Guia da Semana

Silent Hope é um RPG de ação, misturado com um pouco de hack and slash e um pitadinha de fofura, desenvolvido pela Marvelous Inc. e distribuído pela XSEED Games juntamente da Marvelous USA, Inc. e Marvelous. O título nos coloca no controle de um grupo de aventureiros que possuem a agradável missão de desbravar as profundezas de um abismo profundo a fim de dar um pé no traseiro de um rei malvadão.

E aí, será que vale a pena encarar essa treta? É o que saberemos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!

Palavrinhas e palavrões

Parando para pensar, leitores e leitoras, não há nada mais corriqueiro na vida do brasileiro e brasileira médio do que um bom dedinho de prosa. Falar sobre futebol, xingar técnicos, compartilhar receitinhas ou fazer o bom e velho comentário sobre como o tempo está maluco, não é mesmo? Ou, melhor ainda, uma fofoquinha de leve para temperar os dias mais mundanos pelos quais todos passamos. A coisa boa, afinal.

De fato, como mostrava também o velho conto da torre de Babel, tomar o poder de se comunicar de um ser humano, seja pelo roubo da capacidade de fala ou por questões idiomáticas, é uma maneira certeira de fadar nossa gente a uma existência bem mais miserável. Mais ainda se vivêssemos em uma sociedade sem as maravilhas da internet e das mensagens instantâneas, por exemplo.

Comecei nosso particular de hoje dessa maneira pelo fato de nosso jogo de hoje, Silent Hope, trazer o roubo das palavras, ou da capacidade de se comunicar, como parte central do conflito que gerou toda a confusão que nossos heróis precisam lidar. E de que pensei que, de fato, algo que muitos de nós tem como natural, e digno de pouca nota, pode ser pensado, até, como um dos pilares de nossas civilizações. Mas deixemos as viagens de lado e nos foquemos no que realmente interessa, que tal?

Silent Hope
A princesa que nos conta uma história. (Imagem: Divulgação)

A trama de Silent Hope lembra muito um conto de fadas, e é mais ou menos assim: era uma vez um belo reino, cheio de gente feliz, alegria, doces e filhotes bonitinhos. Contudo, isso mudou após o lugar ser devastado por uma série de calamidades naturais. O povo, desesperado, começou a se trair e maltratar até o local ficar em ruínas, se tornando apenas uma sombra de outrora.

O rei, extremamente bolado com o acontecido, resolveu lançar uma magia para roubar as palavras de todos no reino, para que não pudessem mais se organizar e maquinar uns com os outros. Aparentemente, ninguém do lugar sabia fazer mímicas ou jogar aqueles joguinhos de desenhar e adivinhar. Após fazer isso, ele deu a louca e se atirou dentro do abismo. Sua filha, a princesa, chorou e chorou por décadas, até ficar envolta por uma grande lágrima de cristal.

Muito tempo depois, sete luzes saíram do abismo e apareceram para a princesa na forma de sete heróis prontos para dar um jeito nessa confusão. É aí que entramos, controlando um desses ou dessas enquanto exploramos as profundezas para ajudar a princesa em sua busca por seu pai, para entender o motivo dele fazer isso e como podemos reverter a situação.

Eu curti muito a premissa de Silent Hope, e os pedacinhos de trama que vamos descobrindo ao ouvir a princesa falar. Realmente, parece que ela está nos lendo um livro de contos de fadas enquanto trocamos tapas com os seres do abismo. Uma pena, achei, que os sete heróis não possuam nada além de uma aparência. Eles funcionam mais como classes para usarmos, sem apresentar personalidade marcante.

Silent Hope
A galerinha da pesada. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Silent Hope pode ser dividida em dois grandes momentos, a preparação para a exploração do abismo e a aventura propriamente dita. As duas se completam bem, e explorar essas mecânicas é essencial para poder alcançar o rei que se encontra no fundo do poço. Bom, comecemos pela primeira e tudo que ela envolve.

A preparação antes de pular para dentro do abismo consiste em mandar os heróis que não controlamos gerarem alguns recursos, baseados em materiais que encontramos durante nossas expedições, e construir equipamentos através do uso de memories. Elas funcionam como receitas que podem ser utilizadas uma única vez, gerando armas parecidas com efeitos secundários diferentes.

Por exemplo, podemos utilizar minérios encontrados para gerar metais, sementes para colher frutas que são usadas no preparo de pratos que nos dão buffs, e daí em, diante. Essa parte de Silent Hope é bem divertida, mesmo sendo mais gerencial, e a quantidade de equipamentos e acessórios que podemos fazer dão uma amplitude bem interessante para customizarmos nossos personagens, favorecendo as habilidades que gostamos mais.

Além disso, a princesa também nos passa algumas missões relacionadas a métricas que atingimos, como criar x itens ou matar y monstros, que ao serem atingidas nos recompensam com runas e itens. Essas runas são utilizadas para tudo, desde mandar gerar recursos até construir itens e cozinhar pratos. No geral, Silent Hope acerta bem nessa parte, oferecendo uma mecânica útil e divertida, mas que não come muito de nosso tempo de jogo.

Silent Hope
Girar girar, mexer mexer. (Imagem: Divulgação)

O lado B de Silent Hope acontece quando caímos de cara no abismo, desbravando seus mapas e enfrentando seus perigos. O jogo possui uma visão isométrica, meio de cima e de lado, e funciona bem como um hack and slash da vida. Andamos pelos andares rodando o braço na cara da geral, cumprindo missões especiais para ganhar mais experiência aqui e ali e coletando recursos. Além de enfrentar os chefes, claro.

Essa parte das tretas é bem redondinha, em muito graças ao fato de termos 7 heróis com classes e estilos de jogo bem diferentes. Contando que cada um deles possui 3 variações com habilidades e atributos diferentes, podemos ter 21 opções de escolha. Isso me agradou bastante. Ainda que a divisão seja feita entre heróis de dano de perto ou longe, o tipo de armas e habilidades torna os estilos de jogo bem únicos.

Por exemplo, temos a fazendeira que utiliza habilidades doidas e aleatórias, confundindo os inimigos e contando com a sorte para se fortalecer. Do mesmo lado, temos a guerreira com porradas pesadas e lentas, mas de um alcance bem legal. Ou o mago, que foca em dano de área ao contrário do arqueiro, que bate melhor em inimigos juntos ou apenas um.

Silent Hope, aliás, no incentiva a upar e testar todos eles. Podemos trocar de personagem enquanto jogamos, e cada um que sai de nosso controle fortalece o próximo que chega. Levando em conta que estamos sempre descendo os andares, e temos apenas duas poções de cura, mudar de herói é sempre bem vindo. Por fim, eu gostei bastante dessa parte do jogo, mesmo com a chance de que ficar sempre andando e descendo andares até o chefe possa ter o risco de se tornar entediante. Contudo, isso é inerente ao estilo que o jogo se enquadra.

Silent Hope
O arqueiro é um herói muito poderoso em Silent Hope. (Imagem: Divulgação)

Sons e visuais em Silent Hope

Silent Hope possui um visual muito bonitinho, com modelos bem fofos e cenários com cores bem vivas. Tanto os inimigos quanto os cenários ajudam a construir aquele sentimento de estarmos acompanhando um conto de fadas, o que me agradou bastante. Além disso, os heróis possuem visuais bem distintos e suas classes alternativas tem visuais bem legais. Um ponto negativo, normal em jogos do estilo, é que há uma grande repetição nos cenários e inimigos dos andares.

A parte sonora é competente, ainda que não possua nenhuma trilha que realmente me pegue a memória ou que eu vá carregar em meu coração. Tipo ocorreu com Fading Afternoon, por exemplo. Contudo, a dublagem da princesa ficou bem legal, bem como o jeito que ela conta o que aconteceu com o reino e a loucura que acometeu o pai.

Silent Hope
Nosso aventureiro. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Silent Hope?

E lá vamos nós, mais uma vez, para o momento mais temido desse cyberlugar. A hora de dar a esse videojogo um número frio para representar o conceito abstrato do gostar. Bom, senão vejamos. Vamos tentar recapitular tudo o que falamos até agora para entender se esse abismo é digno de pular de cabeça, ou se o jogo deve ser jogado nele e esquecido.

Pelo lado positivo, achei Silent Hope um jogo bem fofo e com uma premissa legal, que não costumamos ver sempre na praça, unido a um jeitão de conto de fadas. O combate me divertiu bastante, muito por conta das várias classes e habilidades, e toda fase de preparação antes de pular no abismo também me agradou. Bem relaxante e de boas, como dizem. O negativo fica por conta dos personagens serem apenas arquétipos, sem muita caracterização, e do jogo ser um pouco repetitivo com cenários e na jogabilidade, se ficarmos muito tempo direto. E faltou uma legenda brazuca, infelizmente.

Mas, dito isto, eu curti meu tempo com Silent Hope, principalmente enquanto upava meus heróis e ia realizando as incursões cada vez mais cabulosas contra os monstros do rei. Inclusive, eu diria que ele pode ser uma boa porta de entrada para quem não conhece esse gênero hack and slash/dungeon crawler ver mais do que se trata essa parada. E, claro, se você já for um apreciador também pode dar uma chance ao título, porque vale a pena.

Silent Hope será lançado no dia 3 de outubro para Nintendo Switch e PC, via Steam.

*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela XSEED Games.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 27 Set 2023.