Certo dia, você se vê recebendo as boas-vindas em Rolling Hills, uma vila pequenina no meio do nada. O prefeito rapidamente pede desculpas se ele te enganou ao passar a imagem de que o lugar era uma metrópole em expansão, mas ele queria ter um restaurante de comida japonesa lá de verdade. E você, como o bom robozinho preparador de sushi que é, aceita trabalhar lá e ajudar a desenvolver o bucólico vilarejo.
Um conceito estranho para um cozy game? Um pouco, talvez. Ainda assim, me vi entretido dentro de longas sessões num jogo que mistura conceitos de Animal Crossing com Overcooked e te coloca no papel de Sushi Bot servindo mesas no horário de trabalho e conhecendo os vizinhos e decorando o restaurante fora dele.
E nesta análise para o Pizza Fria, eu vou te contar um pouco mais sobre Rolling Hills, um jogo casual e aconchegante publicado pela Humble Games e criado pelo estúdio independente Catch & Release, formado por apenas dois irmãos (James e Matthew).
Um lugar chamado Rolling Hills
Em primeiro lugar, desculpe pelo trocadilho. Em seguida, digo logo que Rolling Hills tem um estranho encanto – especialmente se você reconhecer a proposta abraçada por um singelo jogo independente.
Depois da breve introdução que contei no início do texto, o título revela como funciona pouco a pouco. O prefeito Coggie, um senhorzinho com chapéu de pescador, se faz de desentendido e brinca, “Eu disse que Rolling Hills seria uma grande metrópole um dia”. Ele reconhece que todo lugar no mundo precisa ter algo capaz de atrair turistas. Ter um Sushi Bot comandando um restaurante ajuda bastante!
A vila bucólica está incrustada entre montanhas, acessível apenas pelos túneis que levam a estrada. Neste vale há um punhado de casas, além do mercadinho local, uma loja de móveis restaurados e uma cafeteria.
E, claro, seu restaurante tem ótima localização, bem de frente pra pracinha! A cada manhã, Sushi Bot “acorda” dentro do restaurante, cheio de decisões importantes a serem feitas. A primeira é abrir logo o restaurante para servir a clientela.
Sushi Bots sonham com temakerias automatizadas?
Basta dizer que conhecer seus vizinhos é fundamental para que seu negócio funcione bem. No entanto, você é livre para fazer o que quiser a qualquer momento. Assim sendo, vou explicar como o restaurante funciona primeiro.
Perto da cozinha, onde o Sushi Bot acorda todos os dias, está a Sushi-Matic, uma máquina que dispensa automática e aleatoriamente cinco pratos. Tanto a cor quanto o ícone indicam o sabor daquela receita, já o número define sua qualidade.
Seu trabalho durante as horas abertas é combinar essas informações com os pedidos dos clientes, que aparecem em bolhas com as mesmas cores e contendo um número que indica a qualidade. Se você tiver os recursos, vale a pena superar a qualidade – eles levam isso em consideração. Entregue (e acerte) os pedidos enquanto a Sushi-Matic recarrega lentamente para ser acionada e preparar outros cinco pratos. E assim, numas três ondas que juntas duram cerca de cinco minutos, pessoas assustadoramente famintas por makimonos frequentarão o estabelecimento do robô. O retorno? Pagamento em moedinhas de ouro e experiência para elevar o nível do negócio.
O dia seguinte sempre é mais confortável com o bolso mais cheio de suado dinheirinho, e agora você pode gastar como quiser nas lojas locais. A primeira parada é no mercadinho de Arman, que recebe cortes de peixe, frutos do mar e hortaliças todos os dias. Os ingredientes são essenciais para incrementar a qualidade das receitas de sushis, sashimis, niguiris, mochis e tudo mais que nossa temakeria servir.
Para usá-los, basta pausar o game e buscar a opção “Ingredientes” no submenu. A melhora é permanente e, se você tiver sorte, alguns ingredientes chegam com um efeito brilhante colorido: estes aplicam mais pontos de qualidade que o normal. Por falar no menu, este é o lugar para conferir o nível das amizades, o que são e fazem as receitas – assim como os ingredientes –, e trocar os chapéus colecionáveis do simpático robô.
Como a apresentação é bem leve e aconchegante, de acordo com a proposta de Rolling Hills, o prefeito nos leva de comércio a comércio com o passar dos dias – tudo para não saturar o jogador de informação.
Uma das próximas paradas é a loja de Wren, a filha mais velha do prefeito e a responsável por restaurar os móveis e vendê-los. Com seus objetos, você terá opções para decorar o salão. O legal é o fato dos móveis terem características peculiares, como “rentável”, “energético” e “relaxante” por exemplo – a primeira qualidade aumenta o lucro, a segunda acelera a recarga da Sushi-Matic, e a última torna os clientes mais pacientes na espera pelos pratos.
Por fim, resta conhecer Maia, a caçula de Coggie, uma neurocientista que desistiu da vida na cidade para voltar para Rolling Hills e abrir um café, um ótimo lugar para fazer amigos. Aqui, você faz seu pedido no balcão para convidar um residente e cultivar amizades. Todos os dias, o Sushi Bot pode convidar alguém para um café barato, uma sobremesa mais elaborada ou um banquetão – lembre-se que o custo é relativo aos pontos de amizade concedidos.
Conhecer todos será mesmo necessário. Quanto maiores os laços, mais seus amigos colaborarão com habilidades especiais, como Arman, que passa a trazer mais ingredientes com qualidade superior.
Ciclo de jogabilidade
Então, todos os dias merecem uma volta pela fofa vila, sem limite de tempo nem correria, passar no mercado, no café, quem sabe comprar um móvel. Pelo caminho, às vezes, uma caixa embrulhada como presente aparece e várias latinhas para recolher e colocar no lixo que serão convertidas em dinheiro.
Entretanto, mais tarde, ao abrir as portas do restaurante, o serviço se transforma em gerenciamento de tempo corrido e, muitas vezes, dependente de sorte. O progresso do jogo traz novas atribuições em cena, tais quais acordar gente que dorme à mesa com sua buzina, limpar mesas sujas e principalmente evitar que clientes atendam o celular (gerando desconforto) ao servi-los o quanto antes. E, claro, em algum momento o espaço cresce, abrigando mais mesas e decoração.
Os controles são suficientemente responsivos e simples, copiando suas referências. O Sushi Bot pega os pratos e entrega os pedidos com o mesmo botão, além de contar com uma corridinha temporária. Para falar com outros habitantes e aplicar condimentos sobre as receitas, também um só comando. No geral, a parte mais obscura é ter que acessar o menu de pausa para resgatar receitas adicionais dadas como brindes das conquistas e para rastrear o progresso das várias tarefas, como amizade.
E acredite: há uma delicada história de conservação ambiental que traz seres fantásticos como habitantes. Ao longo dos dias, desafios escondidos pela vila e uma vendedora itinerante de receitas aparecerão. A “campanha” dura algo menos de nove horas, mas a vontade de continuar ressurgiu algumas vezes, não nego, porém uma vez terminado, há pouco incentivo para voltar, especialmente por se tratar de um jogo para um único jogador.
Visuais e sons
O simpático robô cúbico é estilizado em harmonia com os cenários: texturas chapadas, saturadas de forma quase cartunesca, sobre modelos arredondados que passam a impressão de maciez, de um lugar calmo. Isso cria, sem dúvida, aquele conforto de um jogo indie executado com esmero que soube mirar no objetivo.
A estranheza fica por conta dos personagens “humanoides” com suas proporções esquisitas, que mais parecem ter saído de um jogo feito para cantos ocultos de redes sociais. O que aconteceu aqui? Isso realmente quebra um pouco a imersão graciosa a que o game se propõe. Ainda bem que os diálogos fazem o jogador se sentir bem-recebido e devolvem carisma aos avatares.
E, de verdade, contrastam com o restante que Rolling Hills apresenta. Por exemplo, fica evidente que muito carinho foi colocado na arquitetura das cabanas de madeira, no lago, nas bicicletas encostadas e até nos postes e fios de eletricidade que correm pelo vilarejo – ainda que falte interatividade com muitos dos objetos.
A produção sonora é gostosa, com ritmos que grudam na cabeça depois de desligar o game, além dos barulhos fofos do robô. (A animação para aprendizado de uma nova receita, fazendo malabares com facas, não falhou em me arrancar um riso). Dentro do orçamento, cumpre seu papel direitinho e sem distrações.
Vale a pena comprar Rolling Hills?
Para um game casual e de seu tamanho, Rolling Hills acerta na ambientação. O verde da vegetação e o azul do rio e do mar garantem a vontade de passar mais tempo do que o necessário jogando, mas as atividades na cozinha acabam ficando repetitivas e falham em promover o retorno após a campanha. Assim como seu reduzido e algo bizarro elenco.
Ainda assim, a obra é divertida sem saturar enquanto trabalhamos para conquistar nosso lugar ao sol nesta aconchegante vila, uma distração mais do que merecida que vai espantar qualquer nível de estresse do mundo real – mesmo durante o horário de pico no restaurante.
É uma pena que o jogo não tenha um modo cooperativo, já que eu conseguia ver como seria legal logo na primeira hora. Também é uma pena que não esteja traduzido ao português do Brasil, quem sabe numa atualização? Caso você seja fã de cozy games e o preço próximo aos 50 reais soe alto, espere uma promoção: meu tempo como um robozinho cozinheiro em Rolling Hills ficou registrado por um merecido detox de mundo real que outros jogos não conseguiam oferecer. Fiz tudo ao meu tempo.
Rolling Hills está disponível para PC tanto pela Steam quanto pela Microsoft Store, versão esta que conta com o recurso Play Anywhere para ser jogada também em consoles Xbox Series X|S e Xbox One. Rolling Hills está ainda no Xbox Game Pass desde seu lançamento.
*Review elaborada em um PC equipado com GeForce RTX, com código fornecido pela Humble Games.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Carlos Maestre, Pizza Fria
Atualizado em 22 Jun 2024.