Senua’s Saga: Hellblade II é a aguardada sequência de Hellblade: Senua’s Sacrifice, lançado em 2017, originalmente para PlayStation 4 e PC, pela Ninja Theory. O sucesso do jogo foi razoável para a época, levando prêmios importantes, e o estúdio acabou adquirido pela Xbox no ano seguinte, “mudando de lado”. Agora, sete anos depois, chega sua sequência, que foi anunciada em 2019, junto com a revelação do Xbox Series X.
A questão é que, de lá pra cá, pouco foi divulgado sobre Senua’s Saga: Hellblade II. Além do trailer de lançamento, disponível abaixo, o game ganhou alguns outros vídeos no passado, e um especial no começo deste ano, que também trouxe alguns detalhes sobre o game, mas o cerne do jogo ainda permanecia um mistério. E você quer saber o que eu achei sobre o título? Vem comigo em mais uma review antecipada, e sem spoilers, do Pizza Fria!
“Se você acorda o sonhador, o pesadelo acaba?”
Senua’s Saga: Hellblade II nos coloca novamente no papel de Senua, após os eventos do primeiro jogo. Para quem não lembra – ou não jogou – há uma boa introdução dos eventos passados (também disponível aqui), fornecendo um background valioso aos jogadores antes de iniciarem a nova aventura
Após “aceitar” sua maldição, a protagonista decide deixar ser capturada em um navio escravagista para ajudar seu povo, que vinha sendo sequestrado por invasores e levados para uma terra distante. Acontece que nem tudo são flores, e um acidente em alto-mar deixa Senua à deriva em uma terra desconhecida.
A partir daí, nossa protagonista precisa sobreviver e fazer alianças. Uma das principais novidades de Senua’s Saga: Hellblade II é que não é uma jornada solo, como o primeiro jogo, e sim, temos outros personagens para interagir com nossa guerreira. A história vai para um ponto onde Senua faz alianças com alguns personagens, e se mostra muito maior e mais complexa do que eu imaginava quando abri o aplicativo pela primeira vez.
Considero o desenvolvimento e o plot da história bem mais interessante do que o do primeiro game, mas tenho minhas criticas na forma como Senua’s Saga: Hellblade II conduz o rumo das coisas, em especial algumas escolhas de gameplay, que são parte fundamental do título, que em muitos momentos lembra um simulador de caminhada – ou um belíssimo filme interativo.
Cadê o botão que estava aqui?
Senua’s Saga: Hellblade II é um título totalmente focado na imersão do jogador. Isso se deve, principalmente, ao fato de não haver nenhuma interface do usuário no jogo. Não há nenhuma sinalização, em momento algum, para o jogador apertar determinado botão ou seguir a orientação de um mini-mapa. Nada. O game oferece uma experiência imersiva, e eu acho que casa totalmente com a proposta narrativa que nos é apresentada.
Assim como no título inaugural da franquia, Senua’s Saga: Hellblade II conta com as vozes falando (praticamente sem parar) na cabeça de Senua – e na nossa. Essas vozes são um guia para os jogadores, nos dizendo o que fazer em seguida, qual direção tomar, como superar os combates e afins. Dito isso, é recomendadíssimo experimentar o game com fones de ouvido. E se você compreende bem a língua inglês, a experiência fica ainda melhor.
O problema é que essas vozes também são extremamente cansativas para o jogador. Entendo, claro, que esse foi o plot que consagrou a franquia no primeiro título, e trazer um olhar real de doenças mentais, em especial a psicose e a esquizofrenia, para o universo dos games foi uma forma interessante de contar a primeira história.
Meu ponto é que, mesmo sendo uma obra curta – a depender da habilidade do jogador e do nível de dificuldade, não levará 10 horas para terminar a história – eu não suportei longas sessões justamente porque ficava mentalmente exausto após a primeira hora de jogo. O fato de ter duas personalidades distintas conversando entre si o tempo todo foi desgastante pra mim, e precisei dosar e dividir o gameplay em mais sessões do que o usual para um jogo desse patamar.
Um gameplay… morno?!
Falando especificamente sobre os elementos de jogabilidade de Senua’s Saga: Hellblade II, essa é uma das partes em que eu mais sinto o potencial desperdiçado pelo game. Isso porque os devs da Ninja Theory pegaram a fórmula já aplicada no game anterior e a replicaram aqui, com um ajuste ou outro, mas mantendo a ideia central. Vamos começar falando das coisas boas: não há mais aquela podridão crescendo pelos membros de Senua, ou seja, você poderá morrer e tentar novamente quantas vezes achar necessário, sem a chance de uma tela de Game Over surgir do nada.
O combate do jogo é um deleite e, sem dúvidas, é o ponto alto do gameplay de Senua’s Saga: Hellblade II. Todas as batalhas são incrivelmente satisfatórias, pois é uma “trocação franca” entre Senua e seu adversário da vez. Esquiva, ataque forte, ataque rápido e defesa são as habilidades básicas, e assim como no primeiro título, acumular ações certeiras carrega um “especial”, que dá mais dano nos inimigos.
Mesmo o combate sendo muito bem executado, eu senti falta de algumas coisas. A primeira delas é que enfrentamos apenas um adversário por vez. Por mais que as transições cinematográficas das batalhas deem a impressão de que estamos lutando simultaneamente com mais de um oponente, na prática, toda batalha é individual.
A segunda, e outra, que chama muita atenção no jogo, é que há apenas duas batalhas contra chefes, uma no começo e outra no fim. Por mais que um combate ou outro dure mais, não há a sensação de estar em uma luta contra um chefão (e houve algumas oportunidades para isso ser executado). Embora cada grupo de adversários tenha movimentos similares, o combate segue um padrão, e uma vez dominado, fica bem tranquilo de ser entendido.
Outro ponto que chama atenção em Senua’s Saga: Hellblade II é a sua movimentação pelo cenário. Como disse acima, o game lembra um simulador de caminhada ou um filme interativo, pois passaremos boa parte do tempo com o controle na mão andando para frente e resolvendo quebra-cabeças ambientais. Com a ausência de uma interface, por vezes até questionamos se realmente precisamos mover a personagem (a resposta é sim, na maioria dos casos) ou se ela andará sozinha, estando em uma cutscene.
Além disso, falando em cenas cinematográficas, Senua’s Saga: Hellblade II faz muito uso de cortes em plano sequência, o que outros desenvolvedores já revelaram ser uma técnica que auxilia a carregar o cenário em segundo plano para manter uma fluidez maior do game. Muito disso acontece porque temos alguns trechos interativos e muitos puzzles, de diferentes formatos, e que tomam muito tempo do jogador (mais pela quantidade do que pela dificuldade). Parecem artifícios que estão ali apenas para aumentar o tempo de gameplay.
Um audiovisual estonteante
Por outro lado, aqui não há discussão: pra mim, Senua’s Saga: Hellblade II apresenta os visuais mais bonitos da geração até aqui. O game é incrivelmente bem detalhado, e só nos resta bater palmas para o trabalho feito pela Ninja Theory. Desde a captura de movimentos até o detalhamento do cenário, do movimento dos cabelos às ondas do mar: tudo é incrível! Assim como o estúdio fez em 2017, o novo game estabelece um altíssimo padrão de qualidade gráfica. E o desempenho também é bem satisfatório. Ao menos na RTX 2080 em Full HD, tive taxas de quadros próximas dos 60 FPS em quase todo o jogo, com as configurações no máximo.
E soma-se a essa qualidade o design de áudio, que também rende elogios à forma como a obra funciona. Como disse acima, me senti angustiado ao jogar – usando fones – porque a divisão das personalidades de Senua, cada hora conversando em um ouvido, é algo surreal. A imersão é enorme e, como disse, chega a incomodar. Mas o objetivo era esse, e isso foi cumprido com maestria pelos devs. A trilha sonora também brilha e tem seus momentos épicos reservados.
Vale a pena comprar Senua’s Saga: Hellblade II?
Avaliar se Senua’s Saga: Hellblade II vale ou não o seu investimento depende muito do seu perfil como jogador. Se você aprecia uma boa história, o jogo é recomendado para você. Se você aprecia bons gráficos, idem. No entanto, há uma clara sensação de que o game poderia ser mais do que entrega. Com uma mecânica de combate tão satisfatória, fica uma impressão de que poderia oferecer mais. Os combates serem limitados a apenas um adversário por vez, o excesso de puzzles e o fato de ser um simulador de caminhada em alguns momentos, andando por longos trechos apenas apreciando os visuais e ouvindo a narrativa, podem ser frustrantes.
Mas não posso negar que, apesar dos pesares e das jogatinas mais curtas devido ao meu incômodo constante com as personalidades da protagonista, eu gostei do meu tempo com Senua’s Saga: Hellblade II. O game cumpriu aquilo que prometeu, com um combate brutal e visceral e uma imersão cinematográfica que eu ainda não tinha experimentado nos videogames. Seus pontos negativos existem e devem ser considerados, claro, mas não ofuscam o lado positivo do game.
Senua’s Saga: Hellblade II chega nesta terça-feira, 21 de maio, para Xbox Series X|S, Windows 10/11 e PC, via Steam. O título também está disponível, sem custo adicional, para assinantes Game Pass desde o lançamento.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela Microsoft/Xbox.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Lucas Soares, Pizza Fria
Atualizado em 21 Mai 2024.