalmente levando em conta outras opções que encontramos no momento.

Mas, tudo em tudo, me agradei da experiência que tive com Mato Anomalies. Ainda que eu seja parte da demografia que o título mira, fãs de RPG e do estilo neonoir, acredito que há algo aqui que merece ser experimentado. O que vai pesar, no fim das contas, é sua tolerância e vontade de fazer vista grossa para todos os deslizes que citei acima.

Mato Anomalies já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo SwitchPC, via Steam.

*Review elaborada no Nintendo Switch, com código fornecido pela Prime Matter.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 10 Mar 2023.